Mário Passos quer tornar Famalicão mais atrativo para as pessoas e para as empresas. E põe a falta de habitação e "deficitários" transportes à cabeça para resolver.
Autarca do concelho campeão das exportações no norte do país e o terceiro no ranking nacional, Mário Passos revela que Vila Nova de Famalicão registou “um valor de exportações superior a dois mil milhões de euros“, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). E tem tido um bom comportamento face à crise causada pela Covid-19. “Foi dos concelhos que melhor reagiu à crise pandémica com mais empregos criados e um dos que mais aumentou as exportações”.
A liderar a autarquia de um concelho com um forte ADN empresarial, com empresas a dar cartas como a Continental Mabor, a Leica, a Coindu ou a Riopele, Mário Passos quer tornar o “território mais atrativo para as pessoas e mais competitivo para as empresas”. Esta sexta-feira o autarca social-democrata participa na conferência conjunta com o ECO/Local Online, alinhada na temática “Famalicão.30 – Estratégia de Desenvolvimento de Vila Nova de Famalicão para o período 2022-2030”.
Em entrevista ao ECO, o edil fala ainda da capacidade de atrair investimento e em muito graças à “localização privilegiada” e às boas acessibilidades ao concelho, apesar da “deficitária rede dos transportes públicos“. E que Mário Passos quer ver resolvida, até 2029, com a “criação de uma rede intermunicipal, em conjunto com os municípios da Trofa e de Santo Tirso, num investimento global de 80 milhões”.
Outro calcanhar de Aquiles do concelho é a menor oferta de habitação face à procura. A resposta, avança, está nos “62 milhões de euros a investir, nos próximos seis anos”, com vista à melhoria do parque habitacional.
Por fim, o edil aponta a união entre empresas, universidades e poder público como o caminho a trilhar para uma maior competitividade, inovação e internacionalização.
O concelho de Vila Nova de Famalicão é o terceiro exportador nacional. O que contribui para este lugar no ranking nacional?
É conhecido e reconhecido o ADN empresarial famalicense como um traço identitário do nosso concelho. Aqui surgiram, ainda no século XIX, algumas das primeiras unidades algodoeiras do país que deram origem ao processo de industrialização em Portugal. Desde então, o nosso território tem sido um chão empresarial fértil onde têm germinado grandes marcas de referência nacional e internacional, e onde setores como o têxtil, a metalomecânica e o agroalimentar souberam crescer, especializar-se e diferenciar-se.
Este histórico explica muita da nossa apetência produtiva. Não deixa de ser igualmente relevante para este crescimento a nossa localização privilegiada no noroeste português, entre o Porto e a Galiza, Espanha. O concelho é servido por um cruzamento de autoestradas – A3 (Porto – Vigo) e A7 (Guimarães – Póvoa de Varzim) –, ficando a escassos 20 minutos do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e do Porto de Leixões. Para além disso, dá-se aqui o cruzamento da Linha Ferroviária do Norte com a Linha do Minho que faz a ligação a Espanha.
Famalicão foi dos concelhos que melhor reagiu à crise pandémica com mais empregos criados e um dos que mais aumentou exportações. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam um valor de exportações superior a dois mil milhões de euros.
Qual a importância desse histórico para o alavancar da economia local?
Este histórico desenvolveu todo um ecossistema empresarial e institucional que gera respostas ajustadas às conjunturas e circunstâncias do momento. Não é certamente por acaso que, como demonstra o último relatório trimestral da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) – o Norte Conjuntura –, Famalicão foi dos concelhos que melhor reagiu à crise pandémica com mais empregos criados e um dos que mais aumentou exportações. Os últimos dados do INE indicam um valor de exportações superior a dois mil milhões de euros.
Quais são as principais empresas exportadoras de Vila Nova de Famalicão?
As áreas das principais indústrias exportadoras são têxtil, componentes automóveis, metalomecânica e agroalimentar. Como exemplos de grandes empresas noto a Continental Mabor, a Leica, a Coindu, a TMG, a Riopele e tantas outras…
Qual é o valor do investimento feito em 2022 pelas empresas no concelho? E maioritariamente em que setor?
É um dado que não conseguimos quantificar, porque muitos investimentos são da esfera das próprias empresas e não dispomos desses dados. Podemos, sim, quantificar os números do investimento, feito pelas empresas, pela via dos programas municipais de apoio ao investimento que disponibilizamos, quer pela via de novos negócios, quer pela via da atração de negócios para o nosso território.
E neste contexto, só no último ano, registamos cerca de 8,2 milhões de euros de novos investimentos. São os dados que apurámos que resultam desse acompanhamento dos serviços municipais. São investimentos em áreas muito distintas, mas grande parte deles para a instalação de unidades de produção industrial.
É considerado um dos concelhos mais empreendedores do país. Qual é a estratégia de desenvolvimento de Famalicão e as prioridades económicas para alavancar ainda mais o concelho de 2023 e a 2030?
A nossa estratégia de desenvolvimento económico está alicerçada fundamentalmente em três eixos: atração e facilitação de investimento, desenvolvimento de programas de pré-aceleração, aceleração e incubação para startups com ambição global, e uma aposta clara e forte na inovação e internacionalização.
Diferenciação, sustentabilidade e inovação são palavras-chave. Por isso, o salto que estamos a dar do Famalicão MadeIN para o Famalicão CreatedIN, isto é, a passagem de um município produtor para um município criador. Mas criador de valor acrescentado, tanto ao nível de produtos e processos, como de qualificação de recursos humanos.
A esta ideia está subjacente o modelo da tripla hélice da inovação que consiste num novo paradigma de produção de inovação. Este deixa de ser centrado apenas na indústria e passa a apoiar-se em três elementos inter-relacionados: as empresas, as universidades e o poder público.
Temos de resolver os problemas existentes ao nível da habitação que, neste momento, não chega para a procura, e o problema dos transportes públicos cuja rede é deficitária.
O que falta em Famalicão para atrair mais investimento que crie ainda mais postos de trabalho?
Temos de prosseguir com a nossa aposta na valorização e assertividade do ensino profissionalizado. Temos de aplicar o nosso Plano de Desenvolvimento Económico que, entre outras medidas, prevê a criação de uma Plataforma de Simbioses Industriais, de um Programa de Bolsas de Talento destinado a jovens que apresentem projetos inovadores.
Assim como a criação um diretório para comunicar a capacidade instalada de investigação e desenvolvimento no concelho, além da dinamização de um grupo de trabalho de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (I&DT) e Inovação para delinear estratégias e ações de aproximação às empresas e de transferência de tecnologia para empresas.
Quais são os principais problemas identificados pela autarquia que necessitam de resposta?
Temos de resolver os problemas existentes ao nível da habitação que, neste momento, não chega para a procura, e o problema dos transportes públicos cuja rede é deficitária. Estamos a desenvolver, neste momento, uma Estratégia Municipal de Habitação que conta com 62 milhões de euros para investir nos próximos seis anos na melhoria do parque habitacional do concelho.
Em relação aos transportes, está já lançado um concurso publico internacional para a criação de uma rede intermunicipal, em conjunto com os municípios da Trofa e de Santo Tirso, num investimento global de 80 milhões até 2029. Todas estas componentes visam tornar o nosso território mais atrativo para as pessoas e mais competitivo para as empresas.
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“Famalicão tem de passar de produtor a criador”
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