Porto de Lisboa prepara “ofensiva” elétrica e alarga estacionamento para barcos de recreio
Porto de Lisboa investe em auto-produção de energia e cria canais de alta tensão na cidade para abastecer navios. Para breve, uma marina para 200 barcos e instalações da Nova IMS chegarão a Algés.
O Porto de Lisboa (PL) está a desenvolver projetos de mais de 35 milhões de euros na frente de rio da capital, preparando-se para entrar também na produção de eletricidade e venda do excedente. Quando passam dez anos da criação do terminal de cruzeiros e 137 anos de vida do Porto de Lisboa, o presidente do conselho de administração da empresa portuária, Carlos Correia, enumerou ao ECO/Local Online as novidades da empresa até 2030.
Entre os investimentos, haverá um novo canal de 4 km para levar eletricidade em alta tensão até Santa Apolónia. Para tal, será usado o novo túnel do plano de drenagem de Lisboa que a câmara está a construir, e onde se instalará parte dos 4 km de linha de alta tensão entre o Alto de São João e a zona do terminal de cruzeiros. Esta linha é necessária para levar energia ao sistema de abastecimento elétrico Onshore Power Supply (OPS), com o qual os navios atracados em Lisboa deixarão de ter o motor de combustão ligado, sendo alimentados por eletricidade. Reduzem-se assim as vibrações, ruído e poluição ambiental dos motores.
Se não fosse o “atalho” pelo túnel do plano de drenagem, haveria necessidade de percorrer mais 900 metros, aponta Carlos Correia. Ainda que o grosso da potência de alta tensão captada a 4 km do porto se destine a manter os navios de cruzeiro alimentados por energia elétrica quando estão atracados, o projeto abrange também a infraestrutura de carga. “Queremos eletrificar também os outros terminais e é necessário ir buscar essa energia elétrica em alta tensão”, explica.
A potência da instalação estará apta a carregar baterias dos navios quando estes, um dia, tenham autonomia elétrica para entrar e sair do Tejo, assegura o presidente do PL.
Nesta conversa à margem do evento de apresentação do estudo da Nova SBE sobre o impacto económico da atividade de cruzeiros na capital, o presidente do conselho de administração do PL explicou que a primeira fase do projeto da OPS de Santa Apolónia decorre até 2026 e implica um investimento de 18,4 milhões de euros. O valor inclui a referida ligação de 4 km, já adjudicada à E-Redes, e uma nova subestação desenhada pelo arquiteto Carrilho da Graça, autor do terminal de cruzeiros, e que envolve também a empresa Quadrante, projeto que já está a ser desenvolvido.
“Depois, falta parte da ligação da subestação até à entrada dos terminais de carga, e construção de duas subestações”, explicita o gestor. Ao todo, existem, de Santa Apolónia até ao Poço do Bispo, junto ao Parque das Nações, cinco terminais de carga e ainda o terminal de cruzeiros. Esta última fase, com subestações, ficará concluída até 2029 e implica mais dez milhões de euros de investimento.
A jusante, em Alcântara, também será instalado um sistema similar, apenas para navios de carga, com um orçamento de três milhões de euros. Esta parte está mais atrasada por ainda não se ter definido o local onde será feita a ligação à alta tensão.
“O nosso objetivo é que a energia que venha para o Porto de Lisboa seja produzida a partir de fontes de energia renovável”, afirma Carlos Correia, que desvenda ainda o investimento do PL em instalações de auto-produção de energia. Neste caso, serão concessionados espaços a privados para que estes façam a instalação e exploração.
Neste projeto, a administração do PL prevê aplicar cinco milhões de euros. “Toda a energia excedentária que possamos produzir, será ela própria área de negócio, disponibilizando essa energia a entidades próximas do Porto de Lisboa”, afirma.
“É a partir de projetos como estes e de concessões a empresas que façam investimento na instalação de painéis fotovoltaicos, ou outras soluções de produção de energia de fontes renováveis, que estamos a contar para descarbonização da atividade portuária”, explica ao ECO/Local Online.
O primeiro exemplo de produção de energia renovável no território do PL já está instalado em Algés, onde uma startup instalou uma mini-eólica urbana. Naquela mesma zona da jurisdição do PL, esta entidade está a colaborar na criação do Ocean Campus, projeto entre Oeiras e Lisboa e que, ficou-se a saber há dias pela voz do primeiro-ministro, virá a fazer parte de um plano maior para a Área Metropolitana de Lisboa, em que se inclui território também da margem esquerda do Tejo, no Arco Ribeirinho do Sul.
Da parte do PL, o projeto o Ocean Campus tem vindo a ser desenvolvido “normalmente”, diz o responsável. “Enquanto não nos for dada nova orientação, continuaremos a desenvolver o campus do mar tal como vínhamos a desenvolver, aguardando a constituição da nova sociedade”, explica.
Mantendo-se o atual figurino, o PL “já tem um conjunto de entidades comprometidas na sua instalação, designadamente as naves em concessão, uma à Fundação Champalimaud, outra à Câmara Municipal de Lisboa”. Mas há mais novidades nesta extremidade do território do PL. “Perspetiva-se a instalação da Nova IMS e de outras instalações que estão a ser negociadas, e a reativação da Doca de Pedrouços”, indica Carlos Correia.
“Temos o processo todo pronto. Estamos à espera de uma relação com a APA, que é necessária para termos o lançamento da concessão para reativação da para náutica de recreio. Vamos ter mais cerca de 200 lugares de estacionamento na Doca de Pedrouços. É uma insuficiência em Lisboa, temos maior procura que oferta”, conta o presidente do conselho de administração do PL.
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