Luva sensorial de Braga ajuda a detetar cancro da mama

Amigos de infância, Francisco Nogueira e Frederico Stock juntaram-se para desenvolver a SenseGlove, uma luva sensorial que incorpora IA e permite a deteção precoce do cancro de mama.

Filipa, prima de Francisco Nogueira (engenheiro biomédico), detetou uma anomalia na mama, mas por “medo” ou “incerteza” esperou três meses até ir ao médico. O pai de Francisco, médico de profissão, percebeu que poderia ser um cancro maligno através do exame mamário e recomendou à sobrinha fazer uma mamografia o mais rápido possível. O prognóstico confirmou-se e Filipa teve de remover a mama direita.

Francisco Nogueira ficou frustrado com o resultado e inquieto com o facto de a prima não ter reagido imediatamente ao detetar essa anomalia, até por ter um médico na família. Em conversa com o pai percebeu a “falta de confiança” das mulheres no momento da apalpação. E que as variadas alterações na textura do tecido mamário, causadas por diversos fatores, causam incertezas na mulher, levando-as a não agir no momento certo. Teve então a ideia de criar um dispositivo para ajudar as mulheres na auto apalpação. Foi na altura da pandemia que começou a encomendar as componentes e a testar a ideia.

Foi nessa fase que Francisco Nogueira se juntou ao amigo de infância, Frederico Stock, formado em Optometria e que na altura estava a tirar o mestrado em Gestão na Universidade Católica. Desenvolverem a SenseGlove, uma luva com sensores, que incorpora algoritmos de Inteligência Artificial (IA) e que funciona como alternativa ao autoexame mamário.

O dispositivo médico de pré-rastreio, doméstico e portátil “permite detetar precocemente alterações do tecido mamário e capacita as mulheres a compreenderem as suas mamas, permitindo-lhes agir mais rapidamente”, detalha ao ECO Frederico Stock, CFO/COO e cofundador da startup Glooma, com sede em Braga. No entanto, adverte, a luva “serve como um complemento, mas não substitui as consultas de rotina e os exames de rastreio e de diagnóstico”.

O dispositivo médico de pré-rastreio, doméstico e portátil, permite detetar precocemente alterações do tecido mamário e capacita as mulheres a compreenderem as suas mamas, permitindo-lhes agir mais rapidamente.

Frederico Stock

CFO/COO e co-founder da startup Glooma

Através de um aplicação, a tecnologia lembra às utilizadoras, por e-mail ou notificações no telemóvel, da realização do exame doméstico. Fornece ainda todas as informações relativas aos autoexames realizados ao longo do tempo, comparando os resultados e avaliando as alterações ao longo do tempo, para ser mais fácil a apresentação dos resultados ao médico.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, houve 2,3 milhões de mulheres diagnosticadas com cancro da mama e 685 mil mortes. A deteção precoce deste tipo de cancro, o mais comum entre as mulheres, pode reduzir significativamente as taxas de mortalidade derivada desta doença a longo prazo.

A SenseGlove está ainda em fase de desenvolvimento e processos de certificação. Frederico Stock realça que o dispositivo médico tem de ser certificado pelas entidades como o Infarmed para ser comercializado em Portugal. “Se tudo correr bem, em 2026 vamos ter o dispositivo médico aprovado na Europa, incluindo Portugal”, prevê o cofundador. A curto prazo, até ao final deste ano, tem como objetivo registar o produto na americana Food and Drug Administration (FDA), pois o “processo é mais rápido”.

Depois da aprovação, a luva vai ser comercializada por 99 euros. Até ao momento, a Glooma já recolheu dados de 236 pacientes e está a trabalhar com quatro unidades hospitalares portuguesas: Hospital Amadora-Sintra, Hospital do Montijo, Hospital Distrital de Santarém e Centro de Rastreio do Cancro da Mama na Madeira.

A luva sensorial de Braga conquistou um prémio da Agência Nacional de Inovação no valor de 2.500 euros. Paralelamente, a startup já venceu mais 12 programas, como o Altice Innovation Award 2021 ou o Get in the Ring Vodafone Power Labs 2022. Entre prémios e donativos, calcula já ter angariado 120 mil euros e concretizou uma ronda de investimento de 483 mil euros junto do Banco Português de Fomento, Portugal Ventures, Clube Business Angels Lisboa e outros business angels.

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