Media

“Todos temos dignidade, mas também temos contas para pagar”, diz presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista

Carla Borges Ferreira,

Precariedade e baixos ordenados são problemas identificados pela CCPJ que, na tarde desta quarta-feira, discutiu a profissão. Sites não jornalísticos, concorrentes dos media, são outros dos problemas.

Há 5.328 jornalistas no ativo em Portugal. A maioria, 3.100, são do sexo masculino e, no universo dos profissionais, a faixa etária predominante situa-se entre os 40 e 60 anos. Apesar de não ser obrigatório, a maioria dos jornalistas tem o grau de licenciado. O rendimento médio é abaixo dos mil euros.

Os números foram partilhados esta quarta-feira, no debate que a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) promoveu com jornalistas e estudantes de jornalismo na Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo, do Instituto Politécnico de Bragança, em Mirandela.

Com a discussão sobre o aumento do valor da carteira profissional de jornalistas na ordem do dia, os membros da CCPJ retomaram os encontros nacionais do organismo. Esta quinta-feira a discussão será na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, e o objetivo é descentralizar a discussão sobre as questões com as quais se debatem os jornalistas e as “lacunas”, como refere Licínia Girão, presidente da CCPJ, nos diplomas que regem a profissão, inclusive no Estatuto do Jornalista, que também regula a funcionamento da CCPJ, criada em 1996, e liderada por jornalistas.

“Fazemos trabalho voluntário”, diz Jacinto Godinho, membro eleito pelos jornalistas. “Um órgão de regulação de uma das profissões mais importantes para a democracia, tem como regulador uma estrutura com cinco funcionários, duas juristas, e depois um conjunto de jornalistas que o fazem em regime de voluntariado”, diz. “Estão a exigir-nos neste momento respostas como se fossemos uma estrutura como a ERC”, acrescenta.

Reforçando que a CCPJ “não é o Sindicato, que rege mais as questões laborais”, nem é o Clube dos Jornalistas, Licínia Girão, associada também destas duas estruturas, frisou que ao certificar os jornalistas o organismo a que preside está “a proteger os jornalistas e o jornalismo”.

As queixas que recebem, prossegue, são várias. “Cada vez mais, por parte do cidadão, tem chegado à CCPJ que os conteúdos que veem violam os deveres dos jornalistas ou que há incompatibilidades no exercício da profissão”, diz, lembrando que os jornalistas não podem escrever conteúdos publicitários ou exercer funções em áreas ligadas ao marketing, comunicação ou política.

Muitas das queixas que a CCPJ recebe, prossegue Luís Mendonça, membro designado pelos operadores do setor – no caso pela Associação Portuguesa de Radiodifusão – têm a ver com os conteúdos que se encontram na Internet e que “muitas vezes não se percebe se são jornalismo ou não”.

“Os novos modelos de jornalismo têm de ser discutidos entre pares. As questões têm de ser pensadas”, diz a presidente do organismo, lembrando que “o conteúdo patrocinado não pode ser feito por jornalistas. Se identificarmos que foi, temos de agir”, afirma, acrescentando que, “por vezes, os jornalistas vão fazer conteúdo patrocinado sem saberem”. “O jornalista é sempre o elo mais fraco”, diz, referindo publicações em que “70% dos conteúdos são produzidos com o objetivo de promover empresas”.

As empresas começaram a usar o inbound marketing e a perceber que era mais eficaz trabalhar conteúdos. Perceberam que têm mais retorno se, em vez de os conteúdos aparecerem como publicidade clássica, aparecerem como notícia. É uma nova forma de comércio e e-commerce, a imitar jornalismo”, acrescenta Jacinto Godinho, dando como exemplo as “notícias” sobre novas peças de roupa ou lifestyle, que são publicidade. “A Lei não é perfeita, mas proíbe os jornalistas de fazerem publicidade, mesmo que de forma disfarçada”. Os “órgãos que dizem que fazem um ‘jornalismo positivo’… O jornalismo não é positivo nem negativo. Se se vai fazer uma notícia sobre uma loja e é difícil estacionar, é difícil estacionar”, diz o representante dos jornalistas.

Outro problema, aponta, é a facilidade com que se criam sites, até com registo na ERC, nos quais “muitas vezes não trabalham jornalistas profissionais”. “Competimos com eles por recursos de financiamento e publicidade e é muito problemático”, diz.

“Toda a informação importante, essas publicações podem existir sem problema. Mas o jornalismo está ao serviço do público e não de empresas particulares. Quando as peças são feitas porque há contratos com associações de turismo ou câmaras municipais, por exemplo, as coisas tornam-se mais complicadas”, acrescenta Jacinto Godinho, frisando que os conteúdos pagos também podem existir, “tem é que ser explicado o que é”.

Não podemos dissociar a publicidade da existência dos órgãos de comunicação social. Sem publicidade não há órgãos de comunicação social”, acrescenta Paulo Ribeiro, membro eleito pela Associação de Imprensa de Inspiração Cristã. “Temos de fazer o que a consciência nos obriga. Respeitar a credibilidade do nome profissional, que é único”, advoga, adiantando que mesmo num suplemento patrocinado pode existir jornalismo. “Não nos pode é ser dito o que é ou não para escrever”, resume, adiantando que a CCPJ está “muito preocupada com precariedade e baixos salários” da classe. “Todos temos dignidade, mas também temos contas para pagar”, constata a presidente do organismo, reforçando que o “trabalho deve ser reconhecido e valorizado”.

Sobre a existência de uma Ordem profissional, sendo o jornalismo uma das 245 profissões reguladas do país, os membros da CCPJ não avançam a sua opinião. “Se os jornalistas já se manifestam contra os custos da carteira profissional, e bem, se existir uma Ordem os custos são muito superiores”, diz Luís Mendonça.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.