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Pedro Nuno é mais falado por comentadores. Redes sociais falam mais de Ventura, Rocha e Mortágua

Lusa,

Em relação às últimas eleições, o Facebook perdeu relevância para o Instagram e TikTok, a desinformação é menor, e o Chega, em particular, mas também a Iniciativa Liberal, são os "campeões" das redes.

Os investigadores Gustavo Cardoso e José Moreno.Lusa

Nas redes sociais, Pedro Nuno Santos foi a personalidade mais falada por comentadores e candidatos durante a primeira semana de fevereiro, enquanto no mesmo meio as pessoas discutiram sobre André Ventura, Rui Rocha e Mariana Mortágua.

Estes dados representam as primeiras conclusões de um projeto, efetuado pelo MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE) em parceria com a agência Lusa, para aferir a desinformação e os conteúdos a circular nas redes e sociais e meio online no período pré-eleitoral.

“Os candidatos parecem todos muito preocupados com Pedro Nuno Santos, ou seja, focam todos muitas críticas no Pedro Nuno Santos, como se fosse aquele que se tem que tirar da frente para que aconteça alguma coisa. Os opinion makers que publicam opinião também dão a preponderância ao Pedro Nuno Santos, mas aquilo que se discute nas redes é o André Ventura, o Rui Rocha e a Mariana Mortágua”, disse o investigador e professor Gustavo Cardoso.

Ao mesmo tempo, neste mesmo ranking de candidatos, comentadores e utilizadores das redes sociais, Luís Montenegro é sempre o último ou o penúltimo a ser referido.

O professor de Ciências da Comunicação do ISCTE especifica, porém, que o projeto apenas consegue medir “a atenção que é dada” e não se o que se fala é bem ou mal.

E resume: “As pessoas falam mais dos extremos, os candidatos falam do incumbente, os opinion makers falam do incumbente, e o desafiador, que é o Luís Montenegro, nesta lógica surge muito para baixo em termos da conversa dos candidatos, é como se ninguém quisesse falar dele, por parte da atenção que lhe é dada“.

Em termos de análise “político-comunicacional”, isto significa, segundo Gustavo Cardoso, que enquanto os comentadores e políticos “centram as suas baterias ou no louvar ou no atacar o Pedro Nuno Santos”, as pessoas nas redes não ligam nem a este, nem ao líder do PSD e da Aliança Democrática (AD), mas em contrapartida estão muito atentos aos três outros.

“É quase como se pudéssemos colocar aqui a hipótese que são aqueles que levantam mais adversidade, ou seja, que recebem mais paixão, seja de apoio, ou seja contra e, portanto, os que estão de um lado atacam os outros (…) que é aquilo que, no fim de contas, nós verificamos no Parlamento”, diz ainda o professor.

E remata: “Luís Montenegro, curiosamente, está sempre low profile portanto, não é atacado, não é defendido, mas está lá, e está muito para baixo.”

Nesta primeira semana do projeto MediaLab/ISCTE-Lusa, que durará até à realização das eleições, foi ainda possível traçar três outras conclusões.

Face a idêntico período de 2022, no último escrutínio, a rede social Facebook perdeu relevância para o Instagram e o TikTok, a desinformação é menor e que, tal como no passado, o Chega, em particular, mas também a Iniciativa Liberal, são os “campeões” das redes.

Segundo José Moreno, outro investigador que participa neste projeto, a perda de importância relativamente aos conteúdos políticos do Facebook — a rede social mais relevante em Portugal e também a mais usada pelos mais velhos e, portanto, os que mais votam — mostra que a política “migrou” de uma rede popular para outras cujos estratos etários são mais jovens, o que pode ter alguma influência sobre estes.

“O conteúdo político torna-se mais presente em redes que são mais frequentadas por mais jovens e isso pode ter consequências eleitorais. Não quer dizer que tenha, porque não podemos fazer essa correlação, não conseguimos estabelecer essa causalidade, mas a verdade é que se as pessoas são expostas a conteúdos políticos, podem formar ideias políticas”, salienta José Moreno, considerando que este é um aspeto a reter.

Sobre o facto de a desinformação ter sido menos relevante, com apenas quatro casos referenciados e com pouca “tração” (menos alcance e influência), não quer dizer que não venha ainda a ocorrer, segundo apontam os especialistas.

Quatro casos desinformativos em janeiro mas pouco virais

Pelo menos quatro casos desinformativos relacionados com as legislativas foram identificados, em janeiro, nas redes sociais, com uma publicação do Chega de um gráfico com uma interpretação errada e uma afirmação descontextualizada do Bloco de Esquerda.

A conclusão é também do MediaLab, numa análise que tem como objetivo identificar os conteúdos desinformativos atribuídos aos partidos ou candidatos pelos fact-checkers nacionais credenciados pela International Fact-Checking Network (IFCN), Polígrafo, Observador Fact Check e Público – Prova dos Factos, e avaliar o impacto nas redes sociais, medido em interações e visualizações.

“O que concluímos é que não são assim tão virais como parecem à primeira vista”, comparando com outras publicações, afirmou à Lusa José Moreno, investigador em Ciências da Comunicação – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL), não se podendo excluir que casos mais complexos venham a acontecer até às legislativas de 10 de março.

Um dos fatores em análise, além das visualizações, é a interação de um determinado conteúdo: se for muito partilhado, com muitas interações tem mais alcance.

Neste caso, entre 7 de janeiro e 7 de fevereiro, o MediaLab identificou quatro casos alvo de fact-checking por parte do Polígrafo e do Observador, com muitos milhares de visualizações.

O caso mais recente foi da líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que, numa publicação no X (ex-Twitter) acusa a direita de ser responsável pela privatização da EDP e Polígrafo alega que está descontextualizada.

A publicação Mariana Mortágua no X, em 1 de fevereiro, sobre a privatização da EDP por parte do governo PSD, teve 75.500 visualizações e 650 interações (gostos, comentários e partilhas) e um total 3.533 interações no Instagram.

O Polígrafo conclui que esta informação está descontextualizada, dado que a privatização da EDP foi distribuída por várias fases e ficou a cargo de vários governos entre 1997 e 2013, sendo o último o de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS).

O segundo caso é de uma publicação do Chega, da autoria do deputado e dirigente Pedro Frazão que, em 22 de janeiro, publicou no X um gráfico que, alegadamente, comprovaria a substituição populacional em curso em Portugal, nove dias depois de o líder, André Ventura, ter afirmado que 30% da população em Braga seria imigrante, o que fack-checkers também verificaram ser falso.

A publicação de Pedro Frazão foi partilhada 75 vezes e usado por mais um utilizador para fazer uma publicação original com o mesmo tema. No total, a imagem teve pelo menos 996 interações e foi visualizada 36.800 vezes, de acordo com o relatório.

O Polígrafo concluiu que esta imagem é enganosa e o teor da publicação é dado como falso. A sobreposição das pirâmides de população “diz respeito a dois universos distintos que não podem ser comparáveis da forma que Pedro Santos Frazão fez”.

Neste período de um mês, o MediaLab identificou mais dois casos de desinformação, um utilizador que deturpou a imagem da Aliança Democrática, e teve 428 mil visualizações na rede X. Um outro utilizador fez uma publicação com uma fotografia manipulada de Pedro Passos Coelho com uma bandeira do Chega, que teve um total de 287 interações, com cerca de 18 mil visualizações.

Os autores deste projeto (Gustavo Cardoso e José Moreno) alertam que não existe uma relação direta entre o número de interações (ou ‘gostos’) com as intenções de voto de um determinado partido ou candidato.

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