Aumenta a pressão sobre os media na Itália de Meloni. Casos judiciais sucedem-se
Governo italiano tem sido acusado de tentativas de repressão junto dos media. Itália caiu cinco posições no índice anual de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Têm-se sucedido os casos judiciais avançados por Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana, contra a imprensa e os jornalistas italianos. Além disso, o Governo de Meloni também já impôs restrições a reportagens sobre processos criminais.
Estes casos refletem a tensão existente entre os media e Governo italiano liderado por Giorgia Meloni, que já levou Bruxelas a acusar o país italiano de fazer uso de ações legais como forma de repressão às críticas por parte dos media.
Em julho, a vice-presidente da Comissão Europeia, Věra Jourová, acusou mesmo o Executivo de Meloni de “intimidação”, por fazer um uso cada vez maior de ações judiciais para tentar interferir no trabalho dos jornalistas.
No entanto, Meloni acusou os jornais italianos de tentar “manipular” Bruxelas. “Não creio que exista uma regra na Itália que diga que ao se ter um cartão de jornalista se possa difamar livremente alguém”, disse Meloni aos jornalistas, conforme citada pelo Financial Times.
Itália caiu cinco posições no último índice anual de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, passando a ocupar o 46.º lugar entre 180 países (Portugal ocupa a sétima posição).
Naquele que foi um dos últimos casos, um tribunal de Milão condenou uma jornalista ao pagamento de uma multa de cinco mil euros à primeira-ministra italiana Giorgia Meloni devido a publicações nas redes sociais onde se referia à altura da governante.
Mas as investidas judiciais de Meloni tiveram início ainda antes de assumir o cargo que agora ocupa, pois durante os anos em que esteve na oposição, a líder do partido Irmãos de Itália processava frequentemente aqueles que a criticavam.
O resultado de muitos desses casos só foi conhecido quando Meloni já era líder do Governo italiano, como aconteceu com o processo por difamação com que avançou em 2020 contra o escritor Roberto Saviano por chamá-la a si e a Matteo Salvini de “bastardos”. Em outubro passado, Roberto Saviano acabou por ser condenado a pagar mil euros à política italiana.
E outros casos se avizinham, como o que envolve Luciano Canfora, professor de história de 82 anos, que será julgado em outubro após ter chamado Meloni de “neonazi de coração”.
Mas não é só Meloni que tem ajudado à multiplicação de casos por difamação contra jornalistas. Outros membros do seu Executivo também têm contribuído, como aconteceu no caso do ministro da Defesa, Guido Crosetto, que ameaçou processar um jornal por este ter alegado que o ministro tinha um conflito de interesses por ter trabalhado anteriormente na indústria da defesa.
Embora tenha acabado por não levar o jornal a tribunal, três dos jornalistas daquele meio de comunicação estão sob investigação criminal por supostamente receberem e publicarem detalhes de documentos confidenciais, incluindo a declaração de IRS do ministro.
Outro caso envolve Luciano Capone, jornalista do Il Foglio, que escreveu que Adolfo Urso, ministro italiano da Indústria, deveria ser chamado de URSS (sigla da ex-União Soviética). O jornalista enfrenta agora uma batalha judicial depois de o político o ter processado por difamação, exigindo 250 mil euros.
Luciano Capone refere a existência de “um problema de incentivos”. “Fazer uma reclamação não custa nada aos políticos, e custa muito para quem a recebe… Dada a lentidão da Justiça em Itália, a espada de Dâmocles é pendurada sobre a cabeça de um jornalista e fica lá por quatro ou cinco anos”, afirma, citado pelo Financial Times.
Em maio vários jornalistas da televisão estatal italiana RAI entraram em greve num protesto contra a redução do orçamento, mas também contra a atmosfera de censura e repressão em Itália aos meios de comunicação social sob tutela do Governo italiano. A greve ocorreu poucos dias depois de a organização Repórteres Sem Fronteiras ter descido em cinco posições a Itália no índice anual de liberdade de imprensa.
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