“Daqui a 5 anos gostaríamos de ter 50 satélites”, diz CEO da LusoSpace

Na Constelação de satélites Lusíada, a LusoSpace já está a iniciar testes com a Marinha Portuguesa para utilizarem o sistema de VDES para a comunicação dos seus navios.

Já com um satélite da Constelação Lusíada no espaço e 12 a circular a órbita da Terra em “meados do próximo ano”, Ivo Vieira não quer que a constelação de satélites para comunicações marítimas da LusoSpace se fique por aqui. Em cinco anos, quer ter 50 satélites a orbitar a Terra. Neste momento, a empresa está a levantar 500 mil euros na plataforma da GoParity.

“Vamos ter 12 [satélites], gostaríamos de lançar pelo menos mais quatro satélites com órbitas diferentes para melhorar a cobertura, mas daqui a cinco anos gostaríamos de ter uns 50 satélites, de maneira que tenhamos aqui um serviço muito frequente para os navios”, adianta Ivo Vieira, fundador e CEO da LusoSpace, ao ECO/eRadar.

O atual projeto da Constelação Lusíada prevê o lançamento de 12 satélites para comunicações marítimas, um projeto que exige um financiamento de 15 milhões de euros, dos quais 10 milhões da Agenda New Space do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê um piloto com a Marinha Portuguesa.

Vamos ter 12 [satélites], gostaríamos de lançar pelo menos mais quatro satélites com órbitas diferentes para melhorar a cobertura, mas daqui a cinco anos gostaríamos de ter uns 50 satélites, de maneira que tenhamos aqui um serviço muito frequente para os navios.

“Isto é um projeto de 15 milhões de euros, um projeto bastante grande, que exige cofinanciamento. Cerca de 10 milhões de euros são financiados pelo PRR e cinco milhões são financiados pela própria empresa. Temos estado a recorrer a várias fontes de financiamento: autofinanciamento, financiamento bancário e capital de risco. Temos uma ronda de um milhão de euros que vai entrar em dezembro“, revela.

Ivo Vieira não quis adiantar nesta fase qual a capital de risco que vai investir na empresa, mas refere que é “uma capital de risco que tem um fundo Sifide e vai ser através desse fundo Sifide que vamos ter esse investimento”.

Mas não só. Através da plataforma da GoParity, a empresa está ainda a procurar levantar 500 mil euros para dar gás à Constelaçãoaté 2 de dezembro já tinha obtido junto a 135 investidores mais de 170 mil eurose, em breve, lançar os próximos quatro satélites.

“Já lançámos o primeiro satélite. Neste momento temos outros quatro satélites que já chegaram ao local para onde serão depois integrados com o lançador — o Luís de Camões, Fernando Pessoa, Agustina Bessa Luís e José Saramago. Serão lançados com o SpaceX. Já estamos a começar a produzir outros sete, que serão lançados em junho”, diz. Portanto, “em meados do próximo ano, teremos 12 satélites de comunicações marítimas”, sintetiza Ivo Vieira.

‘Waze’ dos oceanos pode valer 100 milhões

Os satélites da Constelação Lusíada podem oferecer um de dois serviços, permitindo desenvolver dois tipos de negócios, com base na tecnologia: o AIS (Automatic Identification System) e o VDES (VHF Data Exchange System).

“O AIS é um sistema que os navios têm, em que emitem um sinal da sua identificação e da sua posição. Os satélites recolhem esses dados para os transmitir para várias entidades como, por exemplo, seguradoras, empresas que estão na Bolsa ou investidores que querem perceber se a carga de mercadoria do navio vai chegar atrasada ou não, ou se há um risco de passar por uma zona com piratas ou com mau tempo”, descreve Ivo Vieira.

Ivo Vieira, fundador e CEO da LusoSpace.

“É um negócio maduro e que já existe há 20 e tal anos. Em relação a este negócio, já temos muitos clientes interessados, com quem já fizemos vários contactos e até já temos propostas. Portanto, serão a parte de rendimento principal”, diz. “Para o AIS estamos a esperar à volta de oito milhões de euros por ano”, avança quando questionado sobre potenciais receitas.

Já o VDES não envia só a posição do navio, mas “é um canal de comunicação em que se pode enviar e receber curtas mensagens e ficheiros, que permite, no fundo, fazer aquilo que nós chamamos, criar o Waze dos oceanos”, refere o CEO. Ou seja, a “comunidade marítima vai poder partilhar informações — sobre o tempo, o fundo do mar, icebergs, potenciais piratas… — para a comunidade e, portanto, tornar o mar mais sustentável e mais seguro”, explica.

“É um novo mercado, precisa tempo para crescer. Não consigo dar agora valores definitivos, mas sabemos que com a exploração do ‘Waze dos oceanos’, com os serviços que vamos providenciar, estamos a falar de ordens de grandeza de 100 milhões de euros” de receitas, estima.

Piloto com a Marinha

O foco da LusoSpace tem sido desenvolvimento de tecnologia para uso civil. Mas a Constelação terá um uso dual. “Neste momento nesta Constelação de satélites já estamos a iniciar testes com a Marinha portuguesa para utilizarem o sistema de VDES para a comunicação dos seus navios. Este sistema tem várias vantagens, tem uma encriptação bastante segura que faz com que a largura de banda seja mais baixa, mas para a área militar, preferem ter menos largura de banda mas mais encriptação. Portanto, isso é muito positivo”, destaca.

“Depois é uma constelação nacional. Portanto, para a Marinha portuguesa é uma grande soberania das suas telecomunicações”, reforça.

Nesta Constelação de satélites já estamos a iniciar testes com a Marinha Portuguesa para utilizarem o sistema de VDES para a comunicação dos seus navios. Este sistema tem várias vantagens, tem uma encriptação bastante segura que faz com que a largura de banda seja mais baixa, mas para a área militar, preferem ter menos largura de banda mas mais encriptação. Portanto, isso é muito positivo.

O gestor — que sonhava em ser astronauta e chegou a concorrer duas vezes — fez a sua tese de licenciatura no Po-SAT 1, do professor Carvalho Rodrigues, o primeiro satélite português e, em 2002, lançou a LusoSpace. Na época não era um negócio evidente para obter financiamento. “Quando iniciámos a atividade, já tínhamos um contrato com a Agência Especial Europeia e foi muito difícil conseguirmos empréstimo de bancos. Era mais fácil ter um empréstimo para abrir um restaurante do que para abrir uma empresa nesta área, nem sabiam o que isso era, na verdade”, lembra.

“Seis, oito anos depois já tinha resultados financeiros interessantes e aconteceu o oposto. Como a construção civil e a restauração sofreu muito naqueles anos [da troika] os bancos estavam à procura de clientes e fomos assediados pelos bancos porque viam os rácios os valores”, conta.

Hoje a empresa, com cerca de 35 pessoas — das quais 90% graduadas em engenharia; um terço de doutorados —, tem registado uma subida média anual de 20% na sua faturação, estimando o responsável que, com o contributo do PRR, atinjam os cinco milhões de euros de receitas no final deste ano.

A indústria portuguesa tem tido dificuldade em crescer por causa também do dinheiro que é colocado na Agência Espacial Europeia (ESA). Basicamente, o mercado da ESA é ditado pelo dinheiro que os países membros lá colocam. Portanto, esse aumento vai ser muito positivo para as empresas portuguesas crescerem e aumentar a sua capacidade. A Defesa ter entrado neste Ministerial da ESA, vai permitir que as empresas portuguesas possam desenvolver produtos e capacidades para a área da defesa a partir do espaço.

Ivo Vieira olha com otimismo para a evolução do setor espacial português, num momento em que o país aumentou 51%, para 204,8 milhões de euros, relativamente ao período 2026-2030, o seu contributo para a Agência Espacial Portuguesa (ESA).

“A indústria portuguesa tem tido dificuldade em crescer por causa também do dinheiro que é colocado na Agência Espacial Europeia (ESA). Basicamente, o mercado da ESA é ditado pelo dinheiro que os países membros lá colocam. Portanto, esse aumento vai ser muito positivo para as empresas portuguesas crescerem e aumentar a sua capacidade. A Defesa ter entrado neste Ministerial da ESA vai permitir que as empresas portuguesas possam desenvolver produtos e capacidades para a área da defesa a partir do espaço”, destaca o gestor.

O Espaço, tanto na observação da Terra como nas telecomunicações e até na navegação também, é um domínio por excelência que vai permitir, no fundo, que a economia de Defesa nacional possa desenvolver-se“, conclui.

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