Jacinto de Esmoriz “apaga fogos” da Roménia à Argentina

A Jacinto vai entregar este ano 250 veículos de resgate e combate a incêndio, num valor superior a 43 milhões de euros. Em 2024, a empresa familiar quer abrir sucursal na Europa ou na América do Sul.

A carteira de encomendas da Jacinto, uma empresa familiar que emprega 150 pessoas em Esmoriz, prevê este ano a entrega de cerca de 250 veículos de resgate e combate a incêndio. Fundada em 1954 por Jacinto Marques de Oliveira, a fabricante nortenha fatura 33 milhões de euros e exporta 80% dos veículos para mais de 30 mercados externos, sendo os principais o Chile, Espanha e França.

Para 2023, a empresa tem encomendas executadas e em execução no valor de mais de 43 milhões de euros, o que corresponde a 250 veículos de combate a incêndio. Só para a Roménia tem uma encomenda de quase 40 milhões de euros. Somam-se entregas de veículos para países como Argentina (26 veículos no valor de 4 milhões de euros), Portugal (19 veículos no valor de 3,8 milhões de euros), Equador (10 veículos no valor de 2,1 milhões de euros), Uruguai (10 veículos por 2 milhões de euros) e Chile (seis veículos no valor de 1,3 milhões de euros).

Em quantidades mais pequenas, a Jacinto vai enviar para a República Dominicana cinco veículos, num contrato de 650 mil euros; dois veículos para o Qatar (480 mil euros) e quatro para França (451 mil euros). Para a ONU tem uma encomenda no valor de 328 mil euros, fazendo parte da carteira a entrega de veículos em Espanha (240 mil euros), Angola (220 mil euros), Itália (39 mil euros) e Palestina (37 mil euros), de acordo com os dados fornecidos ao ECO/Local Online.

Entretanto, já começaram a ser fornecidos os 200 carros de bombeiros que têm a Roménia como destino. Foram entregues até agora 110 veículos e até ao final do ano serão enviados os restantes 90. “O mercado do Leste europeu é uma aposta, até porque começam a existir incentivos e financiamentos europeus para estes países”, conta o diretor geral, Jacinto Reis, que pertence à quarta geração da família.

Para o próximo ano, a empresa familiar que constrói veículos de resgate e combate a incêndio, sejam urbanos, industriais ou florestais, já tem encomendas em carteira superiores a 20 milhões de euros, o que equivale a uma centena de veículos de resgate e combate a incêndio. Só para o Chile vai enviar 81 veículos no valor de mais de 16 milhões de euros. Há outros 19 programados para venda em Portugal (3,7 milhões de euros) e dois para as Nações Unidas (394 mil euros).

O mercado do Leste europeu é uma aposta, até porque começam a existir incentivos e financiamentos europeus para estes países

Jacinto Reis

Diretor geral da Jacinto

A empresa diz ser “a única no mundo que pensa como bombeiros e executa para bombeiros”. O bisneto do fundador, Jacinto Reis, recorda que o bisavô era bombeiro e foi fundador dos Bombeiros Voluntários de Esmoriz” — e que sempre houve na família pessoas ligadas aos bombeiros, incluindo o pai do atual responsável pelo negócio, de 38 anos.

Jacinto Reis é formado em Engenharia Mecânica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Após terminar o curso, abraçou o negócio familiar em 2007 juntamente com a irmã, Ana Isabel Oliveira, que é formada em Farmácia e acabou por dedicar-se igualmente ao negócio da família em 2013. Apesar de os herdeiros já estarem aos comandos, o pai, Jacinto Manuel Gomes de Oliveira, é o sócio maioritário com 60%. Jacinto Reis e a irmã Ana Isabel Oliveira têm uma quota de 20% cada.

Jacinto Manuel Gomes de Oliveira com os filhos, Ana Isabel Oliveira e Jacinto Reis

A empresa começou a exportar em 2005, mas só passados cinco anos é que as vendas no estrangeiro começaram a ganhar peso no volume de negócios. Aconteceu após a participação em várias feiras internacionais, principalmente na Intershut, conhecida como a maior feira mundial de veículos de combate a incêndio, que se realiza de cinco em cinco anos em Hanôver, na Alemanha. “Passamos de sete milhões de euros de volume de negócios para 33 milhões o ano passado, sendo que ambicionámos alcançar os 40 milhões este ano”, salienta o diretor geral.

Entre os projetos inovadores está o Eco Camões, um veículo destinado ao combate a incêndios em aeroportos e apresentado como o primeiro veículo de combate a incêndios totalmente elétrico e não-tripulado. Tem cerca de 300 quilómetros de autonomia, zero emissões e pode ser controlado remotamente até um quilómetro de distância. “O projeto em si tem três grande valências: é totalmente elétrico, com zero emissões e zero risco para o operador, tendo em conta que o operador pode controlar o incêndio sem estar dentro do veículo”, explica Jacinto Reis.

“No ano passado, apresentámos o Eco Camões na feira Interchut na Alemanha e a apresentação foi um sucesso. Mesmo um grande concorrente e player mundial alemão, que fatura mil milhões ao ano, não apresentou um veículo elétrico a funcionar, apresentou híbridos. A Jacinto foi a única empresa a nível mundial a apresentar um veículo deste género”, refere o bisneto do fundador.

Eco CamõesJacinto

Outros dos projetos que deverão surgir em breve são veículos a hidrogénio e um robot autónomo para limpar florestas e detetar pequenos focos de incêndio. O robot é fruto de um consórcio liderado pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da Universidade de Coimbra e deverá ser apresentado oficialmente ao público no final do ano.

Perspetivando o futuro, a Jacinto ambiciona ter presença física além-fronteiras já no próximo ano. “Estamos com um projeto em mãos que passa pela internacionalização, ou seja, abrir uma sucursal da empresa noutro país”, adianta Jacinto Reis. A “nova casa” poderá surgir na América do Sul (Brasil ou Colômbia) ou no centro da Europa (Alemanha ou França).

O gestor calcula que o investimento inicial poderá rondar os três milhões de euros se o destino for na Europa; caso seja na América do Sul, o investimento poderá rondar entre cinco e seis milhões de euros, já que será necessário construir uma unidade industrial de raiz para ter acesso a financiamento e alguns benefícios atribuídos a investidores estrangeiros. “Queremos implementar uma unidade de assemblagem. Não vamos fazer o que fazemos em Portugal, que é o veículo todo de raiz. Iremos, sim, assemblar algumas partes nesses países”, explica Jacinto Reis.

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