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“Se não há slow jornalismo não há subscritores, se não há fast jornalismo não há audiências”

Carla Borges Ferreira,

O dilema entre ser o primeira a dar a notícia e o tempo necessário para ouvir as fontes e confirmar a informação estiveram em debate no primeiro dia de Web Summit.

Ricardo Costa, Adília Godinho e Luísa Meireles

“Sem slow jornalismo não há subscritores, mas sem fast jornalismo não há audiências. Precisamos das duas coisas.” O resumo é de Ricardo Costa no debate “No need for speed: slow journalism’s role in rolling news“, na manhã desta terça-feira, na Web Summit. O dilema entre a rapidez necessária para publicar as notícias e o tempo necessário para falar com as fontes, confirmar a informação e não cometer erros foram o ponto de partida. E, para o diretor de informação do grupo Impresa, não há dúvida de que a coexistência dos vários géneros e velocidades de jornalismo é o caminho.

Quando se fala de jornalismo, a tecnologia assume um papel central. “O jornalismo sempre beneficiou da tecnologia e todas as vezes que a tecnologia mudou o jornalismo também mudou“, diz Ricardo Costa, recordando que a cobertura de guerras começou a ser feita por telegrama, depois foi a rádio, a televisão, a televisão em direto e a internet.

“A cobertura na Palestina é completamente diferente da dos outros conflitos na região. Hoje não há uma opção entre jornalismo rápido e lento, precisamos de ambos. Quando algo importante acontece, queremos logo saber”. No entanto, de seguida, é preciso enquadrar e explicar a situação.

“Num canal de notícias que funciona 24 horas, como a SIC Notícias, não há slow jornalismo. Há é períodos de análise“, reforça. Depois, em simultâneo, há uma equipa de investigação de cinco pessoas a trabalhar o tema, explica.

Também Adília Godinho, diretora-adjunta de informação da RTP, defende que um canal de notícias com ciclos de 24 horas e slow jornalismo não são antagonistas. “Até nos canais de notícias temos debates e entrevistas de 50 minutos. Damos o contexto que é necessário para entender as notícias e temos grande reportagem, que demora meses a fazer.”

Questionada sobre se a RTP, estação de serviço público, tem responsabilidades acrescidas, e a obrigação de ceder menos à tentação da rapidez em detrimento da correção dos fatos, a responsável respondeu que “a precisão é a maior responsabilidade, mas em qualquer tipo de meio”. “Os erros dão cabo da credibilidade. Mesmo assim, erramos. Tentamos todos os dias cometer menos erros. Confirmar as fontes, as notícias. É voltar ao básico, confirmar tudo, é a grande prioridade”, reforça.

Os liveblogs, como expoente da rapidez, foram também chamados à discussão por Ricardo Costa. “As pessoas vão lá quando querem informação rápida. Depois, os artigos mais lidos, em alguns dos melhores jornais do mundo, são slow jornalismo”. “É esse o desafio. Temos que dar as notícias, mas também precisamos de artigos com uma ou duas semanas de investigação”, conclui.

A falta de jornalistas, nas redações, foi outro dos temas chamado à conversa por Luísa Meireles, diretora da agência Lusa, que conduziu o painel. “Com a crise há falta de jornalistas, não há pessoas suficientes. Esse é o problema da falta de investimento nas redações ou nos jornais ou televisões. Esse é o problema do jornalismo”, afirmou a responsável da RTP. “Se se produz o mesmo número ou até mais notícias com menos jornalistas…”, constata.

Opinião diferente tem Ricardo Costa. “O grande problema não é a velocidade, é a distribuição“, afirma. “Vínhamos de um mundo em que controlávamos a distribuição e tínhamos publicidade“. Neste momento, “há gigantes tecnológicos que controlam a distribuição e a publicidade”, aponta o diretor da SIC Notícias e diretor de informação da Impresa.

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