A criatividade está a precisar de rebeldia. E a inovação de responsabilidade
Mais do que nunca estamos numa altura em que a coisa mais responsável que podemos fazer com a nossa criatividade é deixá-la ser rebelde e de certa forma revolucionária.
Na sexta-feira celebrou-se o World Creativity and Innovation Day, um dia que tem como objetivo consciencializar-nos para a importância que a criatividade e a inovação têm no desenvolvimento humano e em problemas globais como as metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
Criatividade e inovação são duas disciplinas irmãs, chegando quase a sobrepor-se no que diz respeito ao seu significado. Uma precisa da outra para funcionar na sua plenitude. E juntas fazem-nos evoluir enquanto sociedade.
Mas há entre elas uma grande diferença: a criatividade é um processo que acontece na nossa mente que nos leva a ter ideias. A inovação é a aplicação da criatividade em algo novo, útil, relevante. E por isso é preciso tratá-las de forma diferente.
Quando falamos em criatividade, apesar de poder ser aplicada em quase tudo na vida, é fácil pensar em agências de publicidade, mercado onde trabalho, e onde nos dias de hoje há vários milhares de “players” só em Portugal, entre agências, consultoras e freelancers, todos a dizerem aos seus clientes que a sua criatividade é “melhor”. A luta pela conquista de clientes está cada vez mais acesa. Do lado das marcas a guerra pela conquista da atenção do consumidor não vai por menos. Cada vez mais marcas a gritar simultaneamente, em cada vez mais plataformas de comunicação, tornam a vida de quem precisa de passar uma mensagem cada vez mais difícil.
Definitivamente, é cada vez mais fulcral transmitir mensagens que sejam verdadeiramente relevantes, já que nenhum consumidor quer perder um segundo do seu precioso tempo com temas que não são do seu interesse.
Mas isso já não é novidade e nota-se uma crescente preocupação nos anunciantes em fazer chegar mensagens com potencial para impactar verdadeiramente a vida das pessoas. Já não ficamos espantados quando vemos duas ou três marcas concorrentes fazer a sua campanha de verão, regresso às aulas ou Natal em cima de temáticas relevantes e, mais do que apenas lançar campanhas, marcas a agirem na prática para ajudar a resolver um problema. Por isso, só relevância não chega.
O segredo para conquistar a atenção do público está na relação entre a relevância das mensagens e uma forte dose de rebeldia. É preciso revolucionar a forma com que olhamos para os temas, as plataformas de comunicação, os meios e até o target. Mais do que nunca estamos numa altura em que a coisa mais responsável que podemos fazer com a nossa criatividade é deixá-la ser rebelde e de certa forma revolucionária.
Mas a inovação é a ação, é o pôr em prática algo que se criou e isso terá efeitos práticos. Ainda na semana passada o alemão Boris Eldagsen viu ser premiada uma imagem sua criada em Inteligência Artificial. O fotógrafo queria perceber se os concursos estão preparados para esta nova realidade da Inteligência Artificial e a verdade é que conseguiu passar a sua mensagem.
Foi a primeira vez que uma imagem concebida com IA venceu um prémio num concurso internacional de fotografia (pelo menos, que saibamos) e uma ótima oportunidade para acender o debate sobre os efeitos que a IA poderá ter na criatividade e em tantas outras áreas.
Vou encontrando muitas certezas com que, tanto do lado dos pró-IA como do lado dos anti-IA, se fala sobre o que estas ferramentas vão causar, mas este momento histórico que aconteceu nos Sony World Photography Awards é suficiente para perceber que criámos algo (mais uma coisa) que ainda não sabemos bem como controlar.
É por isso que devemos olhar para a inovação de maneira diferente da criatividade. Independentemente dos inúmeros efeitos positivos que uma inovação pode ter, é preciso encarar os avanços com uma grande dose de responsabilidade porque podemos estar a dar passos maiores do que a perna, como em tantas outras inovações se viu acontecer ao longo da história.
Que este Dia Mundial da Criatividade e da Inovação tenha servido para refletirmos sobre o quão próximo é o significado destas duas palavras e o quão distante é a forma como as devemos encarar.
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