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Global Media quer rescindir com 150 a 200 trabalhadores

Carla Borges Ferreira,

O Global Media Group quer rescindir com 150 a 200 trabalhadores. A decisão foi comunicada esta quarta-feira, dia de greve no Jornal de Notícias.

O Global Media Group (GMG) quer rescindir o contrato com 150 a 200 trabalhadores. Em comunicado interno, enviado esta quarta-feira, a administração e comissão executiva do grupo anuncia que vai “avançar com um processo de reestruturação de negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência no GMG, num universo entre 150 e 200 trabalhadores nas diversas áreas e marcas”. O objetivo, diz, é tentar “assim, evitar um processo de despedimento coletivo, alternativa essa que, para esta Comissão Executiva, apenas será opção em último caso”.

De acordo com José Paulo Fafe, CEO do grupo, a Global Media tem atualmente 530 trabalhadores. A decisão foi comunicada no primeiro dia de greve dos jornalistas do Jornal de Notícias, que até por volta das 13h estava a ter uma adesão total, tanto no Porto como em Lisboa.

Primeiro dia de greve dos jornalistas dos Jornal de Notícias. As imagens da contestação são anteriores ao comunicadoLusa

Com os ordenados de novembro pagos apenas esta terça-feira, dia 5 de dezembro, a administração acrescenta que os subsídios de Natal deste ano só serão pagos, em duodécimos, ao longo dos próximos 12 meses. O não pagamento do subsídio, escreve a administração no comunicado interno ao qual o +M teve acesso, deve-se “aos constrangimentos financeiros criados pela anulação do negócio da Lusa”.

Após um diagnóstico em nove pontos, que resultará das conclusões da análise e da auditoria realizadas nestes últimos três meses à situação patrimonial e financeira do universo empresarial do Global Media Group e de cada uma das suas marcas, e que antecede o anúncio dos acordos de rescisão com entre 30 a 40% dos trabalhadores, a comissão executiva “reafirma a determinação em adotar um vasto conjunto de mudanças ao nível da gestão e procedimentos nos diferentes departamentos e marcas, de forma a tornar sustentável este projeto” e “também de forma que, persistindo a atual situação, seja evitada a mais do que previsível e anunciada falência do Grupo”.

Segundo o comunicado, “só a contínua e indiscriminada venda de património, como a que ocorreu nos últimos anos, tem vindo a adiar” a falência do grupo dono de marcas como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF e O Jogo.

A comissão executiva, que assina o comunicado, diz ainda “reafirmar o compromisso de investir e fazer crescer” o grupo. “Investir desde logo para evitar a falência do GMG e fazê-lo crescer através de uma gestão racional, exigente, bem como de um plano de reestruturação que ponha termo ao ciclo de prejuízos constantes”. Numa fase posterior, a ideia será “consolidar um projeto alargado ao mercado da Língua Portuguesa“.

Antes de avançar para as medidas, “que visam estancar o crescimento dos prejuízos, salvaguardar o número
possível de postos de trabalho e evitar a falência do Grupo e das suas empresas”, o diagnóstico.

Nos últimos cinco anos, os prejuízos acumulados pelo GMG até ao final do ano passado foram na ordem dos 39 milhões de euros, sendo que, para este ano, está previsto um prejuízo global que ultrapassa os 7 milhões de euros, diz o grupo.

A este montante acresce “um conjunto de dívidas acumuladas de 5 milhões de euros, sendo de realçar que o montante que está a ser liquidado em sede de acordo RERT (Regime Excepcional de Regularização Tributária) é de mais de 7 milhões de euros“. Sem reestruturação, estima a comissão executiva, o prejuízo mínimo anual seria na ordem dos 9 milhões de euros.

A comissão executiva afirma que nos últimos meses “o pagamento de salários apenas era possível por ser assegurado por transferências diretas realizadas pelo acionista Marco Galinha” e que quando este entrou no capital do grupo, em 2021, “nenhum dos outros acionistas mostrava qualquer disponibilidade em aportar qualquer investimento ao Grupo”.

Terá sido neste contexto que o novo acionista, o fundo de investimento World Opportunity Fund (WOF), “no âmbito de uma estratégia que visa a expansão no mercado da Língua Portuguesa”, iniciou as negociações para assumir o controlo da gestão do GMG, através da compra de uma posição maioritária na Páginas Civilizadas, de Marco Galinha, o principal acionista do grupo.

Desde o primeiro dia que ficou claro para o WOF que, no imediato, a realização do investimento teria de ser centrada em cumprir os compromissos essenciais à sobrevivência do Grupo e que o futuro do GMG só seria possível através de um profundo projeto de reestruturação, condição essencial para, garantindo o cumprimento cabal dos compromissos legais e fiscais da empresa, evitar a falência total do Grupo no seu conjunto e das suas diversas empresas”, prossegue o comunicado.

“Tudo o resto que se diga é pura efabulação”, acrescenta a comissão executiva, que diz também ter sido “confrontada, ao longo destes últimos meses, com uma permanente atitude de rejeição, ou mesmo boicote, a todas as mudanças que pretendeu efetuar no seio do Grupo”.

A comissão executiva aponta ainda “seletivas fugas de informação, muitas delas por parte de quadros do próprio GMG”, “uma permanente campanha pública de tentativa de desgaste das marcas e do próprio Grupo por parte de outros concorrentes”, que teve como consequência “ter posto em causa a capacidade de financiamento do GMG no sistema bancário nacional e a tentativa de criação de constrangimentos reputacionais ao fundo junto dos mercados financeiros onde está presente“.

Por último, ainda nos pontos de enquadramento, a comissão executiva refere “as tentativas de interferência por parte de alguns setores e personalidades políticas“, num “processo de permanente interferência política que culminou no chumbo de última hora ao negócio da venda das participações do GMG na agência Lusa”.

José Paulo Fafe é presidente executivo da Global Media, em representação do WOF (World Opportuny Fund).

Refira-se, a propósito, que esta operação financeira que estava totalmente fechada entre as partes, com valores definidos e prazos para pagamento já acordados, era do pleno conhecimento do principal partido da oposição que, a seu tempo, dera o seu acordo expresso e do próprio Presidente da República”, garante a comissão executiva liderada por José Paulo Fafe.

“O seu inexplicável cancelamento de última hora obrigou à alteração de todo o planeamento financeiro programado até final deste ano por esta Comissão Executiva, acrescendo dificuldades às já existentes e sendo a única razão que levou ao lamentável atraso no processamento de salários relativos ao mês de novembro”, acrescenta. Recorde-se que o negócio da Lusa caiu na noite de dia 30, quando o Governo recuo por “falta de um consenso político alargado”.

O comunicado termina com a comissão executiva a afirmar que “não é aceitável ou admissível para este projeto e para os seus acionistas que o financiamento deste Grupo seja suportado pela existência de dívidas de milhões de euros à banca, ou por algum grupo empresarial que, pese os sucessivos anos de prejuízos, opte, em nome de uma agenda própria, manter esses projetos editoriais”.

Mais do que nunca, só o garante da independência financeira poderá permitir a existência de projetos jornalísticos sérios, responsáveis e isentos“, conclui o comunicado.

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