Assistimos à “infantilização do consumidor”, defende Pedro Bidarra
Pedro Bidarra foi o keynote speaker de encontro que juntou, no Terraço ECO, profissionais da área do marketing e comunicação. Assistimos à "infantilização do consumidor", diz, sempre em tom crítico.
“Vejo muita comunicação a apelar a uma espécie de felicidade de Instagram, anúncios de felicidade Instagram, em que parece que as pessoas vivem noutro mundo”, defende Pedro Bidarra. Os anúncios são “muito fake“, “está tudo a fingir que está tudo bem”, refere o agora consultor, que apontou ainda como “fake” os anúncios de sustentabilidade “em que vamos todos salvar o mundo”. “Os valores funcionais da publicidade foram abandonados“, observou.
As afirmações foram feitas durante uma conversa no Terraço ECO, onde se falou sobre marketing e publicidade. Entre várias pessoas ligadas a marcas, publicidade e comunicação, o agora consultor que se “retirou” da publicidade em 2010, foi o keynote speaker.
Para o criativo, os anos 90 foram os anos do otimismo, “em que achávamos que isto ia ser um país”. E esse nível de otimismo “enorme” refletia-se “em tudo aquilo que se fazia, na comunicação, no que se deixava fazer, nos riscos que se corriam – porque numa altura de otimismo falhar não tem problema”.
Depois “mudou o pêndulo daquilo que era a venda para a compra”, explicou Bidarra, sendo que os diretores de marketing – que eram coordenadores de uma série de atividades e que era normal chegarem a CEO – deixaram de ter o mesmo poder e influência, acredita. Uma das causas passou também pelo facto de os clientes terem começado a contratar ‘especialistas em comunicação’ – “uma coisa horrível” – para falarem com as agências.
“Não sou saudosista, mas realmente as compras tomaram conta do processo“, afirmou Pedro Bidarra, referindo que a perspetiva de compra passou a ser a do mais barato. “No tempo das vacas gordas era mais fácil e faziam-se menos contas“, recorda.
Sobre o ChatGPT, considera que este só funciona “para agradar”, apresentando, por vezes, “fatos erradas mas que parecem bem”. No entanto, “há coisas que funcionam”, disse Bidarra, acrescentando que usa esta ferramenta “um nível acima do Google, para pesquisa. “Tudo depende do briefing que lá se colocar”, resume.
Quanto à questão lançada sobre se estas plataformas de inteligência artificial podem ajudar os clientes a fazerem melhores briefings melhores, Bidarra respondeu que sempre teve clientes que faziam briefings “maravilhosos”. “É saber o que é que querem. Não é muito difícil quando a pessoa sabe o que é que quer“, disse o também escritor, acrescentando que “escrever um briefing é afunilar, depois o criativo o que faz é desafunilar“.
Pedro Bidarra considera também que atualmente existe uma “infantilização do consumidor“ a “todos os níveis”, seja nas séries, nos filmes ou até nos vinhos. O Presidente da República é o que fala mais infantilmente para a população: “é como se nós estivéssemos no infantário, a explicar-nos o B, A, BA, enquanto come gelados”.
O ex-diretor criativo da BBDO considera também que hoje é mais fácil ser-se ‘enganado’ através da publicidade, uma vez que não há tanto espaço para a escrita, e que se trabalha principalmente através de imagens e ícones.
Nos últimos 10 anos, Pedro Bidarra e o sócio João Wengorovius (consultora Wengorovius & Bidarra) têm feito negócio graças a uma geração que “não viu futuro nisto”, diz também.
“Houve toda uma geração que começou a não ver grande futuro nisto e foram para coders, para startups… e portanto foi-se perdendo uma certa ‘gravitas intelectual’, de conhecimento e de seriedade neste negócio, e por isso é que eu e o João temos algum sucesso”, afirmou.
Agora, e generalizando, “há gente muito pouco capaz, intelectualmente, em termos de formação”, prosseguiu ainda Pedro Bidarra. “Quem tinha razão no meio disto tudo era o Vicente Jorge Silva: é uma geração rasca“, caracteriza, alargando a opinião ao clima político.
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