O que é e o que se imagina
Os mestres da perceção (dos dois lados) vão tentar construir realidades paralelas para mitigar o que verdadeiramente lhes vai na alma, ou então persistir no erro porque o abismo atrai.
Outubro parece ser o mês de todos os perigos. Israel e Irão, Rússia e Ucrânia, Kamala e Trump, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, orçamento ou crise. Que mais nos irá acontecer? – O Benfica outra vez campeão?
Há momentos de psicose coletiva em que a desordem do mundo parece uma nova ordem. E a “desordem é uma forma de ordem que ainda não entendemos”, para citar o exuberante Lawrence Durrell.
Muitas das nossas opiniões e convicções nascem de processos cognitivos complexos, mas se forem baseados em falsidades de modulação variável atacam mortalmente a conclusão.
A perceção influencia a interpretação de informações, afetando a tomada de decisão, explicam os amantes da psicologia aprendida no Google – e os de Goebbels também. Vieses cognitivos, confiabilidade da informação, avaliação de riscos e emoções são fatores que intoxicam a qualidade das nossas escolhas. Mas se compreendermos como a perceção influencia a decisão, então estamos mais aptos para reconhecer os tais vieses e, assim, melhorar a avaliação e fazer escolhas mais conscientes.
Como estamos em dia de citações, convoco o físico norte-americano Richard Feynman para ajudar na tese: “The first principle is that you must not fool yourself, and you are the easiest person to fool”. É verdade, muitas vezes sabemos o caminho, mas recusamos percorrê-lo por uma irresistível atração pelo erro. Ou seja, preferimos errar mesmo conhecendo a dimensão do equívoco.
Este tipo de comportamento é muito frequente na nossa vida pessoal e íntima. Mas também no trabalho ou na conversa de café. E, pelos vistos, também na ação política.
É aqui que entra a disciplina da comunicação. Os mestres da perceção (dos dois lados) vão tentar construir realidades paralelas para mitigar o que verdadeiramente lhes vai na alma, ou então persistir no erro porque o abismo atrai.
Este jogo até seria fascinante se não fosse perigoso.
A pulverização dos sistemas partidários implica uma forma de gestão dos equilíbrios e consensos. Governar é escolher e também saber gerir interesses – neste particular Montenegro deu ontem (3 de outubro de 2024) uma lição. E estar no conforto da oposição não justifica niilismos suicidas injustificáveis.
Tudo isto ganha um interesse suplementar porque, mais do que nunca, precisamos de um Centro que não falhe no essencial, também para evitar que as margens ganhem no acidental: esse imenso oceano de pequenas coisas que facilmente se transformam em grandes.
Em tempo de desordens, apenas precisamos de uma dose de bom senso, o mais eficaz remédio anti-caos que se conhece.
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