Eu não vos disse?!?
Pedimos a ex-jogadores e publicitários que nos deem as suas opiniões e que nos mostrem o que está errado. Mas, estranhamente, nunca ouvimos, de uns e outros, como é que se resolve.
O campeonato da Europa de futebol terminou, mas o campeonato português terminou uma semana antes, fruto de uma campanha desastrada e sem chama. Acreditem que não irei criticar o Ronaldo, nem dizer que a culpa é do Félix ou do Martinez. Portugal, e o mundo, já têm comentadores desportivos que cheguem, e eu prefiro não falar daquilo que pouco sei.
No entanto, gosto de futebol. E gosto, sobretudo, dos jogos da seleção. Gosto de ver os jogos e de ir ao estádio. É um ambiente festivo, com famílias inteiras, onde todos puxam pela mesma equipa. É um momento bonito e de celebração.
Este entusiasmo tem um preço. Em todas as grandes provas acabamos por criar o “mito” de que temos a melhor equipa do mundo, constituída pelos melhores do mundo na sua posição, e que o nosso destino é ganhar! A tudo e a todos.
Depois chega a desilusão e o regresso à terra. A confirmação de que os nossos jogadores brilham mais no estrangeiro que com o equipamento luso. São mais produtivos lá fora… (onde é que eu já ouvi isto?!?)
Depois, aqueles que os endeusaram, que os colocaram no Olimpo nos meses anteriores ao Euro, os mesmo que afirmaram que tínhamos e éramos os melhores, são depois os carrascos em prime time. Encontram erros e debilidades, para as quais já tinham avisado com muitos meses de antecedência, e que era evidente que aquele jogador, naquela posição, nunca iria render. Curiosamente, o espectador, mesmo o mais atento, nunca ouviu tal coisa, o que só prova que o futebol se joga, e se vive, mais no imaginário do que na realidade.
Acho curioso que o mesmo fenómeno aconteça na publicidade. É natural dentro de qualquer setor existir concorrência. Aliás, apesar de ninguém gostar dela, a verdade é que nos beneficia. Faz-nos evoluir e desafia-nos todos os dias a fazer melhor. Mas dificilmente encontrarei um setor que é tão crítico de si mesmo. E com as críticas mais duras a virem de dentro. Hoje a publicidade é um setor que perdeu encanto, que tem dificuldade várias. Que vai ter de buscar, no futuro próximo, outro modelo de negócio, pois até a participação humana já começa a ser questionada.
Li nas últimas semanas entrevistas de responsáveis do setor, gente que não tem de dar explicações a ninguém, a fazerem afirmações fortes sobre quem chega à publicidade e sobre a qualidade duvidosa de alguns dos talentos atuais. Caramba, mas será que não é essa geração, que está na liderança das agências, que os escolheu? Dir-me-ão que escolheram mais barato porque os clientes não querem pagar mais… Mas não será este um problema transversal a praticamente todos os negócios?
Somos muito exigentes com a seleção Nacional e com a publicidade. Pedimos a ex-jogadores e publicitários que nos deem as suas opiniões e que nos mostrem o que está errado. Mas, estranhamente, nunca ouvimos, de uns e outros, como é que se resolve. E que tal propor uma possível solução para os pitches com sete agências, para os concursos não remunerados, para a necessidade de formação específica dos nossos jovens talentos, para a transformação tecnológica que estamos a viver e a ter de enfrentar?
Ou será que andamos todos mais preocupados com o fim do jogo para, finalmente, podermos afirmar: “Eu não vos disse?”
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