Celebrar ainda, sim. E com preocupação

  • Teresa Lameiras
  • 8 Março 2023

Quando oiço mulheres dizerem que “gostam mais de trabalhar com homens”, eu que sempre trabalhei mais com homens afirmo que prefiro trabalhar com bons profissionais e, se possível, boas pessoas.

A celebração do Dia da Mulher ainda “divide” muitas de nós. O ponto é que, lamentavelmente, ainda faz sentido e torna-se tanto mais oportuno e necessário para se fazerem ouvir – pelo menos num dia – os vários alertas e desafios para exercer todos os outros dias.

Já fui contra este dia, bem como a questão das quotas, entre outros temas. Mas, hoje sou a favor como uma oportunidade, em que nalguns casos é, praticamente, a derradeira oportunidade de se dar a voz.

Não tive ao longo da minha carreira qualquer tipo de descriminação positiva ou negativa, mas olhando em redor, acho que ainda temos muitos temas em aberto.

Para além da descriminação negativa, que é a mais urgente resolver face aos números conhecidos, como por exemplo de acordo com o Fórum Económico Mundial, teremos de esperar 132 anos para eliminar definitivamente a desigualdade entre géneros. Temos também que gerir a descriminação positiva que vem das regras que garantem alguma paridade e igualdade de oportunidade.

Embora as universidades estejam cheias de mulheres que terminam as licenciaturas, com bons resultados, segundo o estudo da Diversidade do Género em Portugal da Informa D&B, apenas 28,3% dos cargos de direção são ocupados por mulheres e 26,8% são de liderança nas empresas nacionais. Apenas 13,1% dos diretores-gerais são mulheres e somente 16,4% são presidentes do conselho de administração.

Há um longo caminho a percorrer para que este tema seja ultrapassado, pois os números são preocupantes.

Temos que ter acesso às oportunidades, podermos escolher o caminho, desenvolver a nossa carreira de acordo com a progressão que nos realiza e para a qual temos competência. É um processo também de educação, que começa nas nossas casas, na educação e no exemplo que damos aos nossos filhos. E passa também pela forma como as equipas são geridas, devendo o tema ser o talento, a capacidade e não o género.

Por isso, neste dia, mais do que pensar em realidades abstratas e distantes, há que refletir se estamos como cidadãos, não importa o género, a dar o nosso melhor naquele que é o nosso dia-a-dia para contribuir para esta igualdade.

Pelos comentários que fazemos, pela ajuda que prestamos, pela tolerância que temos para com os/as pares, pela cumplicidade que temos para nos ajudarmos realmente nestes processos de superação. Quando oiço mulheres dizerem com orgulho que “gostam mais de trabalhar com homens do que com mulheres”, eu que sempre trabalhei mais com homens afirmo que prefiro trabalhar com bons profissionais e, se possível, boas pessoas.

Para nos afirmarmos não precisamos de dividir ou enfraquecer. O que não nos fortalece totalmente é esta situação em que vivemos, em que usamos quotas e outras medidas para nos garantirem oportunidades, ficando tantas vezes com esse rótulo tão desnecessário face à capacidade real de quem ocupa o cargo, mas que é mulher.

É um processo que pode e deve começar – se é que ainda não começou – HOJE, no qual cada um e cada uma de nós pode e deve fazer a diferença.

 

*Por Teresa Lameiras, diretora de marca e comunicação da Siva

  • Teresa Lameiras
  • Diretora de comunicação e marca da SIVA - PHS

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