“Transformar o resíduo numa matéria-prima” cria riqueza
A CCDR de Lisboa e Vale do Tejo defende uma mudança de paradigma na questão dos resíduos urbanos, assente na economia circular e na sustentabilidade, de modo a criar valor e riqueza no país.
“Penso que grande parte da solução para o futuro passará por uma alteração de paradigma: transformar o resíduo numa matéria-prima”, de modo a tornar-se um valor acrescentado e sustentável na economia circular, criando riqueza. Esta é a solução preconizada pelo vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), José Alho, face ao esgotamento da capacidade dos aterros e à necessidade de uma melhor gestão dos resíduos. As palavras foram proferidas na sessão de encerramento da iniciativa ECO Cidade, realizada em Mafra, no âmbito de uma parceria entre o ECO, o Local Online e a Sociedade Ponto Verde.
José Alho referiu que “os resíduos devem deixar de ser apenas um peso sobre os cidadãos, as autarquias, todos aqueles que são afetados pelas taxas e tarifas”, passando, sim, a ser “uma oportunidade para criar riqueza”, assente numa economia circular e de olhos postos na sustentabilidade.
O vice-presidente da CCDR-LVT apontou o exemplo do tecido económico da região de Lisboa e Vale do Tejo, que deu uma nova dinâmica aos resíduos, transformando-os noutros produtos que são uma mais-valia para a comunidade. “Temos aqui uma dinâmica de alteração e procura de soluções que nos deve deixar olhar o futuro com esperança”, sublinhou, dando conta da radiografia que a instituição fez à região no que concerne a reaproveitamento dos resíduos, com recurso a reciclagem, reutilização e reparação. “Através das plataformas do sistema de indústria responsável, conseguimos identificar os procedimentos de licenciamento e identificámos 18 indústrias na nossa região de Lisboa e Vale do Tejo que já substituem matérias-primas produzidas”.
Os resíduos devem deixar de ser apenas um peso sobre os cidadãos, as autarquias, todos aqueles que são afetados pelas taxas e tarifas, mas ser, sim, uma oportunidade para criar riqueza.
Os números falam por si: “45% da indústria faz isso ao nível dos resíduos de construção e demolição; 42% de óleos alimentares já são incorporados na cadeia de produção; temos 7% dos óleos minerais; e depois as madeiras com 4%”, detalhou José Alho. Destacou ainda a importância da componente geoestratégia, citando o caso da “primeira indústria de refinaria de lítio da Europa em Setúbal, que esteve recentemente em consulta pública”. Uma referência ao projeto Aurora, da petrolífera portuguesa Galp e da fabricante sueca de baterias elétricas Northvolt, com arranque previsto para 2028.
As propostas do responsável da CCDR contrariam o modelo que foi sendo construído na sociedade, ao longo dos anos, que “assenta no chavão de usar e deitar fora”. José Alho lembra, por isso, o ano de 1995, quando se contabilizavam mais de 300 lixeiras a céu aberto espalhadas pelo país. “Conseguimos com alinhamento e fundos da União Europeia construir um país onde temos aterros — independentemente de estarem agora a esgotar –, soluções de valorização energética dos resíduos e de outro tipo de valorizações, a implementação dos sistemas da recolha seletiva, a criação dos sistemas multimunicipais e as responsabilidades assumidas pelos diversos stakeholders”, salientou.
O responsável focou ainda o papel fulcral da educação ambiental. “Foram as mensagens através da educação ambiental em instituições, como o extinto Instituto de Promoção Ambiental — que eu tive o prazer de presidir no final dos anos 1990 –, que trouxeram para as escolas esta preocupação, e foram, muitas vezes, as crianças que induziram o comportamento e a inquietação às famílias, aos pais”, recordou. Por isso, o número dois da CCDR-LVT defendeu que a otimização da gestão dos resíduos é da responsabilidade da comunidade em geral. “Todos temos a responsabilidade de facilitar de maneira mais ou mais punitiva do ponto de vista da fiscalidade e das taxas, ou do ponto de vista de outras soluções, para que os cidadãos aderiram a estas questões”, destacou.
A aposta agora é reduzir e reutilizar, dando uma segunda vida aos resíduos, no âmbito da economia circular, e criando assim riqueza. Acrescem as metas europeias de descarbonização, das quais o país não pode eximir-se.
Por fim, concluiu José Alho: “É preciso comunicar muito e comunicar bem para nós conseguirmos ter sucesso”, no âmbito da gestão de resíduos no país.
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