Girl Math – TikTok, marketing, feminismo e educação financeira na mesma equação
Façamos um brinde, com um belo drink nas mãos, um outfit incrível e uma selfie para registar. Quando eu disser “já” digam todos(as): Girl Power!
Quem acompanha as tendências nas redes sociais sabe que há um perfil muito fugaz na produção de conteúdos: o que faz todo o sentido hoje deixa de ser importante amanhã. Para além do excesso, a velocidade de produção e de consumo cria, nas redes, um cenário completamente efémero. Entretanto, quando uma tendência viraliza, como é o caso da ‘Girl Math’, faz sentido lançarmos um olhar mais aprofundado – não fossem as redes sociais um reflexo claríssimo do tempo em que vivemos.
‘Girl Math’ (ou matemática feminina, em tradução livre) é uma das muitas ramificações da produção de conteúdos de cunho feminista no contexto online. Refere, sobretudo, a “matemática” que as mulheres fazem quando pretendem adquirir um produto ou serviço: os valores baixos ou pagos de forma atempada, por exemplo, não são considerados como sendo relevantes — há sempre uma desculpa ou recompensa psicológica a ser utilizada quando a mulher pretende consumir sem culpas. No fundo, a ‘Girl Math’ descomplica as escolhas de consumo mediante um discurso descontraído e que põe a satisfação das necessidades de compra antes das preocupações financeiras.
Em primeiro lugar, é importante destacar que a ‘Girl Math’ está assente, sobretudo, no empoderamento feminino das gerações Millenial e Z: retrata mulheres independentes, seguras e que valorizam a capacidade de fazer escolhas — algo que, durante muitas décadas, foi negligenciado. Assim, e sob este ponto de vista, espero genuinamente que estas partilhas possam ser cada vez mais difundidas, a fim de reforçar as posições de destaque das mulheres na nossa sociedade e o aumento do poder aquisitivo que tanto fazem por merecer.
Aliás, faz sentido destacar que, segundo o estudo da Ned Davis Research Group divulgado em março deste ano, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho em diferentes países aumentou consideravelmente, ultrapassando largamente os ganhos obtidos pelos homens. Também o crescente interesse das mulheres em temas como poupanças e investimentos não deixam dúvidas: estamos diante uma clara demonstração de #GirlPower.
Entretanto, o ponto que chama a minha atenção nesta dinâmica é outro: será que as jovens que estão agora a integrar o mercado de trabalho saberão gerir a ‘girl treat’, aquela recompensa imediata que sempre impacta o saldo na conta bancária? Será que terão a capacidade de distinguir as necessidades que o marketing salienta – como os brunches com mimosas, os famosos ‘hauls’ de compras e os ‘must-have’ das estações do ano – das suas reais necessidades para uma independência plena, em todos os sentidos?
A resposta a estas questões é algo que será consolidado com o tempo. De qualquer forma, há elementos que não podem deixar de ser calculados:
- As estratégias de marketing estarão cada vez mais refinadas, quer ao nível de utilização dos algoritmos nas redes, quer de comunicação, influência, pricing, targeting e integração online-offline;
- A nossa sociedade irá continuar a promover o hiperconsumo, mesmo que este ganhe novos contornos – como a economia circular, a sustentabilidade, o efeito woke ou o ativismo nas mais diversas áreas;
- As grandes cidades irão manter os custos de vida elevados, uma realidade em linha com os desafios económicos globais enfrentados atualmente.
Às jovens caberá o papel de continuar a desbravar o progresso das gerações anteriores e imprimir na sociedade atual a certeza de que as mulheres estão a dar as cartas com inteligência, garra, sensibilidade e profissionalismo. A satisfazer as suas necessidades sem jamais deixar de lado o compromisso com o futuro. Nesta matemática da vida o resultado deve ser claro: as mulheres somam.
Façamos um brinde a isso, com um belo drink nas mãos, um outfit incrível e uma selfie para registar. Quando eu disser “já” digam todos(as): Girl Power!
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