Longo vs curto, o pão nosso de cada dia

  • Daniel Sá
  • 9 Janeiro 2024

CEO que continuem a insistir numa abordagem obcecada de curto prazo disfarçada de visão de longo prazo estão condenados a serem deitados pela janela fora. Mais vale ser treinador do United.

Conciliar os interesses de curto prazo dos CEO, donos, acionistas, fundos ou investidores com os interesses de longo prazo das diferentes empresas, marcas e projetos acredito que seja atualmente o maior desafio de grande parte das empresas, independentemente do setor de atividade onde atuam.

Os quadros de topo e médios das organizações estão assim verdadeiramente entalados entre as tarefas, ações e planos que garantem a verdadeira satisfação dos consumidores e sustentabilidade a longo prazo das marcas com a visão, disfarçada de longa, mas efetivamente de curto prazo que os CEO impingem nas suas organizações.

É muito habitual ouvir os conselhos de administração a falar de estratégia, de planos de longo prazo ou de lifetime value, mas a poesia de negócios é depois desmascarada pela pressão do EBITDA anual, dos relatórios trimestrais, dos relatórios de vendas mensais e das leads diárias.

Toda a gente investe tempo, recursos e energia no longo, mas em boa verdade, em muitas empresas, o que interessa realmente é o curto. O prazo claro. À velocidade com que as empresas mudam de mãos e que os CEO se movem entre empresas, não restam muitas hipóteses a não ser o foco no resultado imediato.

Quando olhamos para o famoso Manchester United podemos recordar os 27 anos de Alex Ferguson como treinador onde conquistou 37 títulos e, desde aí, passaram mais sete treinadores nos últimos 10 anos que se limitaram a conquistar quatro títulos. Longo vs curto, o pão nosso de cada dia.

No mundo empresarial atual são raros personagens como Alex Ferguson, líderes com períodos longos à frente das empresas, onde se possibilita a verdadeira construção de projetos de longo prazo. Atualmente os CEO usam-se e deitam-se fora e os donos, passam pelas empresas, valorizam-nas rápida e artificialmente e passam-se para o dono seguinte.

É este o jogo empresarial atual pelo que, aos colaboradores pressionados, resignados, desmotivados, desorientados ou deprimidos, restam duas opções. Desistir, demitir e mudar de empresa ou entender o jogo e saber aproveitar as oportunidades que este pode proporcionar.

A capacidade de adaptação à mudança tem sido apontada na última década como uma das maiores competências que se exige a um colaborador. Talvez nunca tenha sido uma qualidade tão importante como agora.

Acredito que, os vários indicadores preocupantes sobre a saúde mental dos colaboradores das empresas, surgem deste dilema da gestão do curto e do longo prazo, e da enorme pressão que esta situação cria nas pessoas.

No mundo ideal uma estratégia de longo prazo tem naturalmente que ter uma execução e acompanhamento de curto prazo. Seja qual for a empresa. Seja qual for o setor de atividade. Quem conseguir gerir este equilíbrio vai ter resultados sólidos e consistentes.

CEO que continuem a insistir numa abordagem obcecada de curto prazo disfarçada de visão de longo prazo estão condenados a serem deitados pela janela fora. Mais vale ser treinador do United. Como o Ten Hag.

  • Daniel Sá
  • Diretor executivo do IPAM

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Longo vs curto, o pão nosso de cada dia

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião