Governo volta ao antigo logótipo. Especialistas em comunicação aplaudem a decisão
O novo logótipo da República Portuguesa, lançado no último ano, foi posto na gaveta por Luís Montenegro. A decisão é elogiada por especialistas em marcas e comunicação.
A mudança aconteceu logo a seguir à tomada de posse. Esta terça-feira, ao final da tarde, assim que Luís Montenegro e os seus 17 ministros tomaram posse, as páginas oficiais do XXIV Governo e da República Portuguesa voltaram a apresentar o logótipo antigo, com o escudo, as quinas e a esfera armilar.
“Com este gesto, o Governo dá um sinal de sobriedade que pode, a par de outros gestos, mexer positivamente com os sentimentos das pessoas. E esta mudança não precisa de aprovação do Orçamento nem de visto do Tribunal de Contas”, analisa João Tocha, especialista em comunicação.
Também Carlos Coelho, critico assumido da imagem criada pelo Studio Eduardo Aires e adotada pelo Governo de António Costa, aplaude a decisão. “Voltar atrás é sempre melhor que prosseguir pelo caminho errado. Congratulo a coragem deste novo Governo em ter sido claro neste retrocesso, poupando o país do empobrecimento visual que sofreu nos últimos meses a respeito da mudança ‘encapotada’ da marca de Portugal”, comenta.
“Voltamos à casa da partida, de onde, desta forma, nunca devíamos ter saído”, resume o especialista em marcas e presidente da Ivity Brand Corp.
João Tocha, CEO da First Five Consulting (F5C), defende ainda que quando se mexe na simbologia de um país se está a mexer “em património firmado e com o qual os cidadãos estão identificados”. Ora, é necessária prudência e consistência. “Por vezes são precisas ruturas de imagem. Mas não se devem fazer experiências repentinas“, diz.
“Já assistimos a algumas no passado que não tinham aderência ao sentimento nacional ou de uma região“, acrescenta o fundador da F5C, recuando a 2007 e ao “Allgarve”, do então ministro da Economia Manuel Pinho, que só nesse ano terá investido seis milhões de euros numa campanha que pretendia juntar a palavra Algarve com o conceito de “tudo” (do inglês: “all”). O programa Allgarve terminou cinco anos depois pela mão da secretária de Estado do Turismo Cecília Meireles.
“Um exercício é a criação de um conceito logo de raiz e o investimento nesse posicionamento de marca. Outra é mexer em marcas estabilizadas e em símbolos nacionais”, resume João Tocha.
Carlos Coelho, que tem dedicado parte do seu trabalho às marcas territoriais, escrevia no +M em dezembro que, “na teoria, esta nova marca não pretende substituir a bandeira nacional. Mas, na prática, este novo “godé identitário” irá cunhar cerca de 95% das interfaces de comunicação de Portugal com o mundo, o que é inaceitável.”
Agora, ao aplaudir o regresso à identidade anterior, o profissional faz a ressalva: “Não considero que o design ou a modernização dos símbolos nacionais devam estagnar. Acho, contudo, que quase 900 anos de história não podem ser ‘dessignificados’ e geometrizados por exercícios, ainda que bem intencionados, que desvalorizem o percurso de tantas gerações fizeram para aqui chegarmos”.
“Uma marca não é um ponto de chegada, é um caminho com avanços e retrocessos. Faz parte de quem tem uma longa história, armilar, para continuar a contar“, conclui o fundador da Ivity Brand Corp.
A identidade visual do Governo foi alterada pelo Executivo de António Costa no primeiro semestre de 2023. O objetivo, explica o manual da marca, foi adaptar a imagem ao ambiente digital, no qual se processa grande parte da comunicação.
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