O Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para subir os juros pela primeira vez em mais de dez anos esta quinta-feira. Está em cima da mesa uma subida de 25 pontos base ou de 50 pontos base. Em que medida esta decisão vai ao seu bolso? Na verdade, há muitos meses que os mercados estão a antecipar este aperto do banco central, com reflexos no aumento das Euribor e no agravamento da prestação da casa que paga ao banco.
Com a inflação em máximos históricos, há quem assuma que o BCE já vai atrasado no seu esforço para tentar controlar a subida dos preços na Zona Euro, que tem sido amplificada com a crise energética na sequência da guerra da Rússia na Ucrânia.
Há mais de um mês que os responsáveis da autoridade monetária vêm comunicando uma subida de 25 pontos base em julho e nova subida na reunião de setembro.
Contudo, uma notícia da Reuters desta semana, citando fontes com influência no processo, veio baralhar os mercados: afinal, o BCE poderá ter de ser mais agressivo e aumentar as suas taxas em 50 pontos base, para recuperar o terreno perdido.
Independentemente da subida que o banco central anunciar ao início da tarde, pelas 13h15 (hora de Lisboa), a verdade é que os mercados há muito que estão a contar com um grande apertão e isso já está a ter já reflexos no seu bolso.
Basta olhar para a evolução das taxas Euribor, que no último dia do ano passado se encontravam em -0,5% e já inverteram para positivo. Desde o início do ano, acumulam subidas entre 70 pontos base (no caso da Euribor a três meses) e 170 pontos base (no caso da Euribor a 12 meses), sem que o BCE tenha promovido qualquer subida das suas taxas de referência.
Como explicar esta situação? Os mercados e os investidores são “forward looking”, isto é, ajustam sempre os preços dos ativos com antecedência, antes de as coisas acontecerem, pelo que os valores atuais incorporam sempre as perspetivas para o futuro.
Euribor disparam este ano
Fonte: Reuters
Casa já custa mais 90 euros mês
Quem tem crédito da casa com taxa variável está particularmente exposto a este cenário. As Euribor são uma componente importante para calcular a prestação da casa que paga mensalmente ao banco. A taxa de juro que o banco cobra resulta da soma do spread (geralmente fixo) e da Euribor (o indexante varia). Logo, se a Euribor sobe, os encargos com a habitação também vão subir.
É isso que tem acontecido nos últimos meses, fruto de todas estas circunstâncias: alta inflação, crise energética, guerra, bancos centrais, um “cocktail” que está a dar muita força às Euribor.
Neste mês de julho, os contratos cujas condições foram revistas em julho sofreram aumentos entre 3% e 20%, consoante o prazo do indexante, de acordo com os cálculos do ECO.
Fazendo as contas a um empréstimo de 150 mil euros, com o prazo de 30 anos e um spread de 1%, as famílias com créditos associados à Euribor a seis meses viram a prestação subir cerca de 10% no próximo mês, refletindo um agravamento de mais de 45 euros para cerca de 493 euros.
Mais penalizado saiu quem tem um empréstimo indexado à Euribor a 12 meses. Neste caso, a prestação da casa agravou-se mais de 20%, com as famílias a pagarem mais 90 euros em relação à última revisão feita há um ano. A prestação mensal subiu assim para mais 542 euros.
Nos contratos com indexante a três meses, a revisão de julho trouxe uma subida mais contida: a prestação da casa aumentou 3%, ou cerca de 13,80 euros, para 466 euros.
Há boas e más notícias. As boas: as famílias beneficiaram de um longo período de taxas baixas para pagarem os créditos e acumularam poupanças importantes para fazer face a um maior aperto. As más: há muita incerteza, sobretudo na frente geopolítica, e não se sabe até quando e quanto as Euribor vão continuar a subir.