É a comunicação, estúpido.

Nunca percebi muito bem porque é que em eleições nacionais, os líderes de cada um dos partidos tradicionais não adaptam as suas mensagens e a forma como as entregam ao contexto regional e local de cada um dos sítios onde fazem campanha, optando sistematicamente por grandes chavões generalistas, vazios e chatos.

Acho que o crescimento da extrema-direita é muito explicado por esta dificuldade de comunicação dos partidos grandes, que vivem de facto dentro de uma bolha mediática.

Os portugueses têm a sensação de que os grandes partidos só falam de coisas que não têm conexão com a vida real das pessoas. Em locais onde a criminalidade é mais elevada, ou há um problema de violência juvenil com gangs, por exemplo, é normal que os temas relacionados com a segurança sejam mais sentidos pelas populações. Em locais como a freguesia de Arroios em Lisboa, onde jardins inteiros são ocupados por tendas, é normal que o discurso anti-imigração, xenófobo e racista tenha mais acolhimento.

Não duvido que todos os grandes partidos têm soluções programáticas para cada um destes problemas locais. Não tenho dúvidas que sabem que existem problemas específicos para resolver. Mas também não tenho nenhuma dúvida que a forma como comunicam localmente é, não há outra forma de o dizer, incompetente.

A verdadeira explicação para o sucesso dos partidos de extrema-direita não se encontra apenas no populismo das suas mensagens, mas sim pela forma profissional como gerem a sua comunicação, adaptando as suas mensagens e cada um dos seus públicos e escolhendo criteriosamente e de forma agnóstica as melhores ferramentas de comunicação para fazer chegar as suas mensagens.

Será isto tão difícil de fazer em 2024? Será assim tão difícil estudar localmente as principais preocupações das populações e comunicar de forma organizada as soluções que têm para a hierarquia dos problemas específicos de cada terra?

Será assim tão difícil usar as redes sociais de forma social? Será assim tão difícil perceber que cada português é diferente? Não. É fácil. É preciso aprender a ouvir. É preciso aprender a comunicar.