Quando o jornalismo é a notícia

Imagine um dia sem notícias. Nem uma. Não via jornais ou revistas nos quiosques, nas bombas de gasolina, nas papelarias e nas zonas de imprensa das grandes superfícies, não se cruzava com ninguém a ler um jornal no café — e por esta altura estará a pensar: “certo, mas já praticamente não cruzo”.

Um dia sem notícias iria muito mais além. À hora certa e às meias horas as rádios não tinham noticiário e as estações de informação passariam música durante as 24 horas de emissão. Os canais de informação ficavam a negro, os restantes saltavam os blocos dos telejornais.

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Nos sites, claro, não encontrava uma única notícia. Política, sociedade, economia e internacional desapareciam. Era um dia sem guerras, sem atrasos nas urgências, sem políticos constituídos arguidos, sem promessas para os mais jovens, para os mais velhos, para os trabalhadores e para os empresários, um dia sem campanha ou programas eleitorais, um dia sem análise, sem comentário, sem previsões.

Um dia sem os resultados dos jogos de futebol ou antevisão da próxima jornada, sem a crítica ao concerto da noite anterior e com zero sugestões de lazer para o fim de semana. Um dia sem o estado do tempo e do trânsito, sem receber uma única notificação.

Continua a ter as redes sociais, claro. Mas os posts dos seus amigos reais e virtuais não o transportam para a atualidade, os de escárnio e maldizer abstraem-se da informação e as suas conexões não recomendam nenhum daqueles artigos que não resiste a, pelo menos, espreitar.

Um dia sem notícias seria o dia em que um enorme apagão não o deixaria ver nem o fim do mundo, nem sequer o fim da rua. Nas últimas semanas, à boleia da situação de um grupo de media, o jornalismo tornou-se notícia.

Mas, as causas da fragilidade do setor não são novas e estão identificadas. Uma delas é que se criou a ideia de que a informação é gratuita. Consegue imaginar um dia sem notícias?