O Estado português precisa de um Diretor de Marketing

  • Daniel Sá
  • 4 Setembro 2023

Estou longe de sugerir um malabarista para disfarçar as constantes trapalhadas governativas ou um maquilhador para deixar governantes com bom ar na fotografia. O marketing não tem nada a ver com isso.

Não me refiro especificamente ao atual governo. Nem ao anterior. Nem ao próximo. Refiro-me a todos eles. Os do passado e os do futuro. Em boa verdade, o Estado português não precisa apenas de um Diretor de Marketing. Precisa de uma equipa inteira de marketing. Em full-time. Para ajudar a colocar este país nos eixos de uma vez por todas. Já desperdiçamos décadas. Quase tantas como as que levam a tomar uma decisão sobre um aeroporto.

Para aqueles menos conhecedores da atividade de marketing, estou muito longe de sugerir um malabarista para disfarçar as consecutivas trapalhadas governativas ou um maquilhador para deixar governantes com bom ar na fotografia. O marketing não tem nada a ver com isso. Portugal precisa urgentemente de um plano a longo prazo, que defina o rumo do país, independentemente de quem são os seus governantes. Utópico? Espero bem que não. Caso contrário, sabemos bem o que nos espera.

Um país é um projeto demasiado sério para ser deixado na mão de três dezenas de governantes, 230 deputados e mais um punhado de dirigentes de qualidade duvidosa de esquerda ou de direita. Ah. E de um Presidente da República. Estes quase 50 anos de democracia provaram de forma clara que poucos conseguiram governar o país com uma visão de longo prazo. A política e a democracia em Portugal, e também na Europa, fazem-se cada vez mais numa lógica de curto prazo. Muitas vezes, instantânea até.

Essencialmente estes 50 anos de democracia foram governados maioritariamente por socialistas e sociais-democratas. Os primeiros anos caóticos, mas com sabor a liberdade, o festim e a abundância dos fundos europeus, as diferentes crises económicas e um belo PRR recente para degustar e partilhar com os amigos foram alguns dos marcos deste meio século.

Portugal de hoje é incomparavelmente superior em todas as dimensões ao de 1974? Sem dúvida. Em todas as dimensões. De forma avassaladora. Nem precisamos de estatísticas para o provar. No entanto, acho que Portugal desperdiçou 50 anos em posicionar-se num exigente contexto competitivo europeu e mundial. Somos hoje uma mistura de projetos, mas sem um fio condutor que nos permita ser devidamente atrativos do ponto de vista internacional.

Em cima das clássicas indústrias da cortiça, agricultura, pesca, vinho, calçado e têxtil, somaram-se ao longo dos anos pinceladas nos componentes automóveis, start-ups, indústria ou serviços, entre muitas outras. A maior parte dos sucessos a surgirem como resultado e mérito de empresários arrojados e colaboradores competentes e não de uma visão estratégica e agregadora do estado português.

Olhando para programas de governo ou programas eleitorais vemos, ao longo de todos estes anos, mensagens banais como “melhor saúde, melhor educação, apoio às empresas, blá, blá, blá” e praticamente nada sobre a visão a longo prazo para o país. Em que nos destacamos? Onde somo bons? Qual o nosso projeto de país? Em que áreas nos diferenciamos dos outros países?

Precisamos definitivamente de uma nova geração de governantes. Daqueles que não percebem nada de política.

  • Daniel Sá
  • Diretor executivo do IPAM

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