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Taylor Swift aterra em Portugal com uma digressão “fenómeno”. O que o justifica?

Rafael Ascensão, Lusa,

Taylor Swift apresenta-se em Portugal para dois concertos de uma digressão que tem registado um sucesso ímpar. Mas como se explica este fenómeno que parece poder até influenciar eleições?

A Taylor Swift entrega sempre o que promete e percebe o que os seus fãs querem. Cria conceitos à volta de coisas como as pulseiras da amizade e cria uma dinâmica completamente diferente que ultrapassa e extravasa o que é o concerto em si“, avança Ricardo Torres Assunção, secretário-geral da Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN), como explicação para o “fenómeno” que é Taylor Swift e a sua digressão que chega agora a Portugal.

Ela percebeu bem quem é a sua comunidade e conseguiu envolvê-la em torno de um espetáculo que é muito mais do que um concerto“, acrescenta.

Mónica Nogueira de Sousa, country marketing manager da Ikea, concorda com a ideia avançada por Ricardo Torres Assunção, referindo desde logo que as músicas de Swift “acertam na mouche do target”, que é um público mais jovem, pelo que contam com temas e letras com que este público se consegue facilmente identificar.

No Instagram, por exemplo, a artista conta com cerca de 284 milhões de seguidores, dos quais quase 80% têm idades entre os 18 e os 34 anos (38,5% dos 18 aos 24 anos e 40,3% dos 25 aos 34) e 60,4% são do género feminino, segundo a informação recolhida pela Samy Alliance para o +M, que analisou também a presença da artista no TikTok e YouTube.

Aliás, uma presença multiplataforma, aliada a publicações recorrentes, permitiu à cantora construir e manter uma “base forte” de seguidores nas várias redes, onde “partilha momentos importantes da sua vida com a sua comunidade, estimulando o sentimento de proximidade”, diz Alexandra Navarro, client managing director da Samy Alliance.

A consistência da sua voz e a simplicidade da sua postura foram, na nossa opinião, determinantes neste sucesso“, diz também Alexandra Navarro. “Em paralelo, a gestão que faz da sua ligação com as suas comunidades nas redes permite uma relação forte e orgânica de partilha que as envolve e as motiva a seguir e admirar a artista e a pessoa“, acrescenta.

Além disso, as pessoas valorizam e precisam cada vez mais de experiências e de ter conexões emocionais, pelo que Taylor Swift, a sua música e os seus concertos, são uma oportunidade para partilhar os mesmos gostos em grupo, defende Mónica Nogueira de Sousa.

É uma forma de escapar do mundo, é um momento quase de comunhão entre pessoas, que partilham as pulseiras das amizades, que vão vestidas a combinar. É um comportamento de comunidade muito interessante de se ver”, afirma a responsável do Ikea, sublinhando ainda o esforço de merchandising feito em torno dos concertos que depois “é quase como se fosse uma parada de wannabees da Taylor Swift“.

A marca dela “é fortíssima, e extravasa em muito aquilo que são as suas músicas. E isto porque sempre soube perceber qual é o seu target e conseguiu adaptar as estratégias para o conquistar e o envolver cada vez mais”, concorda Ricardo Torres Assunção.

José Franco, por outro lado, alerta que este “não é um fenómeno novo”, tendo já acontecido noutras alturas e com outras artistas, como Madonna, nos anos 80. Billie Eilish seria outra artista cuja vinda a Portugal neste momento “poderia ser igual ou ainda mais apelativa” do que a de Taylor Swift, considera o managing partner na agência Corpcom que perspetiva em Benson Boone o próximo na linha para ser um “fenómeno” na cultura pop.

A diferença, é que este fenómeno é amplificado pelos meios hoje disponíveis, diz José Franco, embora reconhecendo uma “grande estratégia de marketing e comunicação“, como, aliás, “qualquer artista de pop que se preze tem”.

“A Swift teve sempre uma estratégia de marketing muito boa, profissional e agressiva“, refere o líder da Corpcom, relembrando que esta foi a primeira a querer sair do Spotify, numa altura em que se discutia os direitos dos músicos.

No fim do dia, a própria procura, partilha e acompanhamento por parte dos media ajuda a amplificar o fenómeno, pelo que este acaba por se alimentar de si próprio“, diz ainda José Franco, acrescentando que estes “fenómenos” são também incentivados por empresas como a Live Nation Entertainment, promotora de espetáculos norte-americana que trabalha com os artistas de grande renome a nível mundial e que controla cerca de 70% do mercado de bilheteira e de eventos ao vivo.

Mas amanhã tudo pode mudar, basta um caso, uma desatenção, algo que possa manchar a reputação ou pura e simplesmente a emergência de outros artistas, e de repente de genial e número um se desce por aí abaixo“, diz José Franco, embora reconheça uma “grande consistência”, proporcionada por uma “máquina de marketing por trás” que possibilita a existência de um “produto bem desenhado com uma boa estratégia de divulgação”.

Um fenómeno que até pode influenciar eleições?

Atualmente também se tenta perceber se Taylor Swift pode vir a influenciar as eleições norte-americanas caso opte por apoiar Joe Biden contra Donald Trump, como fez nas eleições de 2020. Este ano, e com as sondagens a mostrarem margens mais curtas entre os dois candidatos, os analistas perspetivam que o apoio oficial da cantora possa realmente fazer a diferença.

José Franco concede que é uma possibilidade, e que os influenciadores podem de facto impactar a política e a eleição de políticos. Esta tomada de posições políticas por parte de artistas é algo que já tem vindo a ser feito, entende, mas hoje “mais uma vez, tem mais amplificação”. “Até mesmo em Portugal, músicos conhecidos assumem as suas cores políticas e apoiam diferentes candidatos”, acrescenta.

Para Mónica Nogueira de Sousa, só o ter-se em conta esta possibilidade é “incrível”, embora possa ser expectável que a artista consiga de facto ter influência na votação. “Ela tem uma capacidade de atração incrível e vai certamente influenciar os mais jovens. É uma cartada fantástica para o Biden“, refere.

Alexandra Navarro relembra que a amplitude do sucesso e do espaço conquistado pela cantora na cultura pop se deve também à voz ativa que assumiu a determinada altura em relação a temas que lhe são queridos, sociais e políticos.

No entanto, na opinião de Ricardo Torres Assunção, “as marcas devem-se abstrair de decisões políticas. As marcas são muito mais do que momentos e pessoas políticas. A decisão da Taylor Swift em apoiar, será uma decisão pessoal, acho que não terá nada a ver com estratégia de marca. As marcas têm que estar sempre acima destas polémicas porque vivem e sobrevivem durante muitos anos e não em ciclos políticos”.

“Ela neste aspeto não está a fazer uma gestão de marca, está a fazer uma gestão pessoal, eu não associava as duas coisas. Mas, no caso, o público e os fãs não vão fazer essa dissociação e vão ver claramente como uma decisão da marca Taylor Swift“, acrescenta o representante dos anunciantes.

O fenómeno da digressão de Taylor Swift chega agora finalmente a Portugal para dois concertos completamente esgotados, que acontecem esta sexta-feira e sábado, no Estádio da Luz, depois de a sua estreia em palcos portugueses marcada para o festival Nos Alive, em 2020, ter sido cancelada por causa da pandemia.

A vinda a Portugal de Taylor Swift – que tem sido um verdadeiro fenómeno a nível mundial, batendo recordes, movendo massas e dispondo de uma grande influência social – vai assim ser acompanhada pelos fãs que conseguiram bilhetes, cujos preços variavam entre os 62,50 e os 539 euros (valores a que acresciam taxas) e que esgotaram em pouco tempo. Para terem acesso à compra destes ingressos, os fãs tinham já de se ter registado previamente, ainda antes de os bilhetes serem postos à venda.

A “The Eras Tour”, a digressão mundial de Taylor Swift, foi a primeira a ultrapassar os mil milhões de dólares em receitas, de acordo com a revista Forbes, e tem arrastado multidões e impactado a economia. Em 2023, a QuestionPro calculou que o impacto da digressão de Taylor Swift na economia global foi de cinco mil milhões de dólares.

Com a vinda de Taylor Swift a Portugal, a Mastercard prevê que possa haver um boost na economia lisboeta, à semelhança do que aconteceu noutros locais por onde passou a digressão mundial da cantora, onde os gastos na restauração aumentaram 68%, e, no alojamento, 47%.

O Colombo também aproveitou o momento e abriu um espaço dedicado aos “Swifties” (como são conhecidos os fãs da cantora), entre os dias 22 e 25 de maio. A Praça Central do centro comercial transformou-se assim num espaço dedicado a estes fãs, com várias ativações e atividades. Neste inclui-se um vídeo booth, onde é possível vestir vários acessórios inspirados no estilo da cantora para “criar um vídeo totalmente personalizado”, bem como “um espaço com os looks mais trendy para o concerto”, refere-se em nota de imprensa.

A agitação prevista para estes dias levou a que a circulação rodoviária e o estacionamento estejam condicionados entre sexta-feira e domingo junto ao Estádio da Luz. Nesse sentido, a PSP aconselha a utilização de transportes públicos, evitando que se levem viaturas para as imediações do Estádio da Luz.

Este ano, a cantora entrou pela primeira vez na lista anual de multimilionários da revista Forbes e tornou-se na primeira artista a vencer o Grammy de Melhor Álbum pela quarta vez. Ainda de acordo com a mesma publicação, Taylor Swift tem uma fortuna avaliada em 1,1 mil milhões de dólares.

Entretanto, em outubro do ano passado, estreou-se nos cinemas em todo o mundo, Portugal incluído, o filme-concerto “Taylor Swift: The Eras Tour”, realizado por Sam Wrench e gravado em agosto do ano passado durante os três concertos da digressão no estádio SoFi em Inglewood, na Califórnia.

Com a estreia simultânea em vários países a 13 de outubro, o filme somou a nível global, nos primeiros dias de exibição, 123,5 milhões de dólares, ou seja, cerca de 116 milhões de euros de receita de bilheteira, batendo recordes para a estreia de um concerto filmado, segundo contas da revista Variety.

A exibição do filme em Portugal somou 15.856 espectadores em três dias, tendo sido o mais visto naquele período, e registou 208.268 euros de receita de bilheteira, com os bilhetes a custarem 13,13 euros, um valor que foi definido pela própria artista, segundo a Cinema Nos.

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