Depois de se saber que PS e PSD estão empatados no Porto, fomos aos bastidores das campanhas. “No domingo não falhe”, apela Pizarro. Pedro Duarte defende que “a verdadeira sondagem é no dia 12”.
“Vota no Porto? Então no domingo não falhe”, apela Manuel Pizarro, candidato do PS à Câmara, enquanto distribui panfletos e “uma esferográfica para ajudar a votar melhor” durante uma arruada pelo quarteirão do mercado do Bolhão. Pedro Duarte (PSD/CDS/IL) invoca o “voto útil” na turística Rua das Flores, onde se cruzou com mais turistas do que portuenses e cumprimentou os comerciantes para mostrar que é um filho do Porto e conhece bem a cidade. O contra-ataque à acusação dos seus oponentes.
Esta é uma luta taco-a-taco e vai definir-se, conforme mostra a sondagem da Pitagórica que o ECO publicou nesta terça-feira, em photo-finish.
Na reta final da campanha fomos acompanhar os dois candidatos nos bastidores e nas operações de charme ao eleitorado na rua. Não há tempo a perder.
Entre trocas de beijos, cumprimentos de mão e abraços, com sorrisos rasgados, e distribuição de canetas e panfletos na rua, Manuel Pizarro e Pedro Duarte redobram-se em esforços para convencerem os portuenses. A sondagem da Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, ECO, TSF, JN e Sol não os pode deixar descansados: a coligação de direita e o PS tocam-se, com uma décima de diferença nas intenções de voto.
É o tudo por tudo para recuperar uma Câmara em que Rui Moreira nunca deu oportunidade aos adversários. Há quatro anos nem PS nem PSD passaram dos 18% dos votos, a anos luz dos 56% da última vitória socialista, em 1997, e dos 47% da reeleição de Rui Rio em 2009. A queimarem os últimos cartuchos, as trocas de galhardetes entre Pizarro e Duarte sobem de tom.
Se o socialista não se cansa de afirmar que “há um candidato que tem os dois pés no Porto [ele próprio] e outro que aspira representar o Governo no Porto”, aludindo ao ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, este último assegura que é da terra. “É uma cidade que conheço como as palmas das minhas mãos”, afiança ao ECO/Local Online na sede de campanha, na Avenida dos Aliados. Logo a seguir chegaria Mariana Leitão, líder dos liberais, para uma breve reunião, após a qual se seguiu em comitiva em direção à turística Rua das Flores.
Pedro Duarte vai dizendo sentir uma crescente adesão de apoiantes nas ruas, o que é “animador”, mas não gosta de “vitórias antecipadas”, nem sequer de “euforias”. Até porque, ressalva com alguma precaução, “a verdadeira sondagem é no dia 12”. Não deixa, adicionalmente, de apelar ao “voto útil”.
A sondagem das ruas
Pedro Duarte, em conversa com o ECO/Local Online, deixa um alerta ao eleitorado: “Qualquer voto em partidos como o Chega e candidaturas independentes são votos que estão a contribuir para eleger Manuel Pizarro como presidente da Câmara”.
Mais, insiste: “Os portuenses correm o risco de acordarem na segunda-feira com um presidente de câmara socialista; um regresso ao velho PS que tão má memória trouxe à cidade do Porto, de dívidas acumuladas”.

Pedro Duarte não perde pela resposta, no penúltimo dia de campanha. “Vamos acordar com uma Câmara «À Moda do Porto» [o lema da candidatura socialista] “, respondia à letra Manuel Pizarro, enquanto bebia um café e reconfortava o estômago com um pão com manteiga. Estamos no histórico café Guarany, na Avenida dos Aliados, onde nos encontrámos antes de seguir para a arruada.
Já depois, à porta do Mercado do Bolhão, o “senhor doutor” – como os portuenses se iam dirigindo ao antigo ministro da Saúde –, juntava-se à comitiva para ser engolido pelos apoiantes com beijos e apertos de mão. Foi aqui que recebeu o líder do PS, José Luís Carneiro, um seu “eleitor” – até porque é natural do Porto – que veio manifestar o apoio do partido, atestando que “o PS inteirinho” está com a sua candidatura, notou Pizarro já na arruada. Ali, era “atropelado” por um banho de apoiantes com camisolas brancas com o slogan da campanha, a hastear bandeiras e a entoar frases como “Pizarro amigo, o Porto está contigo”.
Antes, ainda sentado à mesa do café, contava-nos, entusiasmado, numa indireta ao seu opositor Pedro Duarte: “Sou tratado no Porto com um carinho que às vezes quase me comove. As pessoas sabem que sou de cá, que uma enorme fatia da minha vida pública e política é a defender a nossa cidade”.
Aliás, notava: “Há portuenses de ocasião. Não sou um portuense de ocasião”; para logo de seguida, já na Rua de Santa Catarina, ser abordado por um apoiante: “Senhor doutor, desta vez é para ganhar”. Já é a terceira vez que o socialista entra na corrida. O PS já leva 24 anos longe do poder nos Paços do Concelho, enquanto os social-democratas somam os 12 anos em que Rui Moreira governou.
Já depois junto da comitiva, nem Vitorino Silva, popularmente conhecido como “Tino de Rans”, faltou. “Venho apoiar o Pizarro. O povo do Porto gosta muito dele”, atira o político e calceteiro que depois das autárquicas vai anunciar a sua candidatura a Presidente da República. “Só anuncio depois das eleições porque não quero tirar protagonismo aos candidatos”, segreda-nos, voltando para junto da comitiva.
Esta sondagem só demonstra que há duas pessoas com condições de aspirar vencer as eleições; e diria que há um potencial vencedor mais forte que sou eu.
Confiante na vitória no sufrágio de domingo, Pizarro foi logo avisando que não tem por hábito comentar sondagens e estas mais recentes até lhe “dão melhores resultados”. Ainda assim, numa indireta às projeções de voto dos últimos dias, o cabeça de lista socialista assinala: “Os portuenses vão corrigir a sondagem no domingo, dando grande vitória ao PS“.
Para o antigo ministro, “esta sondagem só demonstra que há duas pessoas com condições de aspirar vencer as eleições. E diria que há um potencial vencedor mais forte, que sou eu”. Aproveitou para reiterar que “a escolha é entre alguém que ambiciona representar os cidadãos do Porto para uma estratégia de melhoria e do progresso da cidade [ele próprio], e alguém que se candidata como representante do Governo no Porto”, aludindo ao seu oponente social-democrata.
Já Pedro Duarte, também à conversa com o ECO/Local Online antes da arruada, mostrou-se confiante de que sairá vitorioso no sufrágio de domingo. “A sondagem vem confirmar a ideia de que há uma luta renhida entre os dois candidatos”. Mas mostra também que “há uma tendência crescente desta candidatura que começou mais tarde por um conjunto de circunstâncias”.
Já na Rua das Flores, o social-democrata foi justificando: “Apesar de esta ser uma zona altamente turística, o apoio foi evidente dos portuenses que fomos encontrando. Há um apoio crescente, ainda que tenhamos começado mais tarde”.
Já antes referiu ao ECO/Local Online que esta é “uma campanha marcada pelo contacto com as pessoas”. E foi precisamente o que tentou mostrar na arruada ao som da música “Happy”, de Pharrell Williams, com os apoiantes a ostentarem autocolantes com o lema “O Porto somos nós” e a entoarem “Pedro! O Porto somos nós!”, com bandeiras a esvoaçar.

Mas, verdade seja dita, eram mais turistas do que potenciais eleitores a passear na Rua das Flores os que captavam o momento com a máquina fotográfica e interpelavam a comitiva sobre o que se estava a passar. Acabou por seguir rua abaixo em direção ao Largo São Domingos, e distribuir apelos junto dos comerciantes para votarem na coligação PSD/CDS/IL e convites para se juntarem na sede de campanha no domingo.
À provocação do ECO se está pronto para dirigir um barco da dimensão do Porto, o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares foi perentório: “Sinto-me à altura. Sinto-me com uma grande responsabilidade e principalmente com uma grande motivação e determinação, com paixão de poder exercer o cargo de presidente da Câmara do Porto”.
A queimarem os últimos cartuchos, os candidatos não se cansam da troca de galhardetes. À crítica de Pedro Duarte a Manuel Pizarro de que “esconde o programa eleitoral”, este último alega que o tem vindo a apresentar desde o início da campanha. Como foi o caso da promessa de “disponibilizar 5.000 casas em renda moderada”, caso ganhe a Câmara do Porto nas próximas eleições autárquicas.
Os portuenses correm o risco de acordarem na segunda-feira com um presidente de câmara socialista — um regresso ao velho PS que tão má memória trouxe à cidade do Porto, de dívidas acumuladas.
O socialista rodeou-se de figuras de peso na sua equipa, como Fernando Paulo, vereador da Educação do atual autarca, Rui Moreira, e até foi buscar o vice-presidente para a Cultura da CCDR-Norte, Jorge Sobrado. “É o reconhecimento de que governar uma cidade como o Porto é uma tarefa muito exigente, que impõe uma equipa muito bem preparada. Fiz uma escolha de uma equipa à margem de critérios partidários, a pensar nas melhores pessoas para cada área da governação da cidade. As pessoas vão perceber isso”, argumenta Pizarro que, garante, se perder as eleições no domingo, continua “a trabalhar na vereação”.
Já Pedro Duarte diz que “a vida continua” e assume a função de vereador da oposição. “Mas só enquanto for compatível com a minha vida profissional. Tenho de ganhar a vida”, adverte.
À provocação se considera que vai ser um presidente politicamente correto ou se vai lutar pelos interesses dos portuenses, mesmo que vá contra a maré do Governo do seu partido, o social-democrata responde: “Vou lutar pelo Porto até à última gota do meu suor e com todo o empenho e determinação. Se quisesse ser um político de carreira, provavelmente teria ficado no Governo. Quero fazer diferença na liderança e vou ser diferente dos meus antecessores”.
Por fim, acusa o PS de ter “utilizado a Metro do Porto para uma jogada partidária”. “Começar obras daquela natureza, com abate de árvores, a meia dúzia de dias de uma eleição autárquica e de acabar o mandato daquela administração, foi uma provocação socialista para tentar, de alguma maneira, contaminar a campanha eleitoral“, acusou Pedro Duarte, que desde o início teve o apoio do novo presidente da Metro do Porto, Emídio Gomes, ex-reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
O tempo para convencer termina esta noite. Sábado é o dia de reflexão para os eleitores. No domingo, os portuenses decidirão quem ficará a governar uma das maiores câmaras do país até 2029.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Autárquicas ao rubro no Porto: no photo-finish, Pizarro e Pedro Duarte dão tudo
{{ noCommentsLabel }}