Trás-os-Montes “salva” investimento de 30 milhões na mobilidade
Inicialmente chumbado no PRR, investimento de 30 milhões liderado pela alemã Continental convenceu júri sobre viabilidade financeira do consórcio e valor acrescentado de um hub tecnológico na região.
O mega investimento transmontano na área da mobilidade verde, avaliado em perto de 30 milhões de euros, está “de volta à estrada”, depois de a reclamação apresentada pelo consórcio liderado pela Continental Advanced Antenna ter convencido o júri internacional do concurso a aprovar o projeto apresentado às Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Em declarações ao ECO, o diretor-geral da Continental Advanced Antenna, explicou que, dos seis critérios em avaliação, em dois deles o projeto com a designação A-MoVeR tinha ficado “um pouco mais abaixo na pontuação”. Um deles tinha a ver com as dúvidas levantadas em torno da viabilidade financeira das restantes empresas envolvidas no consórcio: Arquiconsult, UP Motion e Neoception, que se juntaram à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e ao Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).
“Com os elementos que apresentámos, conseguimos demonstrar que estas são PME com capacidade financeira para o investimento e para cumprir com os objetivos da Agenda. Uma preocupação do IAPMEI é saber se as empresas envolvidas nestes consórcios têm essa sustentabilidade financeira”, indicou o porta-voz do projeto, que se propõe desenvolver uma antena inteligente para comunicação entre veículos, um veículo elétrico de duas ou três rodas made in Portugal e ainda software na área da cibersegurança para este setor, incluindo a condução autónoma.
Outro ponto em que incidiu a contestação plasmada num documento de 20 páginas – uma das dez apresentadas no verão por parte de consórcios que tinham recebido a classificação de “não favorável” nos resultados da segunda fase do concurso – foi a defesa de que, ao contrário da avaliação inicial, o número de entidades envolvidas não era insuficiente. “Referimos que, se calhar, até seria bom porque permitia uma ligação mais forte [entre elas]. Em consórcios com 60 empresas, obviamente a articulação será muito mais complexa. No nosso caso, tendo as valências todas, está mais facilitada”, completa.
Por outro lado, embora não tivesse mudado a classificação inicial, que já era máxima neste parâmetro, os representantes do consórcio reforçaram o facto de este investimento ser realizado no Interior do país, “numa região em que não existe um hub tecnológico desta dimensão”, e, por isso, dever ser “visto com outros olhos”. Tal como a alemã Continental, que em 2019 comprou a fábrica da Kathrein Automotive em Vila Real, os restantes envolvidos têm operações ou parcerias tecnológicas nesta região.
Crescer na cadeia de valor, atraindo o desenvolvimento de produto, permite garantir que as unidades fabris fiquem muito mais tempo nas regiões e no país porque é um valor acrescentado grande.
“A grande base do projeto é crescermos na cadeia de valor porque estamos a entrar na parte de desenvolvimento de produto, com a criação de empregos e a contratação de engenheiros, o que se vai refletir também na parte mais da fabricação. O desenvolvimento de produto é importante para o país, ainda mais numa região como esta. Tem uma grande virtude: crescer na cadeia de valor, atraindo o desenvolvimento de produto, permite garantir que as unidades fabris fiquem muito mais tempo nas regiões e no país porque tem um valor acrescentado grande. A ideia não é só fabricar, mas fazer o desenvolvimento”, insiste Miguel Pinto.
Calendário e incentivo em revisão
O diretor-geral da Continental Advanced Antenna – em 2021 faturou 86 milhões de euros, emprega atualmente 560 pessoas e no ano passado produziu mais de 19 milhões de antenas para as principais marcas dos grupos Daimler, BMW e Volkswagen – espera “fechar todos os termos do contrato nas próximas semanas”, sabendo, desde já que, tal como aconteceu com as restantes Agendas, “é provável que o incentivo financeiro se reduza um pouco” na versão final. No entanto, garante ao ECO que “isso não põe em causa o projeto” e “se for necessário manterá o nível de investimento para a prossecução dos objetivos”.
“Mantemos todo o projeto, independentemente de poder haver um ajuste em termos de incentivo – e na mesma lógica ligada ao desenvolvimento do produto na área da mobilidade. Tem é de haver uma recalendarização. Inicialmente, tínhamos previsto começar isto em janeiro de 2022. Algumas entidades do consórcio já começaram a investir, mas não estamos a full porque não havia a aprovação e nem todas avançaram a 100% com os investimentos. Mas são 36 meses de execução, não há como fugir a esse tempo. Vamos ver como encaixar”, completou Miguel Pinto.
Além da “A-MoVeR – Agenda Mobilizadora para o Desenvolvimento de Produtos e Sistemas Inteligentes de Mobilidade Verde”, a outra reclamação que originou uma alteração no sentido de decisão foi a designada “Descentralizar Portugal com Blockchain”, que era liderada pela Void Software, de Leiria, e estava avaliada em 73 milhões de euros. Fonte oficial do IAPMEI referiu ao ECO que “estes dois projetos foram pré-selecionados para a fase negocial” e que “finda essa fase, com sucesso, os projetos avançarão para a fase de contratualização”.
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