Lusa corta acesso ao DN após dívidas. Global Media acusa agência de boicote
A Global Media acusou a Lusa de boicote por ter cortado o serviço noticioso ao DN, enquanto para o presidente da Lusa foi "uma decisão de gestão" após vários meses de dívida.
A Global Media acusou esta segunda-feira a agência Lusa de boicote por ter cortado o serviço noticioso ao DN, enquanto para o presidente da Lusa foi “uma decisão de gestão” após vários meses de dívida.
Em comunicado, a Global Media informou que, “na última sexta-feira, pelas 17h30, o acesso do Diário de Notícias aos serviços informativos da agência Lusa foi unilateralmente bloqueado pela administração da mesma”, considerando esta decisão um “ataque à informação livre e ao jornalismo produzido pela equipa editorial do Diário de Notícias“.
O presidente do Conselho de Administração da Lusa, Joaquim Carreira, afirmou que esta foi uma decisão de gestão após vários meses de dívida e em que a Global Media não respondeu devidamente aos contactos feitos pela Lusa no sentido de encontrar uma solução.
“Não existe boicote, foi uma decisão de gestão dado o incumprimento contratual e a ausência de resposta, face aos vários pedidos de reunião e recuperação da dívida que tínhamos feito”, afirmou Joaquim Carreira à Lusa.
Por seu lado, no comunicado, a dona do Diário de Notícias indica vários dados financeiros, que considera necessários “em nome da transparência e para dar contexto à situação atual”.
Refere que o Grupo Global Media comprou 23,36% do capital da Lusa em 2013 por 1,426 milhões de euros e que vendeu a mesma percentagem este ano por 1,276 milhões de euros. Quanto à dívida, revela que a dívida acumulada era em janeiro de 2024 (na vigência da anterior administração da Global Media) de 905 mil euros e que então “em nenhum momento foi o serviço suspenso ou sequer posto em causa”.
A Global Media diz ainda que renegociou o contrato com a Lusa em setembro e que então foram alterados os prazos de pagamento de 90 para 30 dias e que estão “estão neste momento em dívida três meses de atividade (num total de 27.297 euros), a ser pago no decorrer das normais operações contabilísticas em função do acerto dos prazos”.
Segundo o grupo de comunicação social, “outros títulos terão dívidas correntes à agência Lusa, mas só o DN foi boicotado”, o que considera um “claro ataque à informação livre e incómoda que o título continua a produzir, graças à excelente equipa de jornalistas que possui”.
No final, o grupo volta a considerar que “sofrer este ataque ao fim da tarde de uma sexta-feira, numa altura em que a equipa acionista e a administração estão empenhadas em salvar o título histórico que se presta a cumprir 160 anos de vida, é revelador sobre a forma como a informação livre é vista neste país”.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Lusa, com o negócio em que o Estado adquiriu as participações da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa (por 2,49 milhões de euros, em final de julho) a dívida anteriormente acumulada pelo grupo Global Media ficou limpa.
O que se passou entretanto, explicou, é que “não foi paga nenhuma fatura desde agosto”. “O que se passa é que não foi paga nenhuma fatura desde agosto. Agosto, setembro e outubro estão vencidas. O que veio a prejudicar ainda mais a situação é que tentámos várias vezes o contacto com a administração, chamando a atenção para o agravamento da situação, e não tem havido feedback“, disse.
Sobre outros títulos que também têm dívidas à Lusa, e que não têm serviço cortado, Joaquim Carreira disse que “a grande diferença é que os outros títulos têm valores em dívida mas pagaram alguma coisa”. “O que está em causa é uma situação extrema de uma empresa que não fez qualquer liquidação de faturas”, vincou.
Já quanto ao facto de a Lusa não ter cortado o serviço à Global Media quando a dívida acumulada era superior (905 mil euros em janeiro de 2024, segundo o comunicado da Global Media), o gestor disse que então foi equacionada essa possibilidade, mas não foi tomada a decisão porque estava em cima da mesa o negócio de o Estado comprar as participações da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa e tal decisão podia ser um obstáculo.
“Não houve suspensão, porque havia um negócio de maior importância que estava para ser realizado”, disse.
O Estado português detém atualmente 95,86% do capital da Lusa, depois de, em 31 de julho, ter comprado os 45,71% da participação da Global Media e da Páginas Civilizadas na agência de notícias.
Em novembro, no Parlamento, o ministro dos Assuntos Parlamentares disse que o Governo já fez uma proposta para adquirir o restante do capital social da Lusa que ainda não detém, por um valor correspondente à avaliação da agência no âmbito das outras aquisições, e que está a aguardar.
“O Estado não está disponível para regatear ou negociar, é um valor que foi encontrado e daí não sairemos”, afirmou Pedro Duarte. O ministro já tinha apontado, no início de outubro, o desejo do Governo de “clarificar a estrutura acionista [da Lusa]”.
Os acionistas minoritários da Lusa não a NP – Notícias de Portugal (2,72%), o Público (1,38%), a RTP (0,03%) e a Empresa do Diário do Minho, Lda., cada um 0,01%.
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