Na política americana há muitas marcas
Trump é hoje o rosto da extrema-direita, não por convicção mas por oportunismo. É o rosto global do movimento populista que cavalga ódio e divisões. Kamala Harris é o rosto que se lhe opõe.
O sistema democrático americano é por natureza um espaço pouco ideológico, com posicionamentos dinâmicos focados em maiorias de contexto e, especialmente no mundo pós-Kennedy, na força da liderança dos dois partidos.
O reforço da personalização das campanhas eleitorais em torno dos candidatos é uma tendência global e tem vincado a cultura partidária americana. Esta talvez seja a questão mais preocupante para todos os que acreditam na democracia por todo o globo.
Mesmo em Portugal, vale a pena refletir o quanto os partidos são hoje mais personalizados nas suas lideranças. Se nos partidos que surgiram nas últimas décadas é claro esse traço, a diferença nos partidos fundadores da democracia é enorme. Lideranças fortes e carismáticas como a de Freitas do Amaral, Sá Carneiro ou Soares, interpretavam a linha ideológica dos partidos, não impunham a sua liderança como principal trunfo eleitoral.
Kamala Harris sucede a Bidden, sem disputar a nomeação Democrata, não por ter um projeto, uma visão, uma marca reconhecida, mas por ser a mais bem colocada numa corrida de poucas opções no quadro da notoriedade. Isto significa que em termos de força das marcas, esta campanha é mais uma campanha de Trump vs Trump que uma campanha Harris vs Trump. Felizmente, a notoriedade vale para o bem e para o mal.
Trump é hoje o rosto da extrema-direita, não por convicção mas por oportunismo. É o rosto global do movimento populista que cavalga ódio e divisões. Kamala Harris, como Bidden anteriormente e Hillary antes de ambos, é o rosto que se lhe opõe. E é este o seu traço politico mais relevante, não afirmou o seu espaço como vice-presidente, não mostrou agenda ou resultados determinantes, nem na imigração, dossier que liderou durante a ultima administração e que todos sabíamos seria tema central desta eleição, fosse ela qual fosse.
Nunca nenhuma eleição americana foi tão disputada até ao último minuto. O resultado é totalmente imprevisível, com ambas as candidaturas focadas em ferramentas de marketing para mobilizar o seu eleitorado, para garantir até ao último segundo que o eleitorado de parte a parte sai de casa para efetivamente votar.
Menos imprevisível será a mensagem utilizada por estas ferramentas de construção de comunidade nos últimos instantes, absolutamente focada na personalidade dos candidatos. Especialmente focada em Trump, que é de facto a marca mais relevante nesta disputa.
Recordemos que Kamala Harris entrou ao intervalo para substituir o titular esgotado e salvar o jogo. Nunca teve hipótese de tornar a sua Marca superior à de Trump e soube por isso focar nele a sua mensagem e manter assim o jogo vivo até ao último minuto.
Terminemos com algum otimismo, olhando para duas tendências de marketing que parecem positivas. No curto prazo a Marca Trump já não tem o vigor, a novidade é irrepetível, de outros tempos, e a marca Harris não tem a capacidade polarizadora que a rejeição de Hillary permitiu em 2016. No longo prazo, apesar do terror inicial, Trump é uma marca pessoal e JD Vance não parece conseguir mantê-la viva caso percam mais umas eleições.
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