Let’s MEGA

  • Vitor Cunha
  • 7 Novembro 2024

Visto daqui, o mundo agora parece mais calmo e há esperança no ar. Se for visto da Europa talvez a imagem não seja a mesma. Uma oportunidade: Let’s Make Europe Great Again. Resta saber com quem.

Chama-se “Off the Record”, mas chamam-lhe “OTR”. Quem conhece Washington, DC para os próximos, e trabalha na política, como lobista, na comunicação ou entretenimento tem de passar por lá, ou passar lá a vida. Fica mesmo ao lado da Casa Branca, nas catacumbas do extraordinário hotel Hay-Adams. Poderia ser o nosso defunto Snob, numa versão mais cara, mas tudo está muito caro nos EUA – Kamala Harris que o diga.

Este intróito típico de um guia manhoso de viagens de grupo deve-se à circunstância de o OTR ter sido o nosso poiso na noite de terça-feira, dia 5 de novembro. Um dia que a história recordará por muitas razões, entre as quais porque foi o dia em que os americanos escolheram para seu presidente um homem condenado, investigado por fraude, e que incitou a um golpe de Estado, entre muitas outras façanhas dignas de comic book.

Pelo OTR passaram jornalistas que estavam a fazer diretos no topo do hotel com vista para a Casa Branca, curiosos, tik-tokers, candidatos a emprego, um padre católico, velhas raposas e jovens donzelas. Muitos vieram de fora, da Suécia, de Seattle, de DC, e até de Portugal, como se vê. A CNN passava nos dois ecrãs da sala.

À medida que os resultados iam chegando das mesas aumentava também o desconforto, e a conta. Quando se percebeu o resultado a Emily desapareceu na confusão e o Bill seguiu para outro bar. Deu-se uma interessante conspiração cósmica: o “Off the Record” a fechar e os apoiantes de Trump na rua a celebrar. Em “On”.

A vitória segura de Donald Trump assenta muito na coerência da campanha, na fixação de mensagens simples, claras e ligadas à vida das pessoas: economia, inflação e imigração. E, claro, na figura carismática de Trump – a imagem de fazedor, corajoso, determinado – vs Kamala Harris, uma figura mais plástica com prioridades distantes dos eleitores (aborto, democracia) e, naturalmente, muito colada à crise da era Biden.

Este resultado é uma boa lição de comunicação política que devia fazer pensar democratas (do partido) e todos aqueles que se interessam pela disciplina. Não foi Elon Musk, o “X” ou os russos quem ganhou. Foi Trump e a sua campanha competente, perante uma adversária incapaz de escapar ao seu passado e sem grandes ideias para o futuro – exceto não ser Trump – mesmo tendo sido apoiada pelo sistema mediático e do entretenimento.

Agora que os republicanos tomaram conta da América, quem tomará conta dos republicanos? A era JD Vance começou, mas o que irão fazer os outros golden boys do Partido Republicano com tanto poder? Há claramente uma nova geração pronta para liderar, mas não é claro o caminho que podem percorrer. Como se viu com Vance: a flexibilidade é uma das suas características, mas que espaço Trump lhe dará? E não se deve desconsiderar o papel que os filhos e a nora do presidente eleito virão a ter. Lara Trump chegou a ser falada para candidata ao senado na Carolina do Norte, agora, por agora, deve ser figura com peso na nova administração ou no gabinete do presidente.

Com o poder legislativo, o executivo e o judicial nas mãos, Trump promete cumprir as promessas eleitorais, baixar o preço da energia, controlar a inflação, baixar impostos. Promete também políticas protecionistas na economia e isolacionistas na política externa. Não é certo que consiga cumprir tamanha carga de trabalhos, ou queira.

Visto daqui, o mundo agora parece mais calmo e há esperança no ar. Os mercados irradiam felicidade, há paz nas ruas (a dimensão da vitória teve um efeito calmante). Se for visto da Europa talvez a imagem não seja a mesma. Uma oportunidade: Let’s Make Europe Great Again (MEGA). Resta saber com quem e por quem. Deve haver um burocrata em Bruxelas com ideias e dinheiro a pensar no tema há décadas. Na falta de respostas em tempo útil, temos Draghi e o seu relatório, mas ninguém quer sujar as mãos com soluções.

  • Vitor Cunha
  • CEO da JLM & Associados

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