Sintra governada por PSD e Chega. IL tira confiança a vereadora eleita

A Iniciativa Liberal retirou a confiança política à vereadora eleita a 12 de outubro na coligação dos liberais com o PSD. Razão invocada é a adesão ao Executivo que Marco Almeida montou com o Chega.

Depois de 12 anos de governação do PS com Basílio Horta, a Câmara Municipal de Sintra passa a ter um Executivo que unirá o PSD, o Chega e uma vereadora eleita pela Iniciativa Liberal, mas a quem o partido tirou a confiança política.

Em declarações à SIC à saída da primeira reunião de Câmara, Marco Almeida referiu que o acordo foi “muito fácil” de alcançar e negou estar a contrariar as expetativas dos eleitores da coligação PSD/IL/PAN. “Durante a campanha eleitoral, fiz questão de afirmar que por mim não haveria linhas vermelhas a não ser por incompetência”. Antes de fechar os acordos para a governabilidade da autarquia, “fiz questão de falar com todos os eleitos à Câmara Municipal de Sintra para que pudéssemos encontrar uma solução”.

Contudo, afirmou, o PS “entendeu ficar de fora”. Lamentando a decisão dos socialistas de não alinhar num executivo com o Chega, Marco Almeida salienta que “em democracia não há votos de primeira e não há votos de segunda. Os sintrenses decidiram” quem foi eleito para a vereação, salienta.

Durante a campanha eleitoral, fiz questão de afirmar que por mim não haveria linhas vermelhas a não ser por incompetência.

Marco Almeida

Presidente da Câmara Municipal de Sintra

“Fico satisfeito por ter um entendimento com os vereadores do Chega para governarmos a Câmara durante quatro anos, pessoas empenhadas. Recebi da parte dos vereadores do Chega a total disponibilidade para colaborar e para montarmos um projeto”.

Marco Almeida não poupa nas críticas aos socialistas: “o PS que se defende muito como fundador da democracia é precisamente aquele que não aceita que haja votos todos de primeira, e não votos de primeira e de segunda. O partido tem uma visão enviesada da democracia, e lamento muito isso”.

Assegurando que o Conselho Nacional do PSD não estabeleceu limites a acordos pós-eleitorais nas autarquias e lembrou que o partido já governou em Sintra com apoio da CDU. “O que importa é servir os sintrenses. Lá fora, fora desta bolha mediática, os sintrenses não querem saber de que partidos é que os vereadores são, querem que haja um projeto que resolva os seus problemas”.

Os vereadores do Chega “têm a minha confiança” e “acrescentam valor à gestão da Câmara”, assegura o presidente.

Iniciativa Liberal afasta-se do Executivo de Sintra e a decisão deixa pistas para Lisboa

A coligação nas autárquicas entre o PSD e a Iniciativa Liberal em Sintra tinha originado uma cisão na união dos social-democratas aos seus parceiros habituais, o CDS, tendo levado ao lançamento de uma candidatura a solo dos centristas.

Agora, Mariana Leitão, líder dos liberais, partido que almejava fazer parte de mais um dos executivos das maiores câmaras do país, recusa integrar o Executivo do presidente eleito, Marco Almeida, invocando a deliberação de 21 de outubro da Comissão Executiva, de não governar ao lado de vereadores do Chega.

Em comunicado, a líder da IL, Mariana Leitão, escreve: “Eunice Baeta, vereadora eleita pela coligação PSD/IL em Sintra, informou-me ontem [quinta-feira] que tomou a decisão de integrar um executivo nessas condições, violando a decisão tomada pela Comissão Executiva da IL”.

A propósito da decisão da presidente da IL, Marco Almeida afirmou nesta sexta-feira – desde logo alertando: “eu vou ser pouco agradável” – que Mariana Leitão “teve oportunidade de participar na campanha eleitoral em Sintra, e não o fez. A estrutura local da Iniciativa Liberal validou este entendimento. Eu fico satisfeito”.

Leitão acrescenta: “Face a essa decisão, que é uma prerrogativa que assiste aos vereadores eleitos, uma vez que o mandato que exercem é pessoal, decidi retirar a confiança política à Eunice Baeta, deixando o seu mandato de ser exercido em representação da Iniciativa Liberal”.

As autárquicas determinaram quatro vereadores para PSD/IL/PAN, quatro para a coligação PS/Livre de Ana Mendes Godinho (que na quinta-feira já tinha vindo denunciar o acordo que Marco Almeida se prepara para anunciar após uma reunião que está a decorrer, segundo apurou o ECO/Local Online) e três para o Chega, numa candidatura liderada por Rita Matias.

Segundo escreveu o Público, o Executivo de Marco Almeida contará com os números dois e três da lista de Matias, depois da própria, deputada em São Bento, prescindir do lugar de vereadora eleita. A Anabela Macedo caberá o pelouro de segurança e fiscalização municipal, e a Ricardo Aragão Pinto as atividades económicas, fundos comunitários e mercados municipais.

Ao anunciar a retirada de confiança política a Eunice Baeta, tal como o pedido para que apresente renúncia ao cargo de vogal da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão destaca que o partido “sempre disse que nunca integraria qualquer governo com o Chega”, chamando-lhe uma “posição intransponível”. O partido, destaca Leitão, “não partilha nem tolera o populismo, o autoritarismo ou o ódio que o Chega amplifica e representa. Não há compromisso possível entre quem defende a liberdade individual, a responsabilidade e o Estado de Direito com quem vive da divisão, da demagogia e do ataque às instituições democráticas. A Iniciativa Liberal não abdica dos seus princípios por cargo nenhum, nem viabiliza nem branqueia o projeto político do partido Chega”.

Com o caso do Porto já resolvido – Pedro Duarte conquistou o apoio de um dos vereadores eleitos pelo PS, a quem atribuiu a pasta da Cultura, e assegurou assim maioria sem ter de recorrer ao deputado do Chega – fica a expectativa sobre o que sucederá em Lisboa.

Ali, Carlos Moedas, eleito numa coligação do PSD, CDS e IL, não conseguiu assegurar maioria, ao passo que o Chega dispõe dos dois vereadores que lhe permitem, caso opte por repetir o passo de Marco Almeida, governar como maioritário até 2029.


Notícia atualizada às 12h40 com declarações de Marco Almeida

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