Celebrar a vida
Viva a J. Walter Thompson! Foi uma honra servir-te, em conjunto com centenas de pessoas, numa viagem incrível.
Soube esta semana de mais uma fusão no setor da publicidade (no seguimento da fusão da fusão…) da WundermanThompson com a VML&YR, dando origem à marca VML. Sei bem que as fusões são importantes e necessárias. A minha reflexão é sobre as escolhas das marcas que ficam e as que se abatem. Uma marca é um ativo intangível, precioso, que demora anos a construir, todos sabemos.
A marca J. Walter Thompson, depois JWT e finalmente Thompson, durou um século e meio, foi fundada em 1864. Quanto à VML, nem sei o que significa, tive de ir procurar. A Y&R, ex-Young&Rubicam, bem mais nova, também desapareceu.
A ironia é que eram duas marcas icónicas, que tinham no seu ADN uma matéria chamada criatividade e a nota do grupo WPP, mencionando a combinação das duas marcas icónicas em termos de criatividade, matou-as “para simplificar”; escolheu precisamente eliminar o que representava o legado da criatividade.
Mas estas linhas são para celebrar e não para chorar.
Pretendem ser um pequeno tributo a uma marca que se confunde com quase metade da minha vida e que me faz sorrir sempre que penso nela. Porque não vi uma linha ou um comentário sobre este desaparecimento. Gosto do silêncio, mas não deste silêncio.
As marcas varrem-se do planeta, mas o legado, a história, os momentos, os ciclos, a memória coletiva, “a alma”, permanece. Campanhas, estratégias, clientes, equipas, cumplicidade, trabalho árduo, rigor, prazos, negociações, discussões, debates, risos, felicidade, angústia, abraços, vontade, crença, atitude. Pessoas. Elas são o que verdadeiramente importa.
Aliás, sugeri ao CEO da WPP Mark Reed, em resposta a um email matinal que enviou na semana do Festival de Cannes em 2019, e em que mencionava a coragem em adotar umas iniciativas à volta do plástico, que uma ação corajosa mesmo era mudar o significado da sigla WPP (Wire and Plastic Products), para algo do género “Wiring People and Planet”. Saltou-me aquilo em 5’ (embora eventualmente já como resultado de 10 anos de pensamento em alterações climáticas e sustentabilidade), e talvez não fosse uma má ideia/caminho estratégico de futuro.
Veio-me à memória o diálogo final do filme “O Último Samurai”, entre Nathan e o imberbe imperador, quando lhe entrega a espada de Katsumoto:
– Tell me how he died
– I prefer to tell you how he lived.
Viva a J. Walter Thompson! Foi uma honra servir-te, em conjunto com centenas de pessoas, numa viagem incrível.
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