Poderá a mão de obra deslocalizada servir à publicidade local?

  • Alexandra Pereira
  • 11 Julho 2023

Transformar a publicidade num produto genérico e por essa mesma razão indiferenciado é comprometer a sua função base – criar proximidade e cumplicidade.

Num mundo dos negócios cada vez mais competitivo e globalizado, a publicidade desempenha um papel crucial na construção e no sucesso das marcas. Estratégias criativas e diferenciadas permitem às agências de publicidade influenciar a perceção dos consumidores e impulsionar o crescimento das empresas. No entanto, para se destacarem nos mercados onde comunicam, as agências de publicidade precisam de mais do que estratégias genéricas: é necessário que adaptem o seu modus operandi, utilizando uma abordagem mais holística na publicidade, que permita pensar e criar a nível local.

Um dos principais desafios que a publicidade enfrenta atualmente é a tendência de uniformidade: grandes empresas e marcas optam, muitas vezes, por estratégias de marketing padrão, facilmente replicáveis em diferentes países e culturas. Contudo, a possibilidade do aumento de eficiência e redução de custos é uma tentação que no limite pode até levar à contratação de mão-de-obra deslocalizada, tornando a falta de relevância local evidente.

Comunicar a nível local permite uma adaptação às particularidades do público-alvo, levando a que sejam estabelecidas ligações mais fortes e com maior impacto com os consumidores. Inclusive, dar maior relevância ao foco local leva a que os clientes tenham uma resposta mais adaptada de acordo com as suas necessidades e negócios, traduzindo-se na criação de relações mais duradouras.

Mas, para que a publicidade seja efetivamente holística e eficaz a cobrir os diferentes requisitos locais, mostrando-se capaz de ser incisiva e gerar tração, é necessário que exista um investimento na pesquisa e compreensão aprofundadas das comunidades. É fundamental envolver profissionais locais que tenham um conhecimento aprofundado da cultura local.

Cada vez mais, deparamo-nos com a tendência de contratar recursos para trabalharem remotamente a partir de países e culturas distintas do mercado alvo da comunicação. E embora esta tendência para racionalizar custos e aproveitar a globalização para expandir a força de trabalho seja compreensível, como pode um criativo pensar local ao trabalhar noutro país que não aquele para onde está a comunicar? As equipas têm de ter um equilíbrio entre o local e o não local, de forma a garantir que a identidade não se perde.

Assim, é fundamental reconhecer que os negócios locais exigem pensamento, criatividade e acompanhamento personalizados. No mundo cada vez mais globalizado em que vivemos, a publicidade local torna-se numa abordagem crucial para que as marcas se destaquem da concorrência. É urgente reconhecer o potencial da publicidade a nível local e adotá-la como uma estratégia essencial para construir relações mais sólidas entre marcas e consumidores.

Transformar a publicidade num produto genérico e por essa mesma razão indiferenciado é comprometer a sua função base – criar proximidade e cumplicidade.

Comunicar, como revela a raiz latina da palavra (communicare), significa partilhar algo com alguém. O objetivo final da comunicação é ter algo em comum. Quanto maior a distância, maior a dificuldade em atingir esse objetivo.

  • Alexandra Pereira
  • Diretora-geral do Omnicom Creative Hub

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