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Conselho de Redação do DN chumba José Júdice e Ana Cáceres Monteiro. Direção entra em funções a 13 de novembro

Lusa, + M,

José Júdice foi chumbado por maioria e Ana Cáceres Monteiro por unanimidade. Os nomes propostos para o DN foram recusados pelo Conselho de Redação, tal como aconteceu com os nomes para a TSF.

O conselho de redação (CR) do Diário de Notícias entendeu, “por maioria, não dar aval” a José Júdice para diretor e, “por unanimidade”, dar “um parecer negativo” a Ana Cáceres Monteiro para subdiretora, refere este órgão em comunicado. A nova direção entra em funções, dia 13 de novembro.

Cumpridos todos os procedimentos legais, o conselho de administração do Global Media Group, informa que, no próximo dia 13 de Novembro, iniciará as suas funções a nova equipa de direção do Diário de Notícias, e que será composta pelos jornalistas José Júdice, Leonídio Ferreira e Ana Cáceres Monteiro, que ocuparão, respetivamente, as funções de diretor, diretor-adjunto e subdiretora“, afirma em comunicado a administração da Global Media, horas depois de conhecido o parecer do CR.

“É propósito deste conselho de administração que a entrada em funções da nova direção marque o início de uma nova fase na vida do Diário de Notícias, e que passará necessariamente pelo reforço de investimento em recursos humanos, infraestruturas e inovação, fatores essenciais para o necessário crescimento e reafirmação de um jornal que é, como todos sabemos, uma referência ímpar no panorama dos ‘media’ em Portugal – e cujo papel na sociedade
portuguesa urge redignificar”, diz o grupo esta quinta-feira.

Recorde-se que o conselho de administração da Global Media Group (GMG) tinha, a 3 de outubro, indicado os nomes de José Júdice e Ana Cáceres Monteiro para integrarem a direção do Diário de Notícias (DN) como diretor e subdiretora, juntando-se ao diretor-adjunto, Leonídio Paulo Ferreira.

Em 9 de outubro, os membros do CR reuniram-se com os jornalistas José Júdice (JJ) e Ana Cáceres Monteiro (ACM), tendo o diretor indigitado feito “uma avaliação da situação atual do DN que evidenciou consciência do estado depauperado da redação e do posicionamento do título no mercado da imprensa”, lê-se num comunicado a que a Lusa teve acesso.

“Questionado sobre que plano tem para o jornal, JJ defendeu ‘no mínimo duplicar a redação – neste momento composta por 13 jornalistas/redatores (dois dos quais grandes repórteres), seis editores (que acumulam a edição do ‘site’ com outras funções no jornal), três editores executivos, mais dois diretores, ou seja, 24 jornalistas no total -, ‘reforçar a parte gráfica’, ‘reforçar a revisão’ e reduzir aquilo que denominou de ‘profusão de textos de opinião'”, adianta o CR.

José Júdice, acrescentam, disse que estavam identificadas “pessoas com experiência”, mas “sem rabos-de-palha” para o reforço da redação “e defendeu ainda a necessidade de uma ‘radical renovação gráfica’ do DN, além do lançamento de novos produtos, como uma edição reforçada de fim de semana com ‘vários suplementos’, sem, no entanto, adiantar, quando sobre isso foi perguntado, em que consistirão e qual a especificidade da abordagem jornalística”.

Relativamente ao ‘online’, JJ “defendeu também o reforço e mais meios”, admitindo, no entanto, “que ainda não sabe” que orçamento terá para o relançamento que se propõe fazer do DN.

Sobre o facto de não ter assento numa redação desde 1992, respondeu: “Não tenho tido assento na redação, mas para o que é preciso fazer também não faz falta“, referindo que “não é seu papel como eventual diretor ‘fazer de chefe de redação ou editor'”.

Os membros eleitos do CR não podem deixar de notar que os planos e projeto apresentados, ainda que em parte vão ao encontro do que a redação almeja e defende, suscitam algum ceticismo quanto à sua exequibilidade, depois de longos anos em que o percurso traçado pelas sucessivas direções e administrações, malgrado declarações iniciais de ‘reinvestimento’, ‘revalorização’, e ‘redignificação’, foi no sentido inverso, de notória desvalorização da redação e do título”.

O CR destaca ainda que “JJ assumiu não ler a imprensa portuguesa, apenas a estrangeira”.

Relativamente a Ana Cáceres Monteiro, o CR considera que, “por muito que ACM tenha, como defendeu, ‘capacidade de trabalho’ e de ‘coordenar equipas’, o percurso e perfil desta jornalista, com carreira maioritariamente ligada às publicações de ‘lifestyle’ e da chamada ‘imprensa cor-de-rosa’, suscitam reservas sobre a mais-valia da sua incorporação na direção do Diário de Notícias, numa altura de urgente reforço da credibilidade do jornal e do seu reposicionamento enquanto referência de um jornalismo de qualidade”.

Além disso, “o CR teve conhecimento de uma acusação de plágio, ocorrida em abril, quando ACM era subdiretora do Jornal Económico (JE), de um texto de uma jornalista do Dinheiro Vivo (DV, suplemento económico do Diário de Notícias)”.

O CR “fez uma averiguação prévia à reunião com os dois indigitados, pedindo esclarecimentos (sob a forma de depoimento escrito) a todos os envolvidos à exceção de ACM, uma vez que o pedido de esclarecimento seria efetuado na reunião”.

De acordo com o CR, Ana Cáceres Monteiro “admitiu um ‘erro grave’, assegurando, no entanto, que não houve ‘dolo’ da sua parte, mas uma confusão num momento de stress entre o texto de um ‘press release‘ enviado por uma agência e as pesquisas próprias sobre o tema que fez ‘online’, que incluíam o texto da jornalista do DV”.

A jornalista garantiu ter “assumido responsabilidades” em relação ao sucedido, mas “não efetuou retificação”.

Confrontado com a situação, o diretor indigitado assumiu que já sabia do caso, embora tenha demonstrado no decorrer da reunião que não tinha conhecimento dos factos todos”, tendo reconhecido tratar-se de “um erro grave e imperdoável”, “uma situação deontologicamente inaceitável”, mas disse também que o erro fora “já assumido“.

No entanto, “se eu fosse diretor dessa publicação despublicava o texto em causa e dava um esclarecimento público”, afirmou, citado pelo CR, acrescentando que se uma situação como esta acontecer sob sua direção no DN, faria “uma retratação pública nas páginas do jornal”.

Sobre a escolha de Ana Cáceres Monteiro, José Júdice “revelou que a sugestão do nome veio da administração, mas defendeu a ‘capacidade e entrega’ da jornalista como qualidades importantes para integrar a sua direção no DN”.

O comunicado do CR é acompanhado de uma declaração de voto de Fernanda Câncio, na qual a jornalista dá conta à redação da “averiguação rigorosa” que foi feita acerca da acusação de plágio imputada à subdiretora indigitada.

Direção da TSF também tinha sido chumbada

Recorde-se que no final de setembro o Conselho de Redação da TSF também rejeitou a nomeação de Rosália Amorim para diretora de informação da rádio, tendo levantado dúvidas quanto à sua capacidade de manter uma política editorial independente.

Num documento a que a Lusa teve acesso, os membros eleitos do Conselho de Redação entendem que não devem “dar o aval” à escolha de Rosália Amorim para o cargo, anunciada em 21 de setembro pela Global Media Group (GMG), empresa que detém ainda o Jornal de Notícias (JN) e o Diário de Notícias (DN), órgão que a recém-indigitada diretora de informação da TSF dirigia desde novembro de 2020.

“Os membros eleitos do Conselho de Redação entendem que, sem colocar em causa as qualidades profissionais de Rosália Amorim, a diretora indigitada não se encaixa no perfil necessário para o desempenho de um cargo tão específico como tem sido o de responsável pela informação na TSF”, lia-se.

No dia a seguir, a administração anunciou que mantinha os nomes escolhidos e anunciou em comunicado que se trata da “última e decisiva tentativa de salvar um projeto que se encontra insustentável devido ao rumo seguido na última década e em especial nos últimos anos”, diz a GM, que prevê 2 milhões de prejuízo.

“Será uma última e decisiva tentativa de salvar um projeto que se encontra insustentável devido ao rumo seguido na última década e em especial nos últimos anos”, diz a administração do grupo em nota de imprensa.

A administração antecipa que a estação feche o ano com prejuízos a rondar os dois milhões de euros. “Nos últimos 10 anos, a TSF – Rádio Jornal Noticias acumulou sucessivos passivos, na ordem dos 10 milhões de euros. Só este ano e até setembro o prejuízo cifra-se em 1,3 milhões de euros, valor esse idêntico ao encerramento das contas de 2022, existindo a previsão que até final deste ano possa atingir um valor de cerca de 2 milhões de euros”, descreve.

Apesar dos resultados negativos, “a atual administração da GMG pretende apostar no forte relançamento da marca e do projeto”, assegura. “É missão da atual equipa de direção, desenvolver as necessárias mudanças a todos os níveis, para concretizar esta aposta do Grupo e assim quebrar este ciclo de anos sucessivos de prejuízos”, prossegue.“Estamos certos da capacidade desta nova liderança na concretização dos principais objetivos definidos para a TSF, e que passam por um novo ciclo de reforço de investimento em recursos humanos, infraestruturas e inovação, fator essencial para o crescimento e afirmação de uma marca histórica na rádio em Portugal”, justifica.

 

(notícia atualizada às 13:39 com a posição do conselho de administração. Nova direção entra em funções a 13 de novembro e não outubro, como escrito inicialmente)

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