Hoje é Dia Internacional da Mulher

  • Elgar Rosa
  • 28 Maio 2024

Decido escrever este texto por três razões: sou pai de uma menina, sou marido e tenho 20 anos de gestão de equipas, sendo que as minhas sempre foram compostas maioritariamente por mulheres.

Oh bolas, já passámos o dia 8 de março? Então agora só é suposto falar disso no próximo ano, certo? É que falar destas coisas sem oferecer flores ou tirar fotos com as mulheres da equipa não é a mesma coisa. Afinal todos queremos mostrar que somos um exemplo em matéria de igualdade de género. Tenho uma máxima que procuro partilhar quando se dizem coisas como “acho que já evoluímos bastante em igualdade de género” ou “não há racismo em Portugal”: ninguém pode negar a existência de desigualdades se não as sentir na pele. E isto devia ser ensinado nas escolas, porque vermos fenómenos de desigualdade com o filtro confortável de quem não os vive é falacioso e até perigoso.

Feito este preâmbulo, decido escrever este texto por três razões: porque sou pai de uma menina, porque sou marido e porque tenho 20 anos de gestão de equipas, sendo que as minhas sempre foram compostas maioritariamente por mulheres.

Comecemos justamente por aqui. Em 20 anos de gestão, cerca de 90% das minhas equipas foram compostas por mulheres. Não é uma coincidência. A indústria das Relações Públicas é dominada por mulheres em Portugal e a elas devemos o seu crescimento e sucesso. Este domínio é também internacional. De acordo com estudos (entre eles do The Bureau of Labor Statistics) a percentagem de mulheres profissionais de Relações Públicas situa-se entre os 63 e os 85%. Nos Estados Unidos, como em Portugal, são, no entanto, os homens a liderar as agências (incluindo a Pure, é verdade). E assim termina a discussão sobre igualdade nesta área. Porque continuar a discussão seria discutir as capacidades das mulheres, elas que representam mais de dois terços desta área de consultoria.

A desigualdade materializa-se na inquestionável diferença nas oportunidades ou nos salários que, em 2022, ainda apresentavam uma diferença de 13,4 % em relação a nós, homens, de acordo com a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Não embarco em teorias conspirativas de homens a bloquear o sucesso das mulheres, mas sim numa sociedade que evoluiu baseada na quase ilimitada disponibilidade dos homens para a sua carreira e que agora quer ser justa com base nesses pressupostos.

O “mundo” espera que as mulheres consigam compatibilizar o seu trabalho, e as legítimas aspirações profissionais, com a liderança da dinâmica familiar. Façamos o exercício “estatístico” de ficar à porta de um infantário em 2024 e vejamos quem vai levar e buscar as crianças (em horas impossíveis de não prejudicar o trabalho e visão das lideranças). Já para não falar na gestão das alterações físicas e hormonais ou o impacto emocional de regressar ao trabalho depois da natureza as obrigar a parar. É como conduzir um fórmula 1 e ser obrigado a ir à box quando estamos na frente.

Não sou ninguém para ensaiar soluções, muitas delas estudadas por especialistas e algumas testadas com sucesso em alguns países. Limito-me a fazer a minha parte (em casa e na agência) e a trazer o tema para além do dia em que se celebra o que ainda está longe de ser uma conquista. Mas não vamos lá apenas com o bom senso de cada um, embora esse seja um contributo determinante para a mudança de paradigma.

  • Elgar Rosa
  • Fundador e diretor executivo da Pure

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