Governo criticado por baixar preços dos transportes sem reforçar a oferta
Especialistas em transportes apontam o dedo ao Governo por baixar o preço sem aumentar a oferta à população.
Ao reduzir o preço dos transportes públicos — implementando medidas como o Passe Ferroviário recentemente aprovado –, sem reforçar os veículos em circulação, o Governo não está a garantir mobilidade à população. Acaba, sim, por condicionar o aumento da procura por um sistema congestionado, gerando sobrecargas e uma maior dificuldade das pessoas acederem aos transportes, alertaram esta terça-feira, no Porto, três especialistas em mobilidade.
“O que mete confusão nos sistemas de transporte é que a política é baixar preço, não é garantir mobilidade. Com este baixar de preço, nós não estamos a garantir nada, estamos a tirar o acesso às pessoas, estamos a congestionar os sistemas”, assinalou o vice-presidente da Associação Comercial do Porto, Álvaro Costa, durante a conferência “Mobilidade: desafios e soluções para as grandes cidades”, numa iniciativa da Rádio Renascença e da Câmara Municipal do Porto.
“Os sistemas estão congestionados, há roturas, as pessoas não andam, e há uma política central para baixar o preço”, criticou Álvaro Costa, que também é CEO da TRENMO. Aliás, avisou, “baixar o preço [só vai] agravar o problema”. Para o especialista, “direito à mobilidade” e gratuitidade são duas coisas completamente distintas, uma vez que a baixa de preços pode acabar por limitar a capacidade dos transportes em circulação.
O que mete confusão nos sistemas de transporte é que a política é baixar preço, não é garantir mobilidade. Com este baixar de preço, nós não estamos a garantir nada; estamos a tirar o acesso às pessoas, estamos a congestionar os sistemas.
Também Carlos Oliveira Cruz, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, defendeu que, primeiro, o Governo deveria ter apostado no reforço da capacidade dos transportes. “Sou favorável à melhoria da acessibilidade económica (…), mas isto deveria ter começado primeiro com o reforço da acessibilidade física: ter mais comboios a circular, mais autocarros“, e só depois baixar o preço, vincou.
“Temos problemas de capacidade no sentido em que os comboios circulam cheios. Tenho um preço barato, mas para um serviço que não tem a qualidade suficiente”, sustentou Carlos Oliveira Cruz. Em relação ao sistema rodoviário, o professor sugeriu a criação de mais corredores BUS, o que permitiria “aumentar a velocidade de circulação dos autocarros e com isso melhorar a eficiência”.
Já Paula Teles, presidente do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade (ICVM), apontou a necessidade de se “pensar no espaço, na acessibilidade que se tem e no desenho urbano” e condicionar a presença do veículo privado nas ruas. Podem ser praticados “preços mais baixos, o que é importante para as famílias” ou uma “maior oferta”, mas “se o espaço público não permitir a competitividade do sistema de transportes, não há hipótese”, alertou.
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