O inquérito que nos faz falta 🤬
O inquérito de satisfação é uma das maiores pragas do mundo moderno e um poderoso elemento para destruir a relação de um humano normal com uma empresa.
Recorri a uma plataforma de IA, como todos os adolescentes e jovens em idade escolar fazem, para obter informações relevantes sobre CRM. Eis parte do resultado:
“A satisfação do cliente é um dos principais indicadores de sucesso para qualquer negócio. Um cliente satisfeito é mais propenso a retornar, fazer compras adicionais e recomendar a empresa para outras pessoas. O CRM desempenha um papel crucial nesse processo, pois permite que as empresas compreendam melhor as necessidades e preferências dos clientes.”
A “satisfação do cliente” é mensurável, desde logo pela análise da evolução das vendas, da manutenção de contratos e de outros métodos de avaliação qualitativos, como por exemplo os “inquéritos de satisfação”.
O inquérito de satisfação é uma das maiores pragas do mundo moderno e um poderoso elemento para destruir a relação de um humano normal com uma empresa. Escolho uns sapatos e pimba: inquérito. Faço análises clínicas (no mesmo laboratório há milhares de anos) saio para a rua, ainda a pôr a mão na veia para segurar o sangue que escorre, e passados uns poucos segundos recebo (mais) um inquérito. “Foram simpáticos? Voltava de novo? Recomendava a um amigo?”
– Bloody hell.
As perguntas são estúpidas e a um amigo não se recomenda, em primeiro lugar, sítio com questões tolas, SMS intrusivos e alguma dificuldade em parar com essas mensagens. E, sim, os valores do colesterol e dos triglicéridos continuam acima das recomendações da indústria, pelo que não posso estar feliz, apesar das estatinas e outras drogas.
***
Outra praga moderna são os “e-mails não solicitados”. Passo por um website ou aplicação de marcação de hotéis e um dia depois tenho na caixa de correio as mais extraordinárias propostas de férias de sempre. Na verdade, este tipo de e-mail muitas vezes foi autorizado por mim, embora não soubesse o que estava a fazer e nem percebesse as suas implicações tenebrosas.
A minha dificuldade em gerir cookies é antiga, vem do tempo das bolachas de manteiga que se faziam nas noites de estudo ou de insónia, mas agora, estas, não apetecem e levam-nos a imaginar que o Grande Irmão está dentro do nosso computador (Grande Irmão, como é óbvio, é um conceito que nada tem a ver com maçonaria).
Uma das melhores formas de eliminarmos e-mails que não queremos é cancelar a subscrição (que nós não subscrevemos). O problema é que em alguns websites somos obrigados a uma espécie de inquérito de satisfação para podermos cancelar.
Quer ir embora? Não vá, pense bem.
Mas, afinal, porque quer sair? Tem a certeza? Olhe que vai perder acesso a uns excelentes códigos de desconto, sim digite 4ALL e ganhe €5 numa próxima compra. Vai arrepender-se.
– Não vou, não.
E não saímos disto.
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Há uma terceira praga moderna que me incomoda e revolta (gosto desta palavra). Pedir uma fatura em muitas lojas online é muito — muito — difícil. Se mercearias grandes como o triste “e-dreams” dificultam as coisas, não me surpreende: são estrangeiros, não respeitam a nossa cultura, querem os nossos empregos (momento Chega do dia, logo não levem totalmente a sério). Agora, a nossa empresa de bandeira, a famosa TAP, aquela que quer saber tudo sobre nós (até se transportamos bombas), não mostra qualquer interesse em conhecer o nosso número de contribuinte e ainda menos que se peça fatura. Uma empresa pública devia dar o exemplo, como todos estamos fartos de saber.
Sugiro aos senhores da TAP a leitura do Código do IVA, artigo 29º, alínea b). E sugiro também que tentem comprar uma viagem online no seu próprio website (pronto, simulem a compra), e a seguir peçam fatura.
Pois, a fatura não chegou, quase nunca chega. E se não chegar, contacte o serviço de apoio.
Há sempre um serviço de apoio ao cliente. Qual o número? Não aparece em lado nenhum. Ah, e a fila de espera? Pode ser grande. Sim, 35 minutos. E depois, no fim de uma conversa com uma jovem com sotaque indistinto, imaginem quem aparece do nada: um inquérito de opinião.
Bom Natal.
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