Jornalismo

Confiança nas notícias atinge valor mais baixo em 10 anos

Lusa, + M,

Pouco mais de metade dos portugueses diz confiar em notícias na maioria das vezes. Mesmo assim, Portugal está entre os países onde se regista maior confiança, ocupando o 7º lugar entre 48 mercados.

A confiança nas notícias em Portugal atingiu o seu valor mais baixo em 10 anos — desde o início do Digital News Report Portugal –, com pouco mais de metade (54%) dos portugueses a declarar confiar em notícias na maioria das vezes.

Regista-se assim uma descida de dois pontos percentuais face a 2024 e de 10 pontos percentuais face a 2015, mas mesmo assim Portugal mantém-se entre os países onde se regista maior confiança, segundo o Digital News Report Portugal 2025 (DNRPT25) divulgadoesta terça-feira.

Apesar desta quebra, Portugal mantém-se entre os países onde se regista maior confiança, ocupando o sétimo lugar entre 48 mercados analisados, destacando-se sobretudo pela confiança líquida, é dos países onde a proporção de pessoas que confia em notícias é maior por comparação com a de pessoas que não confiam em notícias”, refere o relatório que inquiriu cerca de 97 mil indivíduos utilizadores de internet de 48 países. Em Portugal foram inquiridos 2.012 indivíduos.

Numa análise sociodemográfica, “os mais velhos, pessoas com rendimentos e escolaridade mais altos, e os portugueses de orientação política à esquerda e ao centro são os que mais confiam em notícias”, refere o estudo. Inversamente, “os mais jovens (25-44 anos), os de escolaridade e rendimento mais baixos e os politicamente indefinidos são os segmentos que apresentam menor confiança”.

Quanto à relação com as notícias, metade dos portugueses afirma este ano ter interesse por notícias, “mantendo-se este indicador praticamente inalterado face a 2024 e consolidando a estabilização registada nos últimos três anos, após a acentuada quebra verificada em 2022”.

Os mais velhos, os indivíduos com maior escolaridade, rendimentos mais elevados e aqueles com orientação política declarada são os que manifestam um maior interesse por notícias. Nos indivíduos com mais de 65 anos o interesse ascende a 62%, o que compara com os 39% para a faixa etária entre os 18 e os 24 anos.

“O interesse é também superior entre os homens face às mulheres e bastante menor entre os politicamente indecisos ou indefinidos”, refere o relatório, que afirma que a política e a confiança em notícias “continuam a ser fatores preditores centrais do interesse por notícias”.

Estes grupos “revelam ainda comportamentos distintos: recorrem mais a fontes diretas para aceder a notícias, utilizam com maior frequência verificadores de factos e estão mais preocupados com a desinformação ‘online'”.

Portugueses recorrem a media de confiança e fontes oficiais para verificar informação

A maioria dos portugueses recorre a marcas de notícias da sua confiança e fontes oficiais e uma minoria consulta mais de três fontes diferentes para confirmar informações suspeitas, com os jovens a diversificar mais as suas fontes.

De acordo com o relatório, a verificação de factos continua a ser uma “prática relevante” entre os portugueses este ano, “mas marcada por forte heterogeneidade nos recursos utilizados e pelas características sociodemográficas dos utilizadores“.

A maioria “recorre sobretudo a marcas de notícias da sua confiança (38%) e a fontes oficiais (38%), como ‘sites’ institucionais, seguidas dos motores de busca (35%) e dos verificadores de factos independentes”, como é o caso do Polígrafo (22%), e “uma minoria consulta mais de três fontes diferentes para confirmar informações suspeitas”.

Segundo o relatório, “as respostas evidenciam que os jovens (18-24 anos) tendem a diversificar mais as suas fontes, recorrendo com maior frequência a redes sociais, comentários de outros utilizadores e ‘chatbots’ de inteligência artificial (20% face a 10% da média geral)”.

Os públicos com mais rendimento e escolaridade têm “maior propensão para recorrer a marcas em que confiam e fontes oficiais”. Os homens mais velhos (55+) “recorrem mais a fontes institucionais e a marcas de confiança do que as mulheres da mesma idade e os ‘chatbots’ de IA para verificação são mais utilizados” por jovens (18-24 anos) do género masculino (25%) e feminino (15%).

Tal como no ano passado, “em 2025 o ranking da confiança em marcas de notícias continua a ser liderado pela RTP, com 75% dos portugueses a afirmarem confiar na sua informação, registando uma queda homóloga de quatro pontos percentuais, seguida do Jornal de Notícias (74%), Expresso (73%), SIC (73%), Rádio Comercial (72%), Público (71%) e Rádio Renascença (70%).

A Lusa soma a confiança de 69% dos portugueses, sendo que, “como agência noticiosa, não tende a chegar junto dos consumidores de forma direta, mas por intermédio da utilização da sua produção noticiosa por outras marcas de media”. A TSF, com 69%, e a RDP Antena 1, com 68%, completam o top 10.

Existe uma “tendência preocupante que abrange praticamente todas as marcas de notícias em estudo: a confiança nas marcas está a cair de forma generalizada, com três exceções”, o Correio da Manhã, Observador e Notícias ao Minuto são desde 2018, ano em que se deu início à utilização deste indicador, “as únicas marcas de notícias que aumentam e melhoram a sua situação em termos de confiança atribuída pelos portugueses”.

Portugal entre os países mais preocupados com desinformação na Internet

Portugal continua entre os países mais preocupados com a desinformação na Internet, com 71% dos portugueses a manifestarem preocupação com o fenómeno, nomeadamente com influenciadores e políticos, refere também o relatório.

“Em 2025, 71% dos portugueses afirmam estar preocupados com a desinformação e com o que é real ou falso na Internet, um nível de preocupação superior à média global (58%) e que coloca Portugal entre os países mais preocupados com este fenómeno”, destaca o relatório.

O nível de preocupação com a desinformação “mantém-se praticamente inalterado face a anos anteriores” e é “particularmente elevado entre os mais velhos, os mais escolarizados, os que têm rendimentos mais altos e os que possuem uma orientação política definida”.

A relação entre confiança em notícias e preocupação com desinformação “também se mantém consistente: quem confia em notícias tende a demonstrar níveis mais elevados de preocupação (79%) face a quem não confia (74%)”, lê-se no documento.

No que respeita às principais ameaças em termos de desinformação, “os portugueses apontam sobretudo os influencers e personalidades online (51%) e os políticos nacionais (44%), seguidos de governos ou atores estrangeiros e ativistas (ambos com 39%)”.

Em termos de preocupação com as redes sociais como veículo de desinformação, esta “mantém-se elevada, destacando-se o Facebook (56%) e o TikTok (55%) como as plataformas mais associadas a esse risco”.

Tendência para evitar notícias mantém-se em Portugal e mulheres lideram

A tendência para evitar notícias de forma frequente ou ocasional também se mantém em Portugal, embora com um ligeiro decréscimo face a 2024. Mais de um terço (35%) dos portugueses “afirmam evitar notícias de forma frequente ou ocasional, um ligeiro decréscimo face a 2024 (37%), mas confirmando a tendência crescente de evitar notícias observada na última década (70% evitam independentemente da frequência)”, refere o relatório.

A tendência de evitar notícias “é mais comum entre as mulheres, pessoas com escolaridade baixa ou média e quem aufere baixos rendimentos”, lê-se no documento. O cansaço com a quantidade de notícias (39%), a saturação com temas de guerra e conflitos (38%) e o impacto negativo no humor (32%) estão entre as razões apontadas para o evitar ativo de notícias.

“Estas razões variam consoante género e idade: as mulheres e os mais velhos referem mais frequentemente o cansaço e o impacto emocional, enquanto os mais jovens destacam a falta de relevância das notícias, a perceção de polarização, a sensação de impotência e a dificuldade em acompanhar os conteúdos”, aponta.

 

O tema da guerra, nomeadamente o conflito na Ucrânia, “continua a ser uma das principais fontes de saturação informativa”, segundo do DNRPT25. “A fadiga perante este tema é mais acentuada na Europa (com Portugal a situar-se acima da média europeia e global), o que reflete o efeito da proximidade geográfica na perceção e no consumo noticioso”, destaca o documento.

Em termos globais, quatro em cada 10 (40%) pessoas afirmam que “às vezes ou muitas vezes evitam as notícias – acima dos 29% em 2017 –, este é o valor mais elevado que alguma foi registado no âmbito do DNR”.

Muitos dos que evitam (39%) “dizem que as notícias têm um efeito negativo no seu humor, enquanto outros (31%) dizem que se sentem esgotados pela quantidade de notícias ou pensam que há demasiada cobertura de guerras e conflitos (30%) ou política nacional (29%)”.

Globalmente, a confiança global nas notícias (40%) manteve-se pelo terceiro ano consecutivo, apesar de ainda ser quatro pontos mais baixa do que no auge da pandemia.

“A Finlândia e a Nigéria registam os níveis mais elevados de confiança global (67% e 68%, respetivamente), enquanto a Grécia (22%) e a Hungria (22%) registam os níveis mais baixos”, segundo o estudo.

“Os inquiridos são claros quanto ao facto de a melhor forma das organizações noticiosas aumentarem a confiança seria aumentar a exatidão, a transparência e o jornalismo original, reduzindo simultaneamente o que muitos consideram ser uma cobertura tendenciosa”, refere o relatório.

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