Luís Delgado vai avançar para plano de insolvência com recuperação da dona da Visão
A dona da Visão e da Exame aceita estar insolvente e vai pedir a convocação de uma Assembleia de Credores para apresentação e fundamentação de um Plano de Recuperação da empresa.
A Trust in News, dona da Visão e da Exame, vai avançar para a apresentação de um plano de insolvência com recuperação, depois de ter falhado a aprovação do Plano Especial de Revitalização (PER) na semana passada.
A decisão foi comunicada ao início da tarde aos colaboradores da empresa, após ser apresentada aos diretores. “Na sequência da reprovação do PER, a TIN vai comunicar formalmente ao AJP [administrador judicial provisório], que nada tem a opor ao parecer de insolvência que venha a sugerir, na convicção de que a empresa continua a operar, e manifestando, desde já, a sua intenção de apresentar um Plano de Insolvência, requerendo-se, desde logo, a convocação de uma Assembleia de Credores para apresentação e fundamentação do Plano de Recuperação da empresa”, lê-se no email ao qual o +M teve acesso.
Luís Delgado avança assim para um processo de insolvência com restruturação, hipótese avançada pelo +M na última semana. “A Trust In News sempre acreditou que o caminho da sua reestruturação e viabilização seria o mais consistente e positivo para todos os credores, e para todos os nossos colaboradores, que sempre contribuíram para uma comunicação social livre, independente e isenta, cumprindo com rigor os seus desígnios constitucionais”, prossegue o email.
“Lamentavelmente, e malogrados todos os nossos esforços no sentido de manter e estabilizar a nossa atividade, cuja reestruturação está em curso e a produzir efeitos positivos, chegamos ao momento onde somos forçados a assumir o próximo passo“, escreve a administração da empresa.
O passo seguinte é então o administrador judicial provisório comunicar ao tribunal e aos credores que a empresa está insolvente, mas que pretende apresentar um plano de reestruturação. Se o parecer for favorável, será então nomeado pelo tribunal um administrador de insolvência.
Recordando que a Trust in News edita 16 títulos, que “cobrem todos o tipo de leitores, em géneros, faixas etárias e classes sociais”, a administração da empresa diz ser “inimaginável conceber a comunicação social em Portugal sem a presença fundamental das revistas da TIN, que cumprem o seu dever constitucional de informar com rigor, qualidade e pluralidade. A obrigação de informar e ser informado é um princípio básico da nossa democracia e soberania nacional”.
“Entendemos, por isso, que uma insolvência cega e que determine a simples dissolução e liquidação da Trust In News irá deixar a comunicação social nacional mais pobre, e desprotegerá todos os colaboradores e credores, incluindo o próprio Estado“, aponta o email, referindo ainda que na comunicação ao administrador judicial provisório foram esclarecidas “as dívidas ao Estado, com base em dados reais, de 2018 a 2024, para clarificar a narrativa distorcida que tem circulado sobre este assunto”.
O PER da Trust in News foi chumbado na última semana. “O tempo e as condições necessárias não se reuniram para se conseguir manter em dia todas as contribuição mensais para o Estado, desde 29 de maio de 2024, e os ordenados e subsídios de todos os colaboradores. Tudo foi sendo feito, todos os meses, para não atrasar muito cada uma das rubricas, mas a realidade é que não foi possível ter tudo em ordem, como bem sabem”, escrevia a administração, liderada por Luís Delgado, aos trabalhadores num email ao qual o +M teve acesso.
“A reestruturação interna está a mostrar-se correta e adequada, mas o tempo que leva a produzir efeitos é mais lento do que a queda de receitas da TIN”, prosseguia a empresa. O facto de o grupo não ter conseguido cumprir os pagamento ao Estado e os ordenados e subsídios a todos os colaboradores desde que entrou com o processo de PER foi então determinante para a não aprovação do processo, que foi chumbado por 61% dos credores, inclusive o Estado – Autoridade Tributária e Aduaneira e Instituto da Segurança Social –, o principal credor.
Perante o chumbo, continuava o email, a administração ia “analisar com os nossos consultores para decidir que medidas devem ser tomadas para a viabilização da empresa, que se mantém a operar normalmente. Disso daremos conta a todos, o mais depressa possível”. Luís Delgado teria então cerca de uma semana para reconhecer a insolvência ou, em alternativa, avançar para um processo de insolvência com reestruturação, como vai acontecer.
A Trust in News submeteu o plano de recuperação no tribunal de Sintra a meio do mês de outubro. A proposta não previa qualquer perdão na dívida que ascende a mais de 32 milhões de euros, mas pedia mais de uma década para pagar ao seu maior credor, o Estado.
Em concreto, a empresa de media – que em 2018 comprou o negócio das revistas ao grupo Impresa por mais de dez milhões – deve 8,98 milhões de euros à Segurança Social e 8,13 milhões à Autoridade Tributária, dívidas que se propôs a pagar em 150 prestações mensais, ou seja, ao longo dos próximos 12 anos e meio, de acordo com o plano que o ECO consultou no portal Citius.
Em relação ao Novobanco e BCP, cujas dívidas ascendem a 4,3 milhões de euros, e outros credores, onde se inclui a própria Impresa (cerca de 4,1 milhões), a Trust in News pretende um prazo de pagamento de 15 anos (180 prestações mensais). Estes, ao contrário do Estado, votaram a favor do PER. Para os trabalhadores, prevê pagar os salários e subsídios em atraso de quase meio milhão de euros em 12 meses.
A empresa tinha avançado para o PER perante a impossibilidade de “liquidar a curto prazo as suas responsabilidades” e porque é a melhor alternativa para os credores reverem os seus créditos. “É benéfica não só para a empresa, mas também para todos os seus credores, na medida em que permitirá que todos os créditos sejam satisfeitos, contrariamente ao que aconteceria numa situação de liquidação”, justificava.
Este ano, a Trust in News estima terminar com prejuízos de 1,4 milhões de euros, mas prevê lucros a partir do próximo ano: 800 mil euros em 2025 e mais de um milhão em 2026, mantendo resultados positivos na década seguinte. Para tal espera um crescimento das vendas de 2% em 2024 e em 2025, e um crescimento anual de 1% entre 2025 e 2036.
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