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Dentsu Creative retira todas inscrições do Festival CCP após polémica com o filme “É uma menina”

Carla Borges Ferreira,

A agência afirma que o CCP deixou de merecer a sua confiança, pelo que renuncia a qualquer prémio. Direção "lamenta o sucedido" e também "alguns equívocos que têm sido criados nas redes sociais".

A Dentsu Creative anunciou a retirada de todos os trabalhos que tinha inscrito no Festival CCP e também a renúncia a qualquer prémio que lhe tenha sido atribuído. A decisão, justifica a agência liderada por Tomás Froes e Lourenço Thomaz, surge na sequência da retirada do filme “É uma menina”, do BPI, da lista de trabalhos em shortlist, ou seja, candidatos a prémio.

O trabalho, soube-se este fim de semana através de um post do estratega Nicolas Grassi no LinkedIn, tinha sido votado para shortlist pelo Júri Shortlist, cujo voto valia 50%, e pelo júri oficial, que valia os restantes 50%. Levado a discussão na reunião presencial do júri oficial, acabou então por ser excluído.

Sabe-se — estas coisas chocantes são as primeiras a saberem-se — que uma pessoa acusou a campanha de ‘machista’ e no terror que se vive hoje sobre desigualdade de género e abuso de poder masculino, quatro ou cinco pessoas do júri votaram a favor da campanha ser retirada da shortlist – ou seja, de desaparecer da história da publicidade nacional e de não ter hipótese de ganhar qualquer prémio (quando seria uma das favoritas). Não tenho nada a ver com a campanha, mas fico chocado e indignado com esta votação”, escrevia Nicolas Grassi (que não fez parte do júri).

Como é que uma pessoa acha que este filme é machista e como é que outras pessoas se deixaram influenciar na altura de votar? Duas perguntas que vão ficar sem resposta. Acredito que, se fosse possível, voltar atrás algumas pessoas voltariam e mudariam o seu voto“, concluía o profissional.

Na sequência do post, o Clube da Criatividade de Portugal, que organiza o Festival CCP, emitiu um comunicado a explicar que para um trabalho entrar ou sair de shortlist, ou ser premiado com bronze, prata ou ouro, há uma votação de braço no ar. Todos os jurados votam, sendo que o presidente apenas desempata, se for necessário. É preciso haver uma maioria de votos para um trabalho ser premiado.

O procedimento de votação foi exatamente o mesmo utilizado nas restantes peças inscritas na categoria. O trabalho foi discutido e os jurados apresentaram argumentos de natureza diversa. No final da discussão, foi votado mais do que uma vez, tendo prevalecido a decisão da maioria, conforme estipulado no regulamento”, descreve Diogo Anahory, presidente do júri, citado no comunicado.

A direção do CCP lembra que nenhum membro da direção pode interferir no processo de votação, assistir à discussão dos trabalhos em sala ou influenciá-la de alguma forma e que “a direção não pode de qualquer forma interferir numa decisão tomada por um júri do Festival”.

Os argumentos não colheram junto da Dentsu Creative. Em resposta, na rede social Instagram, a agência afirma que o trabalho foi retirado “por ser alegadamente machista” e “o que a DC se insurge também é contra o facto de o Júri impedir que o trabalho que o trabalho seja avaliado pela sua criatividade, eliminando-o dessa votação, com um fundamento altamente criticável, censurável, intolerável. Um julgamento prévio à própria votação“.

O mínimo que se exige do CCP, não é que interfira na votação, mas que assuma uma posição formal e frontal, não se refugiando em formalidades. É essa posição de defesa da criatividade que se esperava do CCP“, escreve a Dentsu, que conclui afirmando que o “CCP deixou de merecer a confiança” da agência, pelo que pediu a retirada de todos os trabalhos que tinha submetido a concurso.

“Entendemos o gesto de protesto, apesar de o lamentarmos. A Dentsu Creative tem todo o nosso respeito e admiração pelo trabalho que desenvolve, e lamentamos que esta decisão signifique que o anuário deste ano fica sem a participação da Dentsu Creative“, comenta com o +M a direção do CCP.

“A direção do CCP lamenta o sucedido por vários motivos. Em primeiro lugar, lamentamos que tenha sido violada a confidencialidade das discussões e das deliberações em sala. Cada jurado deve sentir-se seguro naquele contexto de votação para expressar a sua opinião com o resto do grupo. Cada jurado só tem um voto. Cada grupo de júri tem oito jurados mais um presidente. As votações do júri em sala são soberanas e a direção não pode, de nenhuma forma, interferir nas discussões e nas deliberações”, responde por escrito a direção do CCP.

Lamentamos ainda alguns equívocos que têm sido criados nas redes sociais. O trabalho em causa não foi expulso do Festival. Aliás, está na shortist de Craft, onde foi inscrito pela Ministério dos Filmes. Os prémios serão revelados na Gala do dia 24. A votação do trabalho na categoria de Publicidade seguiu todos os passos do regulamento e uma maioria de votos decidiu que ele não deveria ficar na shortlist nessa categoria”, esclarece ainda, acrescentado que está a seguir a discussão que tem acontecido nas redes sociais e reconhecendo que vivemos “tempos complexos”.

“No sentido de nos adaptarmos a estes tempos, depois desta edição do Festival faremos uma reflexão séria sobre os passos a dar no futuro, nomeadamente sobre como continuar a sensibilizar o júri para que os trabalhos a concurso sejam julgados pelo seu desafio, pela excelência da resposta criativa, pela sua relevância, qualidade da execução e impacto“, prossegue.

Sobre a exclusão, a direção do CCP explica que “o processo decorreu de forma igual com todos os trabalhos que foram levados a discussão em sala”. Ou seja, depois da primeira fase de votação em casa, há uma linha de corte definida pelo presidente de júri acima da qual os trabalhos passam a shortlist e abaixo da qual ficam de fora. O regulamento prevê que o júri, em sala, pode levar a discussão qualquer trabalho para que ele seja acrescentado ou retirado desta shortlist prévia. Todas as discussões e deliberações em sala são privadas e protegidas por um acordo de confidencialidade assinado à entrada, descreve o CCP.

“Depois da polémica iniciada nas redes sociais, questionámos o presidente de júri sobre este processo. O presidente indicou-nos que o trabalho tinha sido levado a discussão por um jurado, que tinham sido apresentados argumentos a favor e contra o filme ficar na shortlist, e que o trabalho foi depois votado três vezes, tendo a maioria dos jurados deliberado que ele deveria sair da shortlist”, concretiza.

A Dentsu, avança a direção do CCP, fez 12 inscrições no Festival, das quais nove chegaram a shortlist.

A categoria de Publicidade, recorde-se, tem como presidente Diogo Anahory (DJ) e conta com Fernando Silva (Uzina), Francisco Chatimsky (Mafalda&Francisco), Hernâni Correia (Leo Burnett), Ivo Martins (O Escritório), Patrícia Cordeiro (Judas), Patrick Stillwell (Dentsu Creative), Sara Soares (VML) e Sofia Anjos (Worten), como jurados.

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