Quem são os novos contabilistas e auditores? As mulheres dominam e a tecnologia ajuda

As profissões de contabilista e de auditor atraem hoje milhares de candidatos, ajudando a renovar o perfil dos profissionais nestas áreas dominadas no passado por homens.

Mulheres, com mais literacia digital e formações diversas. Este é o perfil dos novos contabilistas e auditores que estão a entrar no mercado, muito diferente da imagem de antigamente que refletia uma carreira sobretudo de homens e dominada por tarefas repetitivas e pouco apelativas. O digital veio para ficar e ajudar a dar um novo impulso a estas profissões que estão a tornar-se novamente atrativas e a ganhar espaço entre os mais jovens.

“A Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) como entidade reguladora tem perfeita noção de que a atração da profissão principalmente junto dos mais jovens não era a melhor, todavia foi feito nos últimos anos um trabalho muito sistemático para inverter a tendência, principalmente junto das escolas, tanto secundárias como do ensino superior”, refere Hélio Silva, consultor da OCC, ao EContas.

“Atualmente esse trabalho já começou a dar frutos, pois o nível de empregabilidade na profissão é extremamente elevado e com melhores remunerações. Começam também a existir novas categorias profissionais dentro da área de contabilidade e fiscalidade que anteriormente não existiam, principalmente ligadas ao IT e ao marketing”, acrescenta.

O fator tecnológico tem ajudado precisamente a dar este salto. “A profissão continua a ser atrativa, mas de forma diferente do que era no passado. A profissão evoluiu — e muito. Tornou-se altamente tecnológica. A IA, as plataformas digitais de reporte e as ferramentas de automação vão acelerar esse verdadeiro processo de transformação, que esperemos resulte numa maior atratividade da nossa profissão”, nota Virgílio Macedo, bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC).

A profissão continua a ser atrativa, mas de forma diferente do que era no passado. A profissão evoluiu — e muito. Tornou-se altamente tecnológica.

Virgílio Macedo

Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

A par da profissão, o “perfil dos candidatos também está a evoluir”. De acordo com o bastonário, “temos jovens com formações mais diversificadas, com maior literacia digital e uma apetência natural para trabalhar com tecnologia. Muitos trazem também um olhar mais crítico, mais sensível a temas como a ética, a sustentabilidade e o impacto social”.

Por outro lado, “temos também assistido a um aumento da presença feminina na profissão. Há cada vez mais mulheres a entrar e a destacar-se, eu diria que é uma evolução natural. É um desafio transversal à sociedade e ao setor, e na OROC temos sido ativos na promoção de políticas inclusivas e de valorização do mérito”.

Novas regras de acesso atraem mais candidatos

O mesmo acontece entre os contabilistas. “A diversidade de formação académica é notória, com muitos novos contabilistas provenientes de áreas como gestão, economia e tecnologias da informação, além da tradicional contabilidade”, nota Hélio Silva. Já do ponto de vista do género, “em 2024 possuíam inscrição ativa na OCC 38.342 mulheres contra 30.996 homens, pelo que é fácil constatar que as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais proeminente, tanto na prática profissional quanto em cargos de liderança dentro da OCC”.

Paula Franco, bastonária da OCC, revelou, em entrevista ao EContas, que “tivemos 5.000 candidatos no ano passado, quando antes eram 800”, sendo que a “grande maioria são jovens e mulheres”. Um salto que se deveu muito à mudança das regras de acesso.

Em 2024, possuíam inscrição ativa na OCC 38.342 mulheres contra 30.996 homens, pelo que é fácil constatar que as mulheres têm desempenhado um papel cada vez mais proeminente, tanto na prática profissional quanto em cargos de liderança dentro da OCC.

Hélio Silva

Consultor da Ordem dos Contabilistas Certificados

“O trabalho [de atrair mais pessoas] já foi feito e começou com a alteração da lei-quadro das ordens profissionais e consequente alteração do estatuto da ordem dos contabilistas certificados através do DL68/2023 de 7 de dezembro, o novo estatuto veio reformular e simplificar as regras de acesso à profissão”, explica Hélio Silva, consultor da OCC.

Ajustar a formação à nova realidade

Por outro lado, “temos de mudar a forma como falamos sobre a profissão. Mostrar que um Revisor Oficial de Contas hoje não é apenas alguém que valida números, mas sim um analista, um conselheiro estratégico, alguém com um papel relevante na solidez do sistema económico, que acrescenta valor acrescentado aos seus clientes”, frisa Virgílio Macedo, bastonário da OROC. É também preciso adaptar a formação a esta nova realidade.

“A formação tem de acompanhar a evolução da realidade. Hoje já não é possível preparar um Revisor apenas com essa estrutura clássica. É essencial introduzir matérias como ciência de dados, análise preditiva, cibersegurança, IA, comunicação e gestão de risco”, aponta. Um trabalho que tem sido feito na Ordem, reforçando o “diálogo com instituições de ensino superior para alinhar currículos com as competências realmente exigidas pelo mercado”.

Também a OCC “trabalha em estreita colaboração com a academia, tanto do ponto de vista conceptual, através da unidade curricular do projeto de simulação empresarial que dá acesso à profissão de forma mais simplificada, como também na colaboração em diversos, congressos, conferências, seminários e workshops sobre as temáticas que envolvem a profissão”, diz Hélio Silva.

Isto além de disponibilizar “de forma gratuita o Toconline Ensino a todas as instituições protocoladas, de forma a assegurar que para além do conhecimento conceptual os candidatos a profissionais disponham de uma réplica em contexto formativo daquilo que os espera do ponto de vista prático no mercado de trabalho, como forma de promover uma maior rapidez e adaptabilidade do conhecimento teórico às práticas existentes nas empresas”.

É também preciso ajustar a remuneração para tornar a profissão mais atrativa. Como o EContas escreveu, um inquérito realizado pela OCC mostra que “91% [dos inquiridos] considera que não recebe uma remuneração justa face à importância dos serviços prestados e às competências e habilitações necessárias ao exercício da profissão”.

As baixas avenças, aliás, fazem parte da lista de principais barreiras ao crescimento da atividade apontadas pelos profissionais. Isto além da deslealdade entre pares, a inteligência artificial, burocracia, formação e excesso de legislação.

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