“Há uma concentração absurda de poder nas mãos da distribuição”, afirma CEO da Media Capital
O CEO da Media Capital aponta baterias às operadoras de telecomunicações e também à Microsoft, dona da Open AI.
“O que se está a passar no audiovisual é uma concentração absurda de poder nas mãos da distribuição. Em Portugal, não podia ser mais bem representada do que a situação que vivemos hoje em dia na SportTV. 97 a 98% da distribuição da televisão em Portugal está no capital da SportTV, que tem vindo a acumular direitos que tradicionalmente eram distribuídos através da televisão aberta”. A afirmação é de Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital, que na conferência “A Sustentabilidade dos media em Portugal”, organizada pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que está a decorrer esta terça-feira, na Assembleia da República, aponta baterias às operadoras de telecomunicações e também à Microsoft, dona da Open AI.
Em relação ao futebol, com o campeonato nacional transmitido há mais de uma década na SportTV, Morais Leitão afirma que a compra dos direitos televisivos dos jogos em casa do Moreirense, há duas semanas, “é um pequeno contributo” para “quebrar essa situação absurda que foi criada há dez anos”. “Temos a esperança de que a sociedade se aperceba de que por muito que seja bom pagar generosamente aos clubes de futebol através da SportTV, não faz sentido concentramos todos os direitos do principal campeonato desportivo português num único canal de fechado”, afirma o responsável.
O CEO da Media Capital defende ainda que os novos canais que têm aparecido no cabo, como o V+, SIC Novelas e o Now, são todos muito condicionados pela situação da distribuição. “Não decidimos lançar um novo produto com a expectativa de criarmos maior relação com o utilizador final e maior possibilidade de gerar receitas através do utilizador final. Fazemo-lo em grande medida porque acreditamos que a partir daí gerarmos mais receitas para o nosso negócio através do negócio da distribuição e isso não é bom”.
Pedro Morais Leitão diz que “não é bom que sejam outras entidades a decidir qual a posição na grelha em que fica cada um dos nossos canais e não é bom que sejam eles a determinar qual o valor que cada canal vai receber”. Em suma, “nada disso é bom e creio que nem é bom para os próprios distribuidores, que querem controlar todo o sistema mas, na prática, não é bom para eles que o façam“, reforça.
A Microsoft, dona da Open AI, criadora do ChatGPT, foi também criticada pelo responsável do grupo. “É chocante o que se passa com a Microsoft em Portugal”, atira. “Está há 30 anos em Portugal, tem relações comerciais com qualquer dos grupos de comunicação social, cobra licenças de software de valor de centenas de milhares de euros todos os anos para cada um destes grupos e recusa-se a reconhecer a obrigação de pagar qualquer coisa pelos direitos de autor que as suas plataformas estão a abusar diariamente“, acusa
“A Open Ia percorre os nossos sites todos os dias, recolhe informação dos nossos sites, para depois produzir peças que estão a valorizar permanentemente a Open AI e a sua plataforma”, descreve o responsável. “É chocante e exigiria intervenção regulatória imediata”, afirma na conferência da ERC.
Nicolau Santos concorda que há “efetivamente um problema com distribuidores” e defendeu uma ação concertada a nível europeu para enfrentar as grandes plataformas tecnológicas. “Não é que acredite muito nisso, porque até agora os passos têm sido muito pequenos e os resultados não se têm mostrado significativos. Mas, país a país, não será possível“, apontou o presidente da RTP.
Também Francisco Pedro Balsemão, que começou a sua intervenção dizendo que mais do que falar em sustentabilidade do setor o foco devia estar no crescimento, concordou com a distribuição é um fator para os media. “Este negócio está sequestrado pela distribuição. No audiovisual, no digital e no papel“, resumiu o CEO da Impresa.
(artigo atualizado às 14h15)
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