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“Somos, sem pudor ou vergonha, um canal de matriz popular”

Carla Borges Ferreira,

Na véspera do 30º aniversário, celebrado na noite deste domingo em antena, José Eduardo Moniz não esconde que a ambição é que a TVI "volte a ser o canal preferido dos portugueses".

A TVI faz esta segunda-feira, 30 anos. A data marca o regresso à antena do Jornal Nacional, agora apresentando pelas duplas Sara Pinto, José Alberto Carvalho, Sandra Felgueiras e Pedro Benevides, formato chave no relançamento da estação também em 2000, ano de estreia do Big Brother em Portugal. “Respeitando o nosso passado, estamos virados para o futuro, com a noção de que os problemas de hoje se resolvem com o conhecimento de ontem, mas com as ferramentas do presente”, diz em entrevista ao ECO/+M, por escrito, José Eduardo Moniz, diretor-geral na altura e também a escolha de Mário Ferreira para liderar a TVI agora.

Foi um ano de aprendizagem da empresa e da identificação do talento que nela existe”, comenta sobre o último ano. A liderança é o objetivo. “É preciso termos a noção de que o mercado português é muito pequeno e que há fatores que contribuem para uma eficaz relação custo-benefício. A liderança é um deles“, justifica. Com a distância encurtada para 1,2 pontos percentuais da SIC na média do último ano, a perda de espectadores é uma realidade com a qual se debatem os canais generalistas. “Acredito que a chave para vencer estes desafios passará sempre pela qualidade dos formatos e pela capacidade de nos relacionarmos com os diferentes públicos da forma que, a cada momento, fizer mais sentido“, diz José Eduardo Moniz.

Como é que imagina a TVI daqui a um ano?

O que ambiciono é que a TVI volte a ser o canal preferido dos portugueses e uma referência na informação, no entretenimento e na ficção. O maior desafio é cumprirmos essa ambição, ou seja, mantermo-nos na liderança de forma consistente.

A TVI fechou 2022 a 1,2 pontos percentuais (pp) da SIC, encurtando a distância que na média de 2021 era de 2,5 pp (adultos +15 anos). Apesar de mais próxima da liderança, a TVI perdeu 1,3 pontos no último ano e a SIC perdeu exatamente o dobro. A perda de audiências é inevitável? Como tenciona preparar a TVI para dar resposta a esta alteração nos hábitos de consumo?

O mercado nacional é pequeno e está cada vez mais fragmentado. Para além disso, não podemos ignorar a transformação que sofreram os hábitos de consumo de televisão, sobretudo em algumas faixas etárias. Acredito que a chave para vencer estes desafios passará sempre pela qualidade dos formatos e pela capacidade de nos relacionarmos com os diferentes públicos da forma que, a cada momento, fizer mais sentido. Neste momento, estamos a olhar muito para o digital, conscientes de que o telefone passou, em muitos casos, a substituir a televisão e a existir na vida das pessoas como um primeiro ecrã.

Somos um canal de proximidade, que fala diretamente para as pessoas. E todas as nossas apostas, da informação à ficção passando pelo entretenimento têm de respeitar essa matriz

Costumava dizer – enquanto diretor-geral da TVI – que mais importante do que a liderança era a rentabilidade. Até para a rentabilidade, a liderança é fundamental?

É preciso termos a noção de que o mercado português é muito pequeno e que há fatores que contribuem para uma eficaz relação custo-benefício. A liderança é um deles: torna o projeto mais apetecível para o mercado e não podemos esquecer de onde provem a maior fatia da nossa receita. Temos a sorte de ter relações estáveis, sólidas e duradouras com a maioria dos nossos parceiros comerciais, mas é certo que quanto mais pessoas virem a TVI, mais relevante ela se torna para os anunciantes. Mas não podemos esquecer que uma boa rentabilidade é essencial para garantir o bem estar de todos aqueles que, todos os dias, com dedicação, fazem a TVI. Mais ainda num tempo, como aquele que atravessamos, carregado de dificuldades para as famílias portuguesas.

No dia 20 vai voltar o Jornal Nacional, agora apresentado por duas duplas de pivôs. “Nós não vamos relançar o Jornal Nacional por uma questão de saudosismo. O Jornal Nacional representa, sobretudo, um espírito. Um espírito de intervenção, de atenção, de acutilância, de inconformismo” (…) Queremos esse espírito totalmente de volta, desde a manhã até à noite”, afirmou a propósito. Como é que esse espírito se vai traduzir em antena “de manhã à noite”?

Resultará de um esforço conjunto de todos os departamentos da estação que estão empenhados nesse objetivo. Existe uma preocupação, que é transversal às diferentes áreas, em inovar e surpreender os nossos espetadores nos diversos formatos. Respeitando o nosso passado, estamos virados para o futuro, com a noção de que os problemas de hoje se resolvem com o conhecimento de ontem, mas com as ferramentas do presente. A forma de consumir televisão mudou e temos de ajustar os nossos modelos de organização e produção de programas, bem como a sua distribuição.

E como é que passa para a perceção dos telespectadores e também dos anunciantes?

Se entendermos essas transformações e respeitarmos aquilo que os espetadores hoje procuram, acredito que a perceção do público acabará por mudar, tal como a dos anunciantes.

“Se olharmos para as tendências de mercado a nível nacional e internacional, é inevitável refletirmos sobre o papel e o espaço que ocupam as plataformas de streaming”, diz José Eduardo Moniz

 

O Big Brother estreou em Portugal há 23 anos. Em traços gerais, ao BB juntou – como apostas na altura – o relançamento da informação, a ficção nacional e o futebol. A matriz foi-se mantendo ao longo destes anos… Quais são hoje as grandes apostas?

A nossa portugalidade esteve sempre lá e continua a estar. Somos, sem pudor ou vergonha, um canal de matriz popular. Somos um canal de proximidade, que fala diretamente para as pessoas. E todas as nossas apostas, da informação à ficção passando pelo entretenimento têm de respeitar essa matriz. Para além disso, também é justo reconhecer que a TVI é um canal arrojado e irreverente, que não raras vezes esteve à frente no seu tempo. A nossa história está cheia de formatos muito diferentes do que se fazia à época em Portugal e que, no início, provocaram muita desconfiança dentro e fora da estação. Alguns, como o BB, vieram a revelar-se formatos vencedores e que o público continua a querer ver.

É preciso termos a noção de que o mercado português é muito pequeno e que há fatores que contribuem para uma eficaz relação custo-benefício. A liderança é um deles: torna o projeto mais apetecível para o mercado e não podemos esquecer de onde provem a maior fatia da nossa receita.

E pensando em outros ecrãs, como o do telemóvel, e também nas plataformas de streaming? O que é que pode adiantar?

Como já referi, estamos atentos às novas formas de consumir televisão, onde o telemóvel é preponderante, em especial entre o público mais jovem. E depois, se olharmos para as tendências de mercado a nível nacional e internacional, é inevitável refletirmos sobre o papel e o espaço que ocupam as plataformas de streaming. Porque o fazemos, anunciámos recentemente uma parceria com a Amazon para a emissão de duas temporadas de um dos formatos mais icónicos desta estação, os Morangos com Açúcar. Será uma versão adaptada aos novos tempos, às vivências dos jovens de hoje, numa linguagem pensada para uma plataforma internacional como a Prime Video. E dentro deste espírito, estaremos atentos a outras oportunidades que surjam e que permitam que a marca TVI esteja presente noutros canais, chegando a novos públicos.

Assumiu a direção-geral da TVI em fevereiro de 2022. Como é que analisa este primeiro ano? Que ponto é que destaca como o mais positivo e, em sentido contrário, qual foi a maior dificuldade?

Foi um ano de aprendizagem da empresa e da identificação do talento que nela existe. O melhor, até agora, foi perceber que a empresa tem gente muito capaz para levar por diante a tarefa de voltar a colocar a TVI como grande referência do audiovisual português.

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