Mais de 100 empresas e associações ajudam Guimarães a atingir neutralidade climática até 2030
Município minhoto está a desafiar tecido empresarial e as associações locais a contribuírem para descarbonização do território. Objetivo é atingir a neutralidade climática até 2030.
Mais de 100 empresas e associações já aderiram ao pacto climático de Guimarães, como parceiros vitais para a descarbonização do território, num repto lançado pelo município para atingir a neutralidade climática até 2030. São chamadas a contribuir para a economia circular, mobilidade sustentável ou transição energética. E respondem com avultados investimentos em painéis fotovoltaicos, caldeiras a biomassa, carros elétricos e até a plantação de árvores para reflorestar uma zona da cidade.
“É um desafio que lançamos a estes setores para que assumam o compromisso de alterarem comportamentos e apostarem na inovação para conseguirmos atingir a neutralidade climática até 2030″, avança ao ECO/Local Online a vereadora do Ambiente e da Ação Climática da autarquia vimaranense, Sofia Ferreira. O repto surge porque “Guimarães foi uma das 100 cidades europeias selecionadas para a Missão Cidades Inteligentes”, explica a vereadora da autarquia liderada pelo socialista Domingos Bragança.
Além de Guimarães, Porto e e Lisboa são as outras localidades portuguesas nesta missão. Mas, no caso da cidade vimaranense, a meta a atingir representa mais um passo na disputa ao título de Capital Verde Europeia 2025 ao lado de mais duas finalistas — Graz, na Áustria, e Vílnius, na Lituânia. O vencedor será anunciado em outubro em Talin, na Estónia, e receberá um apoio de 600 mil euros para promover estratégias de sustentabilidade.
É um desafio que lançamos a estes setores para que assumam o compromisso de alterarem comportamentos e apostarem na inovação para conseguirmos atingir a neutralidade climática até 2030.
“Em setembro, seremos convocados a entregar um contrato climático, com medidas e ações bem definidas e orçamentadas, e que nos levem a atingir a neutralidade climática até 2030″, adianta Sofia Ferreira. Conta, por isso, com o contributo do tecido empresarial e institucional na concretização deste desígnio que, entretanto, respondeu em peso. Mais de cem empresas e associações assumiram o compromisso, como organizações não-governamentais, clubes desportivos, associações culturais, universidades ou institutos superiores, empresas privadas de áreas tão diversas como a construção civil, têxtil, panificação, recolha e tratamento de resíduos ou a área da mobilidade.
Ao subscrever este pacto climático, o tecido empresarial e institucional “acredita que este caminho tem de ser realizado em conjunto, e que todos temos uma quota-parte de responsabilidade ambiental para que consigamos atingir a neutralidade climática”, frisa a vereadora. Ao mesmo tempo, completa, a autarquia “está a fortalecer as condições para o apoio a estas empresas para as mudanças que podem conseguir, através do cálculo da pegada carbónica ou do desenvolvimento de planos de sustentabilidade específicos, com recurso ao Laboratório da Paisagem, um centro de investigação e educação na área da sustentabilidade participado pelo município.
Empresas apostam em eficiência e poupança de água
O tecido empresarial local tem trabalho feito na área e já concretizou vários investimentos em projetos de poupança energética, redução do consumo de água ou em construção sustentável. A indústria reconhece, por isso, ter responsabilidade na matéria e quer ter uma voz ativa e o município agradece.
A têxtil JF Almeida é uma destas empresas que aderiu ao pacto climático a 5 de junho deste ano, a convite da autarquia de Guimarães, e que vê a indústria como um parceiro essencial à descarbonização. A empresa já tinha trabalho feito nesta área, na última década, no âmbito de uma “clara estratégia, com investimentos e resultados expressivos”, como os mais de 10 milhões de euros investidos neste campo. “Nos últimos 10 anos, ultrapassámos já os 10 milhões de euros de investimento no que diz respeito a eficiência energética e descarbonização“, avança Sandra Carvalho, da empresa vimaranense, em declarações ao ECO/Local Online.
“As medidas já implementadas e as que serão realizadas, nos próximos dois anos, permitirão reduzir as emissões em 50%, já em 2025, face ao ano de referência que é 2021″, frisa a engenheira da JF Almeida que emprega 830 pessoas no polo industrial, em Guimarães.
Nos últimos 10 anos, ultrapassámos já os 10 milhões de euros de investimento no que diz respeito a eficiência energética e descarbonização.
Só em 2022, a empresa injetou seis milhões de euros no âmbito da descarbonização com a aquisição e instalação de equipamentos, como painéis fotovoltaicos ou “permutadores de calor que substituem a queima direta de gás natural nas máquinas de acabamentos — com redução de emissão de 1.600 toneladas de CO2 por ano”, avança. Ou ainda as “caldeiras a biomassa que substituem gás natural na produção de vapor, com redução de emissão de 3.600 toneladas de CO2 por ano”, completa. A empresa aposta ainda na implementação de um sistema de monitorização — para controlo e otimização de processos – com redução de emissão de 100 toneladas de CO2 por ano.
Mas o contributo da empresa para este movimento pela transição verde, para a redução das emissões de carbono global não fica por aqui. Ainda há muito a fazer, tendo em conta que o “trabalho nas áreas da sustentabilidade, eficiência e melhoria contínua de processos e produtos é permanente”, realça a engenheira da têxtil JF Almeida.
Para a responsável, “a indústria tem um papel fundamental na descarbonização porque movimenta grandes quantidades de energia e resíduos. Nos últimos anos, há cada vez mais investimentos na implementação de processos mais eficientes e utilização cuidada dos recursos”. Sandra Carvalho entende, por isso, que “cabe à indústria apresentar portefólios de produtos que cumpram com este desígnio e possam ir ao encontro de mercados cada vez exigentes no domínio da sustentabilidade”.
Consultora investe na plantação de árvores
Também a empresa de sourcing e consultoria Win-Win Textiles, que presta serviços a marcas de moda na indústria do vestuário, em Guimarães, aderiu ao pacto climático para contribuir para este movimento pela transição verde, para a redução das emissões de carbono global. Uma das medidas mais emblemáticas e que está a desafiar o tecido empresarial a participar é um evento anual até 2030, cuja primeira edição acontecerá a 28 de outubro deste ano, para plantação de centenas de árvores.
“Investimos 3.000 euros na compra de árvores e colocamos os recursos da empresa à disposição para o planeamento e promoção do evento. E convidámos empresas, principalmente de Guimarães, a investir e participar na iniciativa”, conta ao ECO/Local Online o gerente da Win-Win Textiles, Lars Skou Gøtterup.
O objetivo é tentar acelerar os projetos de reflorestação, substituindo a monocultura de eucaliptos por árvores autóctones típicas de áreas montanhosas. Pode servir para compensar a nossa pegada.
Já aderiram à iniciativa a Guimabus — com o transporte dos participantes em autocarros elétricos –, a Foco Criativo, Luipex, Cristextil, EIGUI, Etistatos, YOGADHIPA Yoga Studio, Nova Lega, RDA Climate Solutions, PIEP, SMSA. A Câmara Municipal de Guimarães também tem voz ativa na definição do local da plantação das árvores. “O Laboratório da Paisagem está a contribuir com recursos e definiu, juntamente com a autarquia de Guimarães, onde plantar a floresta. Isto vai ser um bom exemplo de como podemos fazer a diferença em conjunto”, sustenta o empresário.
“O objetivo é tentar acelerar os projetos de reflorestação, substituindo a monocultura de eucaliptos por árvores autóctones típicas de áreas montanhosas. Pode servir para compensar a nossa pegada”, completa Lars Skou Gøtterup. Com esta iniciativa, a empresa quer ainda contribuir para a redução do risco de incêndios na área. “A nossa empresa trabalha e investe muito na redução desta pegada no ambiente, fazendo pesquisa e investigação para identificar e recomendar novos materiais e métodos de produção”, refere o gerente da Win-Win Textiles.
Além de avançar com a plantação de centenas de árvores para contribuir para a neutralidade climática até 2030, a empresa também investiu 40 mil euros na aquisição de um veículo 100% elétrico, para substituir uma viatura a gasóleo, e em painéis fotovoltaicos, que deverão ser instalados ainda este ano. Também aumentou a oferta de produtos feitos com algodão e lã regenerativos, além de materiais recicláveis e reciclados. “Estamos a promover tingimentos naturais sem corantes artificiais e sem uso de químicos“, adianta o empresário e a “consciencializar as marcas e propor soluções de preferência climática”.
Consciente dos “danos causados pelo excesso de consumo e produção”, a Win-Win Textiles considera que “as empresas continuam a ter um papel muito importante“, enaltecendo a colaboração entre políticos, setor civil e empresarial na cidade vimaranense.
“Conseguir uma situação de neutralidade climática é algo bastante difícil e complexo. A maior parte das empresas tem-se focado na compensação, que pode neutralizar uma pegada, mas fica facilmente um descanso falso”, frisa Lars Skou Gøtterup. “Precisamos evitar ou reduzir o impacto. Como empresa, nós queremos ser neutros, mas também positivos e, por isso, promovemos conceitos regenerativos na gestão da empresa e nos produtos, que recomendamos as marcas estrangeiras”, conclui o gerente da Win-Win Textiles.
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