Contabilistas, auditores e sistema financeiro devem “manter padrões éticos”, adverte Miranda Sarmento
A necessidade de manter padrões éticos é uma responsabilidade de todo o sistema financeiro, diz Miranda Sarmento, uma ideia reforçada por outros responsáveis presentes na conferência do IESBA.
A ética é essencial para manter a confiança no reporte financeiro e não financeiro depois de vários casos polémicos no passado, tanto em Portugal como lá fora. O aviso foi deixado por Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, notando que o cumprimento destes padrões não é uma responsabilidade única de auditores e contabilistas certificados, mas de todo o sistema financeiro.
“O colapso da Enron ou do Lehman Brothers mostraram-nos como uma distorção no reporte e uma auditoria fraca podem ter consequências devastadoras. Portugal também enfrentou os seus episódios com instituições bancárias nacionais”, afirmou o governante durante a primeira conferência do IESBA – International Ethics Standards Board for Accountants, que se realiza esta segunda-feira no ISEG, em Lisboa.
Estes casos deixaram “claro que quando a ética e a supervisão falham – seja nos EUA, Itália ou Portugal – as consequências não se limitam a entidades individuais, mas têm impacto em toda a economia e sociedade”. “A confiança é, por isso, o ativo mais valioso que temos e, uma vez perdido, é difícil recuperá-lo”, frisou, apontando que isto faz com que a “conduta ética na contabilidade e auditoria seja indispensável”.
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"Bancos, seguradoras, gestores de ativos e reguladores partilham a responsabilidade de manter padrões éticos.”
Uma responsabilidade que não é exclusiva destas áreas. “Bancos, seguradoras, gestores de ativos e reguladores partilham a responsabilidade de manter padrões éticos”, referiu Miranda Sarmento.
A ideia foi reforçada ao longo dos painéis que se seguiram sobre o tema da ética e independência na auditoria e contabilidade. Estes profissionais “funcionam num ecossistema”, referiu Gilly Lord, da PwC. “A questão é como vivemos estes valores”, disse, por outro lado, Alan Johnson, da IESBA, notando que é preciso que os líderes “estabeleçam as políticas, mas também que vivam de acordo com elas”. “A qualidade na auditoria não parte apenas daqueles que fazem a auditoria, mas de todo o ecossistema”, frisou o responsável.
IA e ESG vêm desafiar compromisso com ética
A necessidade de manter padrões de ética e independência ganha especial relevância num período marcado por vários desafios para estas áreas. “Os desafios futuros vão testar a mais o nosso compromisso com a ética. A transformação digital, inteligência artificial e o crescente ênfase do reporte não financeiro – em particular aquele relacionado com a sustentabilidade e critérios ESG – criam novos dilemas para contabilidades e auditores”, afirmou o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.
Neste cenário, “a qualidade da informação produzida por contabilistas e verificada por auditores será decisiva: tem de manter-se precisa, transparente e útil na tomada de decisões, apesar da complexidade das novas fontes de informação e das exigências de reporte”, realçou, notando que “manter os padrões éticos será ainda mais crucial à medida que navegamos por estes desafios, garantindo que a inovação reforça a confiança em vez de miná-la”.
Há ainda os desafios relacionados com a desregulação e tensões geopolíticas, mas também com o facto de cada jurisdição e país ter legislação local e a sua própria interpretação das regras, referiu Maggie McGhee, da Association of Chartered Certified Accountants (ACCA). É, por isso, necessário apostar numa maior colaboração e comunicação, defendeu.
Esta deve ser uma “linguagem global”, referiu Gabriela Figueiredo Dias, presidente do IESBA, salientando que os padrões éticos são mais importantes do que nunca em cenários de maior incerteza, como aquele que vivemos atualmente.
Notícia atualizada às 14h17 com mais informação
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