Pessoas

“Será necessária uma abordagem mais ágil para captar oportunidades de investimento”, alerta Bernardo Rodo

Carla Borges Ferreira,

Bernardo Rodo, managing director da OMD, antecipa os desafios de agências de meios, meios e anunciantes para 2025.

Bernardo Rodo, managing director da OMD Portugal, em entrevista ao ECO/+MHenrique Casinhas/ECO

A OMD prevê para 2025 um crescimento moderado do investimento publicitário, ligeiramente inferior a 2024. “Devemos continuar a assistir a uma transformação tecnológica acelerada, com maior fusão entre os formatos digitais e tradicionais“, antecipa Bernardo Rodo, managing director da maior agência do Omnicom Media Group. Este contexto de transformação vai exigir um esforço adicional na formação de equipas e atividade regulatória, acrescenta o responsável, dando nota de que “num mercado fragmentado, com segmentações cada vez mais sofisticadas, será necessária uma abordagem mais ágil para captar oportunidades de investimento”.

Aos anunciantes, o responsável da OMD recomenda que equilibrem “a integração de tecnologias avançadas nos seus processos de decisão com uma abordagem que mantenha a autenticidade da marca e a proximidade com os consumidores”.

Bernardo Rodo recorda que o setor dos media está num ponto de transição. “A inovação deve equilibrar-se com a preservação de valores como a transparência, integridade e credibilidade“, aponta, sendo que “a capacidade dos media, em Portugal e no mundo, de prosperar dependerá da conjugação inteligente de novas tecnologias com uma abordagem ética e culturalmente relevante“.

“As redes sociais surgem como intermediárias principais, com algoritmos a desempenhar uma função central na disseminação de conteúdos. Este progresso tecnológico suscita preocupações como sejam a dependência de algoritmos no controlo editorial, polarização e desinformação“, alerta.

Para as agências de meios, o grande desafio é “acompanhar a evolução tecnológica, particularmente com a aceleração da inteligência artificial (IA), e a necessidade de assegurar que a criatividade e pensamento crítico estão no centro das recomendações estratégicas”.

Quais são os grandes desafios das agências de meios para o próximo ano?

As agências de meios enfrentam o desafio de acompanhar a evolução tecnológica, particularmente com a aceleração da inteligência artificial (IA), e a necessidade de assegurar que a criatividade e pensamento crítico estão no centro das recomendações estratégicas. A fragmentação das audiências, com introdução de plataformas que concorrem diretamente com televisão, e os ciclos de inovação cada vez mais curtos exigem uma cultura de adaptação contínua. Um dos aspetos críticos continuará a ser a capacidade de atrair e reter talento.

E dos anunciantes e também dos meios?

Os anunciantes deverão equilibrar a integração de tecnologias avançadas nos seus processos de decisão com uma abordagem que mantenha a autenticidade da marca e a proximidade com os consumidores. Será importante entender como os algoritmos influenciam as perceções e o consumo de informação e assegurar uma comunicação coerente e ética. Nos meios, o principal desafio está na sua capacidade de diversificar fontes de receita, navegar no espaço digital controlado pelas plataformas globais, e capacidade de construir uma oferta para públicos habituados a interações rápidas e personalizadas.

Como antecipa o investimento publicitário em 2025?

Prevemos um crescimento moderado, ligeiramente inferior a 2024. Devemos continuar a assistir a uma transformação tecnológica acelerada, com maior fusão entre os formatos digitais e tradicionais. Este contexto de transformação vai exigir um esforço adicional na formação de equipas e atividade regulatória. Num mercado fragmentado, com segmentações cada vez mais sofisticadas, será necessária uma abordagem mais ágil para captar oportunidades de investimento. Apesar da predominância do digital, meios como televisão e rádio continuarão relevantes. A convergência entre digital e offline será importante para maximizar o impacto das campanhas e relevância local. Com a possibilidade de desaceleração económica em alguns mercados, alguns anunciantes deverão privilegiar estratégias mais flexíveis.

Quais são os meios com maior potencial de crescimento e de quebra? Porquê?

Os meios digitais, como redes sociais, plataformas de streaming e podcasts, têm maior expectativa de crescimento devido ao aumento do consumo online e personalização oferecida pelas tecnologias de IA. Estas plataformas terão desafios específicos entre si, como por exemplo a transferência de pesquisa de produtos dos motores de pesquisa para as redes sociais e plataforma de commerce.

Por outro lado, os meios tradicionais que não se adequarem à convergência digital poderão enfrentar quebras.

A televisão continuará relevante, permitindo a construção de cobertura rápida e efeito de simultaneidade, contudo terá de competir com mais oferta de vídeo.

No último ano assistimos a diversas novidades no setor dos media. Como olha para o setor?

2024 foi um ano animado, com o lançamento de novos meios de rádio e televisão, reorganização do out-of-home, novas ofertas de connected TV e streaming e expansão de plataformas de retail media. Estas alterações são a resposta às exigências de novos hábitos de consumo e uma tentativa de explorar flancos de mercado. São representativas da capacidade de adaptação do setor, que enfrenta desafios como a sustentabilidade económica dos meios tradicionais e a dificuldade de concorrer com as plataformas globais no digital.

A integração da inteligência artificial e compra programática estão a redefinir não apenas a forma como os conteúdos são distribuídos, mas também como são criados. As redes sociais surgem como intermediárias principais, com algoritmos a desempenhar uma função central na disseminação de conteúdos. Este progresso tecnológico suscita preocupações como sejam a dependência de algoritmos no controlo editorial, polarização e desinformação.

O setor dos media está num ponto de transição. A inovação deve equilibrar-se com a preservação de valores como a transparência, integridade e credibilidade. A capacidade dos media em Portugal e no mundo de prosperar dependerá da conjugação inteligente de novas tecnologias com uma abordagem ética e culturalmente relevante.

Recuando a 2024, que pontos destaca como os mais positivos e negativos do último ano?

Como pontos positivos destaco a aceleração da digitalização e uma integração mais robusta entre canais online e offline, com novas iniciativas em rádio, televisão e plataformas digitais e a utilização crescente e mais consciente de IA, permitindo maior personalização de campanhas e eficácia na comunicação.

Ainda a expansão do diálogo direto entre marcas e consumidores, facilitado pelas redes sociais e novas ferramentas de interação digital e a inovação nos formatos publicitários, como retail media e connected TV, demonstrando a adaptabilidade do setor.

Nos pontos negativos, a persistência de desafios éticos relacionados com a manipulação de algoritmos, desinformação e polarização de conteúdos e também a crescente ansiedade social e impacto negativo da validação digital, exacerbados pela necessidade de interação física.

Há ainda a questão da sustentabilidade económica dos meios tradicionais, pressionados pela concorrência com plataformas digitais globais, e a fragmentação das audiências e a necessidade de equilibrar inovação tecnológica com valores éticos e credibilidade mediática.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.