Apesar do leque de produtos, a pasta Couto pesa 80% da faturação da empresa centenária. Está nos planos a construção uma fábrica de três milhões para aumentar a produção e chegar a outros mercados.
“Temos de preservar esta marca histórica e continuar o legado de Alberto Gomes da Silva sem nunca perder a identidade e o design retro que nos caracterizam”, resume a administradora Alexandra Gomes da Silva. A empresa centenária nasceu em 1918, mas é a partir de 1932 que anda literalmente na boca dos portugueses através da icónica pasta dentífrica Couto. Volvidos 92 anos a receita prevalece no tempo e a pasta continua a ser o produto estrela. Da fábrica de Vila Nova de Gaia saem cerca de 700 mil bisnagas por ano.
A icónica pasta dentífrica foi criada em 1932 pelo fundador Alberto Ferreira Couto com a colaboração de um amigo dentista com o objetivo de combater os problemas nas gengivas que eram provocados pela sífilis. E é assim que a “Pasta Medicinal Couto” depressa se torna produto mais conhecido da empresa. Estatuto que mantém até aos dias de hoje com a pasta Couto a pesar 80% no volume de negócios da empresa que sobreviveu à segunda Guerra Mundial, ao 25 de Abril, à crise de 2010 e à pandemia de Covid-19.
Focada em aumentar o leque de produtos e a capacidade produtiva, em 2020, ano que surge a pandemia de Covid-19, a centenária Couto investiu cerca de um milhão de euros em máquinas. Antes deste investimento, produzia 55 mil bisnagas por ano, agora produz 700 mil. “Antes demorávamos um dia a encher um lote de 5.520 pastas dentífricas, agora temos capacidade para encher três lotes, o que corresponde a 16.560 pastas“, refere a diretora técnica da Couto, Cláudia França, que já tinha trabalhado na Couto entre 2004 e 2007 e regressou em 2016.
A receita da famosa bisnaga preta e amarela permanece no tempo de forma inalterada, mas a produção deixou de ser artesanal. Com a modernização da linha de produção, são as máquinas que enchem os os tubos, tapam, embalam, inserem o folheto informativo e fazem o controlo de qualidade. Todos os meses a Couto produz a pasta de dentes que agora tem uma nova versão com flúor, a pedido dos fiéis clientes. “Quando a Pasta Medicinal Couto fez 90 anos, achámos que seria uma boa altura para lançar a versão com flúor”, diz Alexandra Gomes da Silva, de 54 anos.
Couto quer mudar de instalações para aumentar a capacidade produtiva
Em 2020 estava previsto a Couto mudar para umas novas instalações perto das atuais, na zona empresarial de Laborim. No entanto, a pandemia travou essa mudança. Um plano que ficou suspenso, mas não ficou esquecido com a gestora a admitir que “a maior necessidade da Couto é ter uma fábrica para conseguirem dar resposta e ter uma maior capacidade de produção”. Alexandra Matos Gomes da Silva acrescenta ainda que nos planos está a criação de um museu “onde as pessoas possam ter contacto direto com esta empresa centenária e cheia de história”. A nova fábrica representa um investimento de três milhões de euros.
A maior necessidade da Couto é ter uma fábrica para conseguirmos dar resposta e ter uma maior capacidade de produção.
A diretora de produção acrescenta que o objeto passa “por arranjarem um local que seja adequado para a Couto”, tendo em conta que querem explorar a parte turística. “Temos muita gente que nos procura para fazer visita industrial (seja turistas ou escolas e universidades) e não temos condições neste momento para proporcionar esse tipo de experiência”.
A Couto quer continuar a inovar e a alargar o portefólio de produtos e para isso precisa de “pôr outra linha de montagem a funcionar”, realça a gestora. Cláudia França recorda que a nova fábrica servirá também para “atingirem outros tipos de mercado” e relembra que, “neste momento, podiam estar a exportar para a Coreia, destacando que “todas as semanas têm solicitações” nesse sentido. Relata que infelizmente não consegue satisfazer a procura: “Ou produzo para o mercado nacional ou para a fora, não temos outra hipótese”.
Coreanos “salivam” com pasta dentífrica Couto
Os clientes estrangeiros representam 90% das vendas na loja física, com particular enfoque nos coreanos. “Os coreanos são completamente fãs da marca Couto e são os primeiros a levar os produtos. Chegam à loja de Uber para comprar souvenirs para o Oriente e levam uma mala cheia de produtos. É um fenómeno digno de um case study”, afirma Alexandra Matos Gomes da Silva. Só as vendas para os coreanos representam 80% da faturação da loja física.
Os coreanos são completamente fãs da marca Couto e são os primeiros a levar os produtos. Chegam à loja de Uber para comprar souvenirs para o Oriente e levam uma mala cheia de produtos.
Cláudia França desmistifica o fenómeno dos coreanos e conta que existe um blogger sul-coreano que faz roteiros de viagens e que numa das publicações menciona que a “famosa pasta de dentes portuguesa Couto é obrigatória na lista de compras dos coreanos” que visitam a Invicta. Acrescenta ainda que uma “cliente portuguesa contou-lhe que segue um série coreana e que a pasta de dentes da Couto aparece nas casas de banho e que um músico muito conhecido coreano tirou uma selfie num WC onde estava a pasta Couto”.
Couto renasce com novos produtos e uma história de amor
Em 2004 a empresa deixou as antigas instalações no Largo de São Domingos, no Porto, instalando-se no complexo industrial da Utic em Vila Nova de Gaia. Nesse mesmo ano, uma simples instalação de ar condicionado na Couto, dá início a uma história de amor. Alexandra Matos Gomes da Silva trabalhava na empresa do pai, a Avac ligada a sistemas de ar condicionados e foi chamada à Couto para tratar de uma instalação. Conheceu o gestor e acabaram por apaixonar-se. Em 2016 casaram e a esposa começou a trabalhar na empresa como diretora comercial. Até ao ano do matrimónio, a “Pasta Medicinal Couto era o único produto da marca.
É a partir da união de Gomes da Silva e Alexandra Matos Gomes da Silva que a Couto sofre uma reviravolta impulsionada pela esposa juntamente com a diretora técnica Cláudia França. A empresa aposta num rebranding e lança novos produtos como o “Creme de Mãos Couto”, o “Sabonete Couto” e o “Creme Hidratante Couto”.
“Quando entrei o meu marido já tinha o objetivo de evoluir a Couto, mas como ele não tinha filhos não tinha um seguimento para a empresa. Quando comecei a visitar os clientes percebi quais eram as suas necessidades e onde a Couto poderia entrar. Lancei ao desafio à Cláudia e ambas puxámos o bichinho ao Gomes da Silva”, conta a atual administradora. Perante a recetividade do gestor começaram a produzir novos produtos. Alberto Gomes da Silva começou a trabalhar na unidade de produção da Couto em 1955 e assumiu as rédeas da empresa após a morte do tio e fundador em 1974. O gestor esteve quase 50 anos à frente da empresa que atualmente fatura um milhão de euros e emprega dez pessoas.
No dia que celebrou um século de história, em 2018, a Couto inaugurou a primeira loja física, na Rua de Cedofeita, no Porto. Em 2020, centenária marca lançou a loja online e alargou o portfólio para novos produtos de higiene e cuidados pessoais, como cremes para a barba, sabonetes, um after-shave e um colutório.
Da fábrica da Couto também saem a “Vaselina Pura Couto”, o “Creme Desodorizante Couto”, a “Água Oxigenada Couto”, o “Petróleo Olex” e, claro, um dos produtos mais históricos: o “Restaurador Olex”. A exportação representa apenas 10% das vendas, com Alemanha, Espanha e Itália a liderar o top 3.
Em 2023, Alberto Gomes da Silva morre aos 85 anos e a empresa passou a ser administrada pela esposa Alexandra Matos Gomes da Silva, licenciada em Gestão de Empresas pelo ISAG. Com os olhos postos no futuro, seguindo a visão e o legado de Gomes da Silva, a marca continua a lançar novos produtos e a expandir o seu alcance.
Ainda este ano, a Couto vai lançar um gel de banho e um champô em barra, dois protetores labiais em bálsamo. Paralelamente estão a fabricar com uma empresa de cerâmica uma saboneteira com o logo da Couto. “Estamos a entrar aos poucos dentro da casa dos portugueses, já não é só na boca”, brinca a administradora. Os produtos da Couto estão disponíveis em drogarias e retalhistas por todo o país, na loja Couto e na loja online.
A afilhada de Alexandra Matos Gomes da Silva, Catarina Matos, já está a trabalhar na empresa, para um dia ter as ferramentas necessárias para assumir o comando da Couto. A trabalhar na Couto desde 2019, na área de contabilidade e faturação, Catarina Matos, de 24 anos, assume que é “uma grande responsabilidade” trabalhar na empresa e que existe uma necessidade “de pensar muito bem nas estratégias futuras”.
Catarina Matos, que poderá ser a vir a sucessora da Couto, gostava de ver a empresa a “atuar no mercado internacional” e a continuar a lançar novos produtos.
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