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BE diz-se “revoltadíssimo” com “pressões” do MAI junto da RTP sobre cartoon

Lusa, + M,

O BE diz-se "revoltadíssimo", Nicolau Santos não pede desculpa e Pedro Adão e Silva diz que humor e cartoon "deve ser um espaço que deve gozar de particular autonomia e de não interferência editorial”

O líder parlamentar do BE afirmou-se esta segunda-feira “revoltadíssimo” com “as pressões” que considera que o ministro da Administração Interna exerceu sobre o Conselho de Administração da RTP a propósito do cartoon emitido sobre polícia e racismo.

Também estou bastante revoltado com o que está a acontecer. Ouvimos o senhor ministro da Administração Interna dizer ao país que, perante algo que foi divulgado pela RTP, pegou no telefone e ligou ao Conselho de Administração da RTP e a pergunta aqui é: quem é o ministro da administração interna para andar a fazer pressões sobre jornalistas ou sobre conselho de administração da RTP. Em que democracia é que nós vivemos?“, respondeu Pedro Filipe Soares quando questionado pelos jornalistas sobre o cartoon emitido pela RTP sobre polícia e racismo.

Na “democracia que o BE defende”, continuou, “a liberdade de expressão é o bem maior”, com todas as “responsabilidades que daí advenham”, sublinhando que “a censura não tem espaço na democracia, que a RTP tem um espaço de liberdade e tem um espaço de idoneidade que tem de manter e que não está refém do interesse de um qualquer governo“.

“E o ministro da Administração Interna que acha que tem o direito de ligar ao Conselho de Administração da RTP a tirar satisfações de qualquer acontecimento na RTP mostra muito de como está a Partido Socialista e do que é este Governo do Partido Socialista”, criticou.

Pedro Filipe Soares ressalvou que não está “a discutir se determinado cartoon resulta de bom senso ou de mau senso, se é de bom ou de mau gosto, se é muito afrontoso ou pouco afrontoso“.

“E por isso, sim, eu estou revoltadíssimo com estas declarações do senhor ministro da Administração Interna e com a atuação que o Governo teve nesta matéria”, condenou.

José Luís Carneiro admitiu hoje ter expressado o seu desconforto com o cartoon emitido pela RTP sobre polícia e racismo e assegurou que as forças de segurança portuguesas garantem o cumprimento do principio da igualdade.

“Na sexta-feira, tive oportunidade de falar com o presidente do Conselho de Administração da RTP para manifestar desagrado com o facto de um cartoon daquela natureza ter sido exibido num festival que tem tantos milhares de jovens“, disse o ministro.

O ministro da Administração Interna falava à margem da cerimónia de apresentação do plano de prevenção e segurança da praia de Matosinhos. Questionado pelos jornalistas, lamentou a exibição de um cartoon, durante a cobertura do festival de música Nos Alive na RTP, alusivo à polícia e ao racismo.

O cartoon, da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do coletivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP, chama-se “Carreira de tiro” e mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia, servindo de metáfora ao tema do racismo nas forças de segurança.

Reconhecendo o respeito pela liberdade de expressão, o ministro sublinhou, por outro lado, a necessidade de chamar a atenção da administração da RTP para “o sentido de responsabilidade, para que a liberdade de expressão não coloque em causa a imagem e o prestigio das instituições“.

Entretanto esta segunda-feira, Nicolau Santos, presidente do conselho de administração da RTP, garantiu em declarações à TSF que a estação não vai pedir desculpa à PSP por causa do cartoon.

A RTP não se vai retratar de nenhuma forma. Eu, no dia seguinte à emissão do cartoon, tive a possibilidade de falar com o senhor diretor geral da PSP e explicar que o cartoon tinha a ver com a situação em França e não com a Polícia de Segurança Pública“, afirmou Nicolau Santos à TSF.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, também já defendeu que os humoristas e ‘cartoonistas’ devem ter autonomia, destacando que a animação alusiva à polícia e ao racismo transmitida no canal público alude à “realidade francesa”.

É um cartoon e eu acho que devemos levar a sério essa autonomia do que é o humor e o humor sobre a atualidade política nacional e internacional”, afirmou o governante, ao ser questionado pelos jornalistas sobre a animação polémica.

Pedro Adão e Silva, que falava em Vila Viçosa, no distrito de Évora, insistiu que “o humor e o cartoon deve ser um espaço que deve gozar de particular autonomia e de não interferência editorial”.

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