Cascais campeã de alunos no privado e Castro Verde nos salários. País à lupa em novo estudo da Pordata
Portugal cada vez mais pendurado no litoral e interior "às moscas”. Esta é uma das conclusões do estudo da Pordata, que traça o cenário dos 308 municípios a um mês das autárquicas.

Portugal é um país com desigualdades crescentes, demonstra um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) que nesta sexta-feira chega ao site da Pordata. A base de dados estatísticos da FFMS revela realidades como o crescimento da população nas grandes Lisboa e Porto, ao passo que no interior os municípios vive com cada vez menos gente.
A Pordata analisou a evolução de diversos indicadores nos 308 municípios entre 2021 e 2024 e, perante o manancial informativo, multiplicam-se as hipóteses de ângulo de análise: quer saber onde o salário médio é mais alto? Dirija-se a Castro Verde.
Onde poderá haver maior potencial na abertura de uma farmácia? Arruda dos Vinhos, que tem uma farmácia por 7.700 habitantes, enquanto a média nacional é de uma para cada 3.400 residentes. Qual o novo ponto quente turístico? Gondomar, que de 2019 a 2024, período de abertura de vários hotéis, aumentou as dormidas em mais de sete vezes, de 14.320 para 106.503.

A deslocação dos cidadãos para o litoral reflete-se, necessariamente, no alojamento. Se em Lisboa é preciso pagar 3.826 euros por metro quadrado de casa, em Penedono são apenas 574 euros, segundo os dados constantes das avaliações bancárias.
Na capital, de 2021 para 2024 regista-se um crescimento de 23% nos valores, subida expressiva que, contudo, é apenas um terço da verificada na Ponta do Sol e Ribeira, dois concelhos próximos do Funchal, na Madeira. Também Santa Cruz entra na lista dos cinco concelhos com maior crescimento na avaliação das casas, na ordem dos 60%, juntando-se ao trio madeirense dois municípios do Médio Tejo, Constância, ambos na casa dos 61%.
Os dados recolhidos permitem constatar que 25,3% da população do país está concentrada em 3% do território, mais concretamente nos 10 municípios com mais cidadãos. Destes, seis estão na Área Metropolitana de Lisboa (Lisboa, Sintra, Cascais, Loures, Almada, Amadora), três na Área Metropolitana do Porto (Gaia, Porto, Matosinhos) e um no Minho, na capital daquela que o Governo perspetiva ver como terceira Área Metropolitana do país. Braga destaca-se também por se ter tornado no sétimo município com mais de 200 mil habitantes, após uma subida de 4,2% no número de residentes.

O pódio populacional é composto por Lisboa (575.739 habitantes), Sintra (400.947) e Gaia (312.984). Destes, o concelho ainda liderado por Basílio Horta superou agora os 400 mil habitantes, fruto de um crescimento de 3,5% em demografia, ao passo que Lisboa assistiu a um aumento de 5,6% da população entre 2021 e 2024. Ainda na Grande Lisboa, Cascais destaca-se noutro pódio, o da frequência de ensino privado, com 75,6% dos jovens do primeiro ciclo em fuga à escola pública.
No que concerne à quantidade de habitantes, nota para o Porto, quarto concelho mais populoso do país e que teve a subida mais pronunciada neste mesmo período de 2021 a 2024, com um acréscimo de 7,1%, para 252.687 pessoas, revela a Pordata. Do lado oposto, o somatório dos 10 concelhos com menos residentes até baixou. Nesta dezena de municípios, o total da população é metade da que vive no Lumiar, a maior freguesia de Lisboa.
Já no conjunto dos 308 municípios que compõem Portugal, coube a Óbidos o crescimento percentual mais pronunciado, embora os 10,5% signifiquem um total de apenas 13.720 residentes. Onde o crescimento é, certamente, mais desafiante para as autarquias é na Amadora, que não para de ver a população crescer, agora para 181.607 habitantes (+4,9% que em 2021).
Para lá de esta situação ter feito o concelho liderado por Vítor Ferreira subir um lugar na lista dos mais populosos concelhos do país (agora é nono, trocando de lugar com Matosinhos, ainda que por uma diferença de menos de 600 pessoas), veio aprofundar a pressão territorial, para um novo rácio de 7.637 habitantes por quilómetro quadrado.
Alentejo e Açores despovoados

Se Alcoutim, o concelho com menor densidade populacional do país (segundo os dados da Pordata), tivesse uma pressão igual à da Amadora, viveriam ali, na raia algarvia com Espanha e o Alentejo, mais de 40% da atual população portuguesa. Cenários à parte, contam-se apenas 2.401 residentes, quatro pessoas por quilómetro quadrado de território, mostra a base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos. A título de curiosidade, em 2005, Alcoutim tinha 3.482 habitantes, lê-se no site da autarquia liderada pelo socialista Paulo Paulino.
A queda populacional é um dado que destaca Alcoutim no mapa por más razões, tal como outro concelho de interior, que dali dista menos de 150 km, Barrancos. Enquanto a média nacional de variação populacional do país regista um acréscimo de 3,2%, Alcoutim e Barrancos perderam, desde 2021, 4,4% e 5,5%, respetivamente. Em 2024, os dez concelhos com menos gente a viver dentro das suas fronteiras foram Arronches, Castanheira de Pera, Porto Moniz, Mourão, Alcoutim, Alvito, Santa Cruz das Flores, Lajes das Flores, Barrancos e Corvo.
À exceção do segundo, concelho da ponta nordeste do distrito de Leiria, e de Alcoutim (na fronteira algarvia com o Alentejo), os demais oito municípios com menos população são açorianos ou alentejanos. Mas nem tudo é negativo no interior sul. Alcoutim é onde a relação entre população e espetáculos ao vivo mais se destaca, com 130 sessões. E Castro Verde tem a folha salarial mais generosa para os trabalhadores por conta de outrem: 2.479 euros.
A diferença entre litoral e interior vê-se noutros indicadores, como a população mais envelhecida, liderança que pertence a Vinhais, distrito de Bragança, onde há quase uma pessoa em cada duas com 65 ou mais anos de idade, percentagem que é praticamente o dobro dos 24% de média nacional. No sentido contrário, o Montijo é município do continente mais rejuvenescido, com 85 jovens por cada 100 idosos. Dos 308 municípios, só 120 tiveram aumento de jovens.
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