O futuro dos Açores entre as pessoas e a geopolítica
O Novobanco e o ECO Local promoveram o 11º encontro regional, desta vez para discutir o arquipélago dos Açores, o potencial regional e os entraves ao crescimento económico.
A economia dos Açores enfrenta um dos seus maiores desafios: a falta de mão-de-obra qualificada. Esta foi uma das principais conclusões do 11º debate ECO Local/novobanco, encontro que juntou empresárias e decisores no Novobanco dos Açores, em Ponta Delgada, para discutir o arquipélago, a geopolítica e os entraves ao crescimento regional. O debate, moderado por António Costa, Publisher do ECO, teve como convidados Miguel Monjardino, Professor Convidado de Geopolítica e Geoestratégia no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Helga Barcelos, Administradora e Diretora da Quinta dos Açores e Vice-Presidente e porta-voz do Grupo Barcelos, e Benedita Branco, sócia e gerente da Lava Homes, além do administrador do novobanco, Luís Ribeiro.
Luís Ribeiro, administrador do novobanco, abriu o debate com uma análise detalhada sobre a economia dos Açores, destacando as características de uma região ultraperiférica que, apesar do crescimento, enfrenta desafios significativos. “O PIB per capita dos Açores é cerca de 10% abaixo da média nacional”, referiu, enfatizando a dependência do setor público, que representa 30% do valor acrescentado bruto da região, em comparação com 19% a nível nacional. O gestor destacou, depois, que o declínio da população ativa, que caiu 6% nos últimos censos, está a impedir a economia açoriana de atingir o seu pleno potencial. “Sem mão-de-obra e qualificação, não conseguimos crescer de forma sustentada”, afirmou. O gestor
"A população ativa nos Açores decresceu 6% nos últimos censos.”
Helga Barcelos, administradora da Quinta dos Açores, reforçou esta preocupação, salientando que “na época alta, é muito difícil arranjar pessoas”, ao mesmo tempo que frisou a importância de uma aposta estratégica no ensino profissional, opinião também partilhada por Benedita Branco, sócia da Lava Homes, que lamentou a ausência de técnicos qualificados, uma carência que considera crítica para setores como o turismo e a restauração.
O papel do turismo e a sazonalidade
O turismo foi destacado como uma peça chave na economia dos Açores, que representa 25% do PIB regional, de acordo com Luís Ribeiro. Contudo, o especialista alertou para o desafio da sazonalidade, já que grande parte das receitas estão concentradas entre julho e setembro.
"Uma parte importante da receita do turismo dos Açores veio no período de julho a setembro – 39% na hotelaria e, se formos para alojamento local, até chega aos 45% neste período.”
“Uma parte importante da receita do turismo dos Açores veio no período de Julho a Setembro – 39% na hotelaria e, se formos para alojamento local, até chega aos 45% neste período. Há que combater esta sazonalidade para ter este crescimento mais sustentado”, disse.
Benedita Branco, que tem um resort no Pico, sublinhou a importância de investir no turismo sustentável e local, mencionando o seu próprio esforço em privilegiar produtos locais no seu restaurante: “Desisti de um prato que tinha camarão porque não há camarão no Pico”.
A importância do setor primário
Outro ponto importante do debate foi a interligação entre os diferentes setores da economia açoriana. Helga Barcelos destacou a relevância do setor primário, particularmente na agroindústria, afirmando que “não há setor terciário com valor se não existir setor primário a funcionar”.
Além disso, a administradora da Quinta dos Açores falou também sobre o sucesso dos seus produtos, como os gelados à base de leite local, como exemplo de como a região pode criar valor e oferecer produtos diferenciadores.
"É uma região em que muita desta indústria está ligada ao setor primário, ou seja, à agroindústria, o que compara com 17% da média nacional.”
Sobre este tópico, Luís Ribeiro, administrador do novobanco, acrescentou: “É uma região em que 30% do valor acrescentado bruto veio do setor público (o que compara com 19% da média nacional), 9% vem do setor primário e a média nacional é de 2%. Apenas 7% vem da indústria, portanto é uma região em que muita desta indústria está ligada ao setor primário, ou seja, à agroindústria, o que compara com 17% da média nacional“.
Desafios globais com impacto local – qual o futuro?
À discussão foi ainda trazida uma perspetiva mais ampla por Miguel Monjardino, que referiu que a economia açoriana, como parte da região euro-atlântica, não está imune aos impactos das transformações globais. “Se as coisas piorarem no sentido da desordem, os Açores pagarão um preço elevado”, afirmou, destacando a importância de pensar a longo prazo e preparar a região para um futuro incerto, mas promissor.
“Se, em contrapartida, caminharmos para uma solução em que ainda temos energia política dentro do sistema para o reformar, então isso será bom para nós. Ou seja, isto é um processo que durará muitos anos. Será um processo muito turbulento ao nível interno e externo, mas eu acho que se nós, região euro-atlântica, conseguirmos o início da década de 30 mais ou menos como estamos agora, o nosso futuro será muito promissor porque provavelmente teremos prevalecido na criação da ordem que mais nos interessa“, continuou o especialista em geopolítica internacional, e que vive na Terceira.
"Precisamos de projetos diferenciadores que gerem mais valor por cada hora trabalhada.”
“Precisamos de projetos diferenciadores que gerem mais valor por cada hora trabalhada”, disse, ainda, Luís Ribeiro. O apelo à ação, com vista a conseguir uma maior qualificação da mão-de-obra, combater a sazonalidade no turismo e atrair investimentos estratégicos, bem como uma execução eficaz do PRR, foram pontos destacados como fundamentais para o futuro dos Açores.
Assista ao encontro na íntegra aqui:
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