Os media na base do sistema democrático

  • Carlos Furtado
  • 21 Abril 2025

Nesta era digital, a sobrevivência e florescimento dos meios de comunicação tradicionais, offline ou online, deve ser uma prioridade para todos nós que valorizamos uma sociedade informada e justa.

Numa era onde as notícias são consumidas ao ritmo de cliques e a informação é tantas vezes distorcida por interesses não jornalísticos, nunca foi tão crucial sustentar os meios de comunicação tradicionais. À medida que as vendas em papel caem e as receitas publicitárias migram para os influenciadores digitais, os meios de comunicação continuam a luta pela sobrevivência, adaptando o modelo de negócio. Como cidadão defendo fervorosamente que sem meios de comunicação fortes e independentes, a estrutura de qualquer democracia fica comprometida e neste caso concreto a nossa, o que me preocupa e muito.

Citando Thomas Jefferson: “Se me fosse permitido decidir se devemos ter um Governo sem jornais ou jornais sem um Governo, não hesitaria um momento em preferir a última opção.”

A crise no jornalismo é por todos comentada. Por uns, com verdadeira tristeza e por outros com regozijo, pois acusam a comunicação social de ser a mãe de todos os males. A verdade é que as tiragens baixam e as assinaturas online nem sempre conseguem compensar as perdas de leitores. No entanto, os jornais e revistas sempre foram mais do que simples veículos de notícias; são instituições que promovem a investigação e a verificação de factos, essenciais ao debate informado e ao escrutínio público.

Por outro lado, as redes sociais, apesar de serem plataformas de comunicação instantânea e acessível a todos e a todo o momento, tornaram-se também os maiores veículos de desinformação. As fake news propagam-se a uma velocidade alarmante, sem qualquer controle editorial, prejudicando o discurso público e minando a confiança nas instituições.

Deliberadamente o X e o Facebook terminaram o sistema de fact-cheking agravando a possibilidade de serem verificadas as informações que por lá são partilhadas.

Este cenário é agravado pela também migração das verbas publicitárias dos meios tradicionais para as redes sociais. Muitas marcas optam por investir em influenciadores digitais, na busca por resultados imediatos em termos de visibilidade e envolvimento, o que na minha opinião é um erro estratégico que a médio prazo se vai revelar.

Como profissional de comunicação, pertencendo eu ao ecossistema através da agência de comunicação de que sou sócio e com mais de 30 anos de trabalho na área, tenho a responsabilidade de incentivar a um investimento mais consciente. Prática recorrente no aconselhamento aos meus clientes. A publicidade nos meios tradicionais apoia uma infraestrutura jornalística que é vital para a manutenção da transparência e da accountability na sociedade.

Nesse contexto, são bem-vindas as propostas do governo para apoiar a comunicação social, especialmente iniciativas como o “cheque assinatura” para jovens, uma ideia que sempre defendi. Cria hábitos de leitura e apoia os meios dando liberdade na escolha. Outra boa medida é o apoio aos media setoriais e regionais para a contratação de jornalistas. E por falar em media regional ou local, tantas e tantas vezes esquecida, é de saudar a coragem do Presidente da Câmara Municipal do Porto que, numa iniciativa do jornal ECO, que defendeu a possibilidade legal das autarquias poderem participar no capital social das empresas de media, à semelhança do que acontece com o Estado central.

Os meios de comunicação tradicionais são os bastiões da democracia. Eles desempenham um papel crucial na educação da sociedade, oferecendo uma análise aprofundada e multifacetada que as plataformas de media social simplesmente não conseguem proporcionar. É por isso que, mesmo nesta era digital, a sobrevivência e o florescimento dos meios de comunicação tradicionais, seja em formato offline ou online, deve ser uma prioridade para todos nós que valorizamos uma sociedade informada e justa.

Reforço a ideia de que a liberdade de imprensa e um jornalismo independente são fundamentais para qualquer democracia. Como sociedade, devemos reconhecer e agir sobre a necessidade de investir em meios que fortalecem a nossa capacidade de estar bem informados, em vez de nos rendermos ao ciclo vicioso de cliques e visualizações que muitas vezes desinforma mais do que esclarece. Deixava por isso um alerta a quem tem a capacidade de decidir investimento: façam-no a pensar no futuro. E não na disputa pelo click fácil.

  • Carlos Furtado
  • Co-CEO Porto de Ideias

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